O povo enganado e as suas pequenas alegrias


Face a uma Justiça excessivamente garantista, lenta, inoperante e que favorece os ricos, o sentimento popular de revolta vai ganhando força.


Não é novidade que vivemos hoje o tempo da informação-espetáculo. Mais emocionante do que qualquer episódio do CSI ou da Guerra dos Tronos são as imagens reais de um atentado sangrento, de uma multidão a tentar apanhar o último avião militar americano no aeroporto de Cabul ou da detenção de um banqueiro fugido à justiça. Gostemos mais ou menos desse traço humano, temos uma curiosidade natural por dramas e tragédias.

No caso de João Rendeiro, a essa cursidade juntou-se uma satisfação interior do português comum por ver alguém que prejudicou muita gente a cair em desgraça. Não será de modo algum o mais nobre dos sentimentos – pelo contrário – mas é perfeitamente compreensível. Todos temos a sensação de que estas figuras gozam de uma vida privilegiada, ganham e gastam milhões, têm iates fabulosos, vivendas milionárias, contas na Suíça… e depois, quando a coisa dá para o torto, quem tem de pagar a fatura dos desmandos é o Zé Povinho. Pior: muitas vezes, enquanto os contribuintes se sacrificam para tapar os buracos de milhões deixados por negociatas e falcatruas, os prevaricadores continuam como se nada fosse. Veja-se o caso das férias de Ricardo Salgado na Sardenha, ou da vida de Nuno Vasconcellos no Brasil, depois de ter deixado cá uma dívida de centenas de milhões.

Face a uma Justiça excessivamente garantista, lenta, inoperante e que favorece os ricos, o sentimento popular de revolta vai ganhando força. E por isso, quando a informação-espetáculo nos brinda com imagens de um antigo primeiro-ministro a viajar a bordo de um carro policial, ou de um antigo banqueiro fugido da justiça a ser surpreendido de pijama, o povo rejubila. Sente-se de algum modo redimido de anos e anos a ser enganado, desprezado e escarnecido pela suposta elite.

Não é, repito, o mais nobre dos sentimentos humanos. Mas é uma reação natural a um sistema judicial que penaliza os pequenos delatores e oferece demasiadas hipóteses de fuga aos mais favorecidos.

O povo enganado e as suas pequenas alegrias


Face a uma Justiça excessivamente garantista, lenta, inoperante e que favorece os ricos, o sentimento popular de revolta vai ganhando força.


Não é novidade que vivemos hoje o tempo da informação-espetáculo. Mais emocionante do que qualquer episódio do CSI ou da Guerra dos Tronos são as imagens reais de um atentado sangrento, de uma multidão a tentar apanhar o último avião militar americano no aeroporto de Cabul ou da detenção de um banqueiro fugido à justiça. Gostemos mais ou menos desse traço humano, temos uma curiosidade natural por dramas e tragédias.

No caso de João Rendeiro, a essa cursidade juntou-se uma satisfação interior do português comum por ver alguém que prejudicou muita gente a cair em desgraça. Não será de modo algum o mais nobre dos sentimentos – pelo contrário – mas é perfeitamente compreensível. Todos temos a sensação de que estas figuras gozam de uma vida privilegiada, ganham e gastam milhões, têm iates fabulosos, vivendas milionárias, contas na Suíça… e depois, quando a coisa dá para o torto, quem tem de pagar a fatura dos desmandos é o Zé Povinho. Pior: muitas vezes, enquanto os contribuintes se sacrificam para tapar os buracos de milhões deixados por negociatas e falcatruas, os prevaricadores continuam como se nada fosse. Veja-se o caso das férias de Ricardo Salgado na Sardenha, ou da vida de Nuno Vasconcellos no Brasil, depois de ter deixado cá uma dívida de centenas de milhões.

Face a uma Justiça excessivamente garantista, lenta, inoperante e que favorece os ricos, o sentimento popular de revolta vai ganhando força. E por isso, quando a informação-espetáculo nos brinda com imagens de um antigo primeiro-ministro a viajar a bordo de um carro policial, ou de um antigo banqueiro fugido da justiça a ser surpreendido de pijama, o povo rejubila. Sente-se de algum modo redimido de anos e anos a ser enganado, desprezado e escarnecido pela suposta elite.

Não é, repito, o mais nobre dos sentimentos humanos. Mas é uma reação natural a um sistema judicial que penaliza os pequenos delatores e oferece demasiadas hipóteses de fuga aos mais favorecidos.