Presidente do Irão diz que ataque informático pretendia causar desordem

Presidente do Irão diz que ataque informático pretendia causar desordem


Ebrahim Raisi referiu-se pela primeira vez ao ataque informático de terça-feira, mas não fez acusações de responsabilidade específicas sobre o incidente.


O Presidente do Irão disse hoje que o ataque informático que afetou as estações de abastecimento de combustíveis do país teve como objetivo criar descontentamento e "desordem" no país.

 

Ebrahim Raisi referiu-se pela primeira vez ao ataque informático de terça-feira, mas não fez acusações de responsabilidade específicas sobre o incidente.

Mesmo assim, o Presidente iraniano afirmou que forças "anti-iranianas" estiveram atrás do ataque informático.

"Devemos estar seriamente preparados para a guerra cibernética e não devemos permitir que o inimigo siga objetivos nefastos para criar problemas à vida das pessoas", declarou o chefe de Estado iraniano.

O último ataque informático contra o Irão não foi reivindicado.

As autoridades notaram que se verificaram semelhanças entre o incidente de terça-feira e outro ataque informático que ocorreu recentemente no país e que atingiu, nomeadamente, o funcionamento da rede de caminhos de ferro.

O ataque informático de terça-feira afetou 4.300 postos de gasolina no Irão, disseram hoje fontes oficiais, admitindo que a situação não está totalmente normalizada. 

Hoje, as autoridades citadas pela agência de notícias ofical IRNA disseram que 80% dos postos de abastecimento de combustíveis já se encontram a funcionar.

O ataque informático incidiu sobre o funcionamento normal dos cartões eletrónicos de pagamento subsidiado pelo governo destinados ao abastecimento de combustíveis.

De acordo com a agência semi-oficial ISNA, que de imediato classificou o incidente como "ataque informático", notou que as máquinas não permitiam os pagamentos e, perante o uso dos cartões eletrónicos, emitiam a mensagem "ataque informático 64411".

Inicialmente, a ISNA referiu que não se entende o significado da mensagem "64411", apesar de ter referido que o número está associado ao número da linha telefónica de atendimento público do gabinete do líder espiritual do Irão que tem como finalidade responder a questões sobre a lei islâmica.  

Mais tarde, a ISNA anulou a referência à linha de atendimento telefónica, comunicando que a própria agência de notícias também tinha sido alvo de um ataque informático e que, por isso, era alheia à informação inicial.

Ao mesmo tempo, canais de televisão em persa – no exterior do país – emitiram imagens de condutores na cidade de Isfahan com cartazes em que se lia "Khamenei! Onde é que está a nossa gasolina?"

O número "64411" também surgiu no ataque informático que afetou o sistema ferroviário do Irão no passado mês de julho.

Na altura, a empresa de cibersegurança israelita Check Point atribuiu o ataque às ações de um grupo de piratas informáticos identificado como "Indra", o nome do deus da guerra hindu.

O "Indra" já atuou da mesma forma contra empresas sírias.

Os preços baixos da gasolina no Irão são encarados pelos cidadãos como um direito adquirido, num país que, apesar de ser a quarta maior reserva de crude do mundo, vive há várias décadas afetado por sanções económicas. 

Os subsídios estatais permitem aos motoristas iranianos comprar gasolina a preços baixos. 

Em 2019, as autoridades do Irão enfrentaram uma série de protestos em mais de uma centena de cidades devido ao aumento do preço dos combustíveis.

Durante os protestos de 2019, milhares de pessoas foram presas, tendo morrido nas manifestações 304 iranianos, de acordo com informações da Amnistia Internacional.  

O ataque informático de terça-feira coincide com a data das manifestações de 2019 e com o dia de aniversário do Xá Reza Pahlavi, deposto em 1979, pouco antes da Revolução Islâmica.

Outros ataques informáticos têm atingido o país, incluindo a divulgação de imagens captadas em vídeo que mostraram, em agosto, abusos e maus-tratos na prisão de Evin.

O país endureceu o controlo sobre as infraestruturas de internet depois de o vírus informático Stuxnet ter afetado as centrais nucleares do Irão, na primeira década do século XXI.

De acordo com Teerão, o Stuxnet foi desenvolvido pelos Estados Unidos e por Israel.