Grécia. Milhares de polícias no desfiles que assinalam revolta estudantil

Grécia. Milhares de polícias no desfiles que assinalam revolta estudantil


Dezenas de milhares de gregos deverão participar nos desfiles que recordam os acontecimentos do 17 de novembro de 1973, manifestações autorizadas este ano pelo Governo com algumas restrições e quando mais de metade do país está vacinado contra a doença Covid-19.


Milhares de polícias foram mobilizados na manhã de hoje em Atenas e nas principais cidades gregas numa antecipação das tradicionais manifestações anuais que assinalam a revolta estudantil de 1973 contra a ditadura militar apoiada pelos Estados Unidos.

Dezenas de milhares de gregos deverão participar nos desfiles que recordam os acontecimentos do 17 de novembro de 1973, manifestações autorizadas este ano pelo Governo com algumas restrições e quando mais de metade do país está vacinado contra a doença Covid-19.

O primeiro-ministro conservador, Kyriakos Mitsotakis, apelou em comunicado para que "este grande aniversário seja celebrado (…) sem comportamentos extremos".

Em 2020, o Governo da Nova Democracia (ND, direita) tentou impedir as manifestações quando o país permanecia confinado durante a segunda vaga da pandemia, e antes da disponibilização da vacina.

No entanto, centenas de ativistas desafiaram a proibição em Atenas, com a polícia a utilizar granadas de gás lacrimogéneo, granadas atordoantes e canhões de água para os dispersar.

Na perspetiva de mais uma celebração do 17 de novembro, que hoje assinala o 48.º aniversário do levantamento dos estudantes do Instituto Politécnico de Atenas, a polícia posicionou em zonas estratégicas da capital grega unidades antimotim, 'drones' (aparelhos aéreos controlados remotamente), helicópteros e canhões de água.

As concentrações anuais associadas a esta efeméride terminam geralmente em confrontos.

Nos últimos meses, a tensão tem vindo a aumentar na sequência de uma lei que proíbe manifestações em ruas parcialmente abertas à circulação, mas que tem sido ignorada e motivado uma musculada atuação policial, com o uso de gás lacrimogéneo e canhões de água.

Os gregos assinalam tradicionalmente, e com grandes manifestações, a revolta estudantil de 1973, marcada por um balanço de pelo menos 24 mortos quando a "junta dos coronéis", no poder desde 1967, enviou o exército e a polícia para forçar os portões do Politécnico, ocupado pelos estudantes.

No entanto, o número total de vítimas dos disparos das forças policiais e militares ainda permanece motivo de debate.

Esta brutal repressão motivou fortes reações na Europa, com o levantamento do 17 de novembro a ser considerado o rastilho que conduziu alguns meses mais tarde (julho de 1974) à queda da ditadura militar e ao regresso da democracia parlamentar à Grécia.

Uma bandeira grega com vestígios de sangue e recolhida nessa noite de 1973 nas grades do Politécnico, derrubadas por um tanque do exército, é simbolicamente transportada anualmente à cabeça da manifestação em Atenas.

As dezenas de milhares de manifestantes, na maioria de esquerda, têm geralmente desfilado na capital grega em direção à embaixada dos Estados Unidos, para denunciar o apoio que Washington então concedia à junta militar, em pleno período de Guerra Fria.