Greve dos taxistas em Luanda deixa para trás rasto de caos

Greve dos taxistas em Luanda deixa para trás rasto de caos


“Fizeram atos de arruaça, barricada, intimidaram os transeuntes, depois começaram a jogar combustível e a intimidar alguns jornalistas, e em função disso procedemos à detenção desses indivíduos, que vão ser presentes ao Ministério Público”, referiu porta-voz das autoridades policiais de Luanda.


Pelo menos 17 pessoas foram esta segunda-feira detidas em Luanda por estarem, alegadamente, envolvidas em atos de vandalismo no distrito urbano de Benfica, na sequência de uma greve de taxistas. A informação foi avançada por Nestor Goubel, porta-voz das autoridades policiais da capital angolana.

Ao final da manhã desta segunda-feira, o responsável adiantou à agência Lusa que a situação já estava controlada e que a circulação rodoviária, que se encontrava impedida naquela zona, já tinha sido retomada. 

Contudo, uma fonte indicou ao Nascer do SOL que “está tudo paralisado” e que muita gente não conseguiu chegar a Luanda porque os táxis não estão a funcionar e porque “a própria polícia está a fechar os acessos em Cacuaco e Benfica”.

Sabe-se ainda que a paralisação, convocada pela Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), pela Associação dos Taxistas de Angola e pela Associação dos Taxistas de Luanda, está a ser marcada por atos de vandalismo e de denúncias de “tentativas de linchamento” de jornalistas que cobriam os desacatos.

Em declarações à agência Lusa, o jornalista da TV Zimbro Telmo Gama explicou que foi atacado na manhã desta segunda-feira, quando se encontrava com um colega, repórter de imagem, para acompanhar os tumultos na representação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder.

“Quando nos aproximámos do local para filmar, alguns indivíduos tentaram retirar-nos à força, mas um outro grupo solidarizou-se e tentou escoltar-nos até à esquadra”, contou o jornalista. “Nesse momento, apercebi-me de que algumas gotas do líquido que me tinham atingido, e que pensei que eram de água, eram combustível e tentei sair imediatamente do local”, acrescentou.

O jornalista referiu ainda que não conseguiu identificar mas, de acordo com a informação que lhe foi confirmada pela polícia, não são taxistas. “Presume-se um aproveitamento da situação para praticar atos de vandalismo e destruição de bens públicos”, salientou, dizendo que “as pessoas estavam com os nervos à flor da pele”.

Quando a a equipa da TV Zimbo se deslocou até à esquadra encontrou colegas da Palanca TV que também tinham sido atacados. Um dos jornalistas que integrava a equipa de quatro profissionais do canal angolano descreveu ao Correio da Kianda que foram “verbal e fisicamente agredidos e quase queimados”, acrescentando que terá sido graças à intervenção policial que o pior não aconteceu.

De acordo com Nestor Goubel, há ainda a registar a queima de um autocarro e a vandalização do edifício do MPLA, em Benfica: "Fizeram atos de arruaça, barricada, intimidaram os transeuntes, depois começaram a jogar combustível e a intimidar alguns jornalistas e, em função disso, procedemos à detenção desses indivíduos, que vão ser presentes ao Ministério Público".

Já o secretário provincial do MPLA em Luanda, Bento Bento, afirma que a vandalização da infra-estrutura do partido em Benfica foi uma ação premeditada. “O que é que uma greve de taxistas tem a ver com as instalações políticas? Trata-se de um plano inteligentemente elaborado. Aliás, desde algum tempo temos vindo a denunciar que há intenções de indivíduos que pretendiam atacar comités do MPLA e hoje está aí a prova”, disse à imprensa.

Só na capital angolana há cerca de 33 mil taxistas.