Houston, we have a lot of problems!


O assassinato a sangue frio da solução governativa dos últimos anos, pelos seus participantes, e a convocação de novas eleições, vão voltar a evidenciar o desfasamento de tempo entre a escolha dos portugueses e o pleno funcionamento de um novo Governo.  


A aceleração dos ritmos das sociedades atuais coloca um problema relevante à organização dos Estados, das comunidades e dos indivíduos, que importa ter presente quando estamos a tratar de fazer escolhas sobre o que queremos para o futuro. Apesar da burocracia e dos obstáculos existentes, as dinâmicas das comunidades são superiores aos ritmos das instituições, no tempo e no espaço. Este desfasamento aliado à segmentação crescente das realidades, individuais e comunitárias, é geradora de problemas estruturais, de sentimentos de injustiça e de espaço para medrarem movimentos e soluções políticas divergentes da afirmação democrática, onde devem coexistir divergência, tolerância, participação e compromisso. Todos somos parte de uma comunidade de destinos, com direitos e deveres, com diferença e compromisso, mas por mais evidente que seja o desfasamento entre as dinâmicas e os tempos das instituições e os quotidianos, tardam em existirem alterações que ajustem às realidades.

O assassinato a sangue frio da solução governativa dos últimos anos, pelos seus participantes, e a convocação de novas eleições legislativas, vão voltar a evidenciar o desfasamento de tempo entre a escolha dos portugueses e o pleno funcionamento de um novo Governo. Não há problema maior quando o Estado e as instituições estão preparadas para funcionar com um sentido de interesse comum e um ritmo suficiente para assegurar as dinâmicas da sociedade, como acontece na Alemanha, mas em Portugal é uma tragédia. Tudo estagna ou finge que está a andar, mas há uma suspensão mental e física difusa à espera de quem vem a seguir, porque, manda a má tradição, tudo pode mudar, em função dos novos humores políticos, sem cuidar de mínimos de previsibilidade.

Este é um problema estrutural evidenciado pelas soluções esporádicas que os Governos arranjam para responder ao problema. Não resolvem o problema geral, respondem de forma parcial. As Lojas do Cidadãos, tal como os Espaços do Cidadãos, ou os programas SIMPLEX são respostas dedicadas destinadas a responder à sintonia de ritmos que se impõe, num Estado que tem de ser eficaz a corrigir as distorções, as injustiças e as necessidades, até a ditar as regras da salvaguarda dos mínimos, mas não tem de estar em tudo e em todo o lado. Tem de fazer bem as funções de soberania, do Estado Social e ser ágil para responder às necessidades gerais, do bem comum, que se imponham pelas dinâmicas da sociedade e da nossa integração nos contextos internacionais. Não tem de ser árbitro e jogador em simultâneo nem pactuar perigosas nebulosas entre política e negócio, que estão presentes em todas as áreas político-partidárias.

O problema do desfasamento dos ritmos é que só pode ser resolvido com vontade reformista de colocar o cidadão no centro das opções, não uns em particular, mas numa visão integrada. O que aconteceu nos últimos anos, da estocada geringonça, é que por via das necessidades de sobrevivência política agrilhetada aos parceiros BE, PCP, PAN e afins, o foco real esteve nos nichos eleitoral e não no geral, embora a ilusão da narrativa fosse de que era para todos e com tudo. Mesmo as narrativas são limitadas e os recursos são finitos, o que torna, ou deveria tornar, mais exigente o exercício de decidir em função do bem comum.

Não é de esperar que a carpideira acusatória à esquerda em torno do fim da geringonça e a desordem democrática à direita pelo vislumbre de poder resultem em soluções de superação dos desfasamentos de ritmos que penalizam os cidadãos e sustentam o nosso atraso em relação a outros, mas a voz e o voto do Povo podem indicar caminhos. Senão, haverá sempre a realidade. Aquela que faz com que os amorfos e os fervorosos adeptos da defunta solução governativa procurem agora demarcar-se dela, enquanto verbalizam divergências na praça pública, com papões de antigamente: a maioria absoluta, o bloco central ou o PS aprisionado pelos interesses económicos.

A mansidão política do PS perante os antigos parceiros escolhidos por António Costa já permitiu que parte substancial do eleitorado lhe impute responsabilidades pelo chumbo do Orçamento, o que é lesivo dos seus interesses eleitorais. Persistir nessa atitude perante a escala discursiva de comunistas e bloquistas é colocar o partido como saco de pancada à esquerda e, depois de reorganizada, à direita. Não seria preocupante se houvesse uma liderança e um programa político moderado, com visão estratégica para o país, reformista, comprometido com uma visão integrada das realidades muito diferenciadas, capazes de gerar esperança em vez de ser o mal menor para mais uma gestão de turno. A opção não pode ser entre o saco de pancada, o saco de gatos ou o salve-se quem puder dos ex-parceiros de geringonça, devia de ser mais do que isto. Até lá, vamos ter que ouvir o PCP brandir o temor do bloco central quando os comunistas foram centrais no derrube de dois governos do PS e, por agora, na abertura da porta do poder à direita além da troika. E conviver com o Bloco a falar de captura do PS por interesses quando tem similar cadastro no acesso da direita ao poder das privatizações ao desbarato e foi conivente com o que se passou nos últimos anos, colocando todo o foco no BES e a indiferença no resto.

Enquanto os responsáveis pelos desfasamentos de ritmos entre o Estado e a sociedade não se sintonizarem, viverem enleados nos seus desfasamentos ideológicos e da realidade será difícil acertar o passo, mas, o Povo é quem mais ordena, pelo menos, pelo voto. 

NOTAS FINAIS

MANSIDÃO POLÍTICA. A ligeireza da extinção do SEF, promulgada pelo Presidente da República, contrasta com a emergência de vozes a destempo a sublinhar os problemas de resposta que estão a surgir. Sem norte, ora se concentram, ora se desmultiplicam e duplicam estruturas no Estado. É mais um erro trágico para as dinâmicas e a segurança do país.

MANSIDÃO NA VACINAÇÃO. O inverno à porta, a evolução dos surtos na Europa a leste e a pandemia no Mundo por resolver aconselhavam a um nível de mobilização e eficácia na vacinação da 3ª dose e da vacina da gripe. Não é o que está a acontecer, mas devia e não deve ser uma farda a mãe de todas as soluções. 

MANSIDÃO ECONÓMICA. Há um alerta de tsunami nos preços ao consumidor, mas parece que estamos todos alegremente a ver a onda chegar, depois de vermos os preços das matérias primas e os problemas das cadeias de distribuição. Este pode ser um enorme fator de desgaste do poder a 30 de janeiro. Porventura, não será percetível nas sondagens, mas pode ter expressão nos resultados. Tipo Lisboa.

Escreve à segunda-feira  

Houston, we have a lot of problems!


O assassinato a sangue frio da solução governativa dos últimos anos, pelos seus participantes, e a convocação de novas eleições, vão voltar a evidenciar o desfasamento de tempo entre a escolha dos portugueses e o pleno funcionamento de um novo Governo.  


A aceleração dos ritmos das sociedades atuais coloca um problema relevante à organização dos Estados, das comunidades e dos indivíduos, que importa ter presente quando estamos a tratar de fazer escolhas sobre o que queremos para o futuro. Apesar da burocracia e dos obstáculos existentes, as dinâmicas das comunidades são superiores aos ritmos das instituições, no tempo e no espaço. Este desfasamento aliado à segmentação crescente das realidades, individuais e comunitárias, é geradora de problemas estruturais, de sentimentos de injustiça e de espaço para medrarem movimentos e soluções políticas divergentes da afirmação democrática, onde devem coexistir divergência, tolerância, participação e compromisso. Todos somos parte de uma comunidade de destinos, com direitos e deveres, com diferença e compromisso, mas por mais evidente que seja o desfasamento entre as dinâmicas e os tempos das instituições e os quotidianos, tardam em existirem alterações que ajustem às realidades.

O assassinato a sangue frio da solução governativa dos últimos anos, pelos seus participantes, e a convocação de novas eleições legislativas, vão voltar a evidenciar o desfasamento de tempo entre a escolha dos portugueses e o pleno funcionamento de um novo Governo. Não há problema maior quando o Estado e as instituições estão preparadas para funcionar com um sentido de interesse comum e um ritmo suficiente para assegurar as dinâmicas da sociedade, como acontece na Alemanha, mas em Portugal é uma tragédia. Tudo estagna ou finge que está a andar, mas há uma suspensão mental e física difusa à espera de quem vem a seguir, porque, manda a má tradição, tudo pode mudar, em função dos novos humores políticos, sem cuidar de mínimos de previsibilidade.

Este é um problema estrutural evidenciado pelas soluções esporádicas que os Governos arranjam para responder ao problema. Não resolvem o problema geral, respondem de forma parcial. As Lojas do Cidadãos, tal como os Espaços do Cidadãos, ou os programas SIMPLEX são respostas dedicadas destinadas a responder à sintonia de ritmos que se impõe, num Estado que tem de ser eficaz a corrigir as distorções, as injustiças e as necessidades, até a ditar as regras da salvaguarda dos mínimos, mas não tem de estar em tudo e em todo o lado. Tem de fazer bem as funções de soberania, do Estado Social e ser ágil para responder às necessidades gerais, do bem comum, que se imponham pelas dinâmicas da sociedade e da nossa integração nos contextos internacionais. Não tem de ser árbitro e jogador em simultâneo nem pactuar perigosas nebulosas entre política e negócio, que estão presentes em todas as áreas político-partidárias.

O problema do desfasamento dos ritmos é que só pode ser resolvido com vontade reformista de colocar o cidadão no centro das opções, não uns em particular, mas numa visão integrada. O que aconteceu nos últimos anos, da estocada geringonça, é que por via das necessidades de sobrevivência política agrilhetada aos parceiros BE, PCP, PAN e afins, o foco real esteve nos nichos eleitoral e não no geral, embora a ilusão da narrativa fosse de que era para todos e com tudo. Mesmo as narrativas são limitadas e os recursos são finitos, o que torna, ou deveria tornar, mais exigente o exercício de decidir em função do bem comum.

Não é de esperar que a carpideira acusatória à esquerda em torno do fim da geringonça e a desordem democrática à direita pelo vislumbre de poder resultem em soluções de superação dos desfasamentos de ritmos que penalizam os cidadãos e sustentam o nosso atraso em relação a outros, mas a voz e o voto do Povo podem indicar caminhos. Senão, haverá sempre a realidade. Aquela que faz com que os amorfos e os fervorosos adeptos da defunta solução governativa procurem agora demarcar-se dela, enquanto verbalizam divergências na praça pública, com papões de antigamente: a maioria absoluta, o bloco central ou o PS aprisionado pelos interesses económicos.

A mansidão política do PS perante os antigos parceiros escolhidos por António Costa já permitiu que parte substancial do eleitorado lhe impute responsabilidades pelo chumbo do Orçamento, o que é lesivo dos seus interesses eleitorais. Persistir nessa atitude perante a escala discursiva de comunistas e bloquistas é colocar o partido como saco de pancada à esquerda e, depois de reorganizada, à direita. Não seria preocupante se houvesse uma liderança e um programa político moderado, com visão estratégica para o país, reformista, comprometido com uma visão integrada das realidades muito diferenciadas, capazes de gerar esperança em vez de ser o mal menor para mais uma gestão de turno. A opção não pode ser entre o saco de pancada, o saco de gatos ou o salve-se quem puder dos ex-parceiros de geringonça, devia de ser mais do que isto. Até lá, vamos ter que ouvir o PCP brandir o temor do bloco central quando os comunistas foram centrais no derrube de dois governos do PS e, por agora, na abertura da porta do poder à direita além da troika. E conviver com o Bloco a falar de captura do PS por interesses quando tem similar cadastro no acesso da direita ao poder das privatizações ao desbarato e foi conivente com o que se passou nos últimos anos, colocando todo o foco no BES e a indiferença no resto.

Enquanto os responsáveis pelos desfasamentos de ritmos entre o Estado e a sociedade não se sintonizarem, viverem enleados nos seus desfasamentos ideológicos e da realidade será difícil acertar o passo, mas, o Povo é quem mais ordena, pelo menos, pelo voto. 

NOTAS FINAIS

MANSIDÃO POLÍTICA. A ligeireza da extinção do SEF, promulgada pelo Presidente da República, contrasta com a emergência de vozes a destempo a sublinhar os problemas de resposta que estão a surgir. Sem norte, ora se concentram, ora se desmultiplicam e duplicam estruturas no Estado. É mais um erro trágico para as dinâmicas e a segurança do país.

MANSIDÃO NA VACINAÇÃO. O inverno à porta, a evolução dos surtos na Europa a leste e a pandemia no Mundo por resolver aconselhavam a um nível de mobilização e eficácia na vacinação da 3ª dose e da vacina da gripe. Não é o que está a acontecer, mas devia e não deve ser uma farda a mãe de todas as soluções. 

MANSIDÃO ECONÓMICA. Há um alerta de tsunami nos preços ao consumidor, mas parece que estamos todos alegremente a ver a onda chegar, depois de vermos os preços das matérias primas e os problemas das cadeias de distribuição. Este pode ser um enorme fator de desgaste do poder a 30 de janeiro. Porventura, não será percetível nas sondagens, mas pode ter expressão nos resultados. Tipo Lisboa.

Escreve à segunda-feira