Discotecas e bares estão de volta e a covid-19 parece ser coisa do passado

Discotecas e bares estão de volta e a covid-19 parece ser coisa do passado


A partir do dia 1 de outubro, deixa de ser obrigatório o uso de máscara no interior de discotecas e bares, e não há mais limitação de horários nem lotação. De Norte a Sul do país, há quem celebre já a partir da noite de hoje.


Se amanhã é o ‘dia da Libertação’ em Portugal, a noite de hoje vai já servir para aquecer os motores, e para que muitas discotecas e bares de Norte a Sul do país abram pela primeira vez em perto de ano e meio. A partir das 00h01 de sexta-feira, dia 1 de outubro, acabaram-se as restrições ao horário e à lotação, e o uso de máscara no interior destes estabelecimentos deixa de ser obrigatório, pelo menos para os clientes, assemelhando-se cada vez mais a realidade aos tempos pré-pandémicos.

As emoções estão ao rubro, apesar de ser uma quinta-feira, dia em que não são esperadas grandes enchentes, e os donos de discotecas de Norte a Sul do país mostram-se ansiosos por regressar ao trabalho, alguns já hoje, e a maioria a partir de amanhã.

No Norte, um nome indissociável da vida noturna mostra-se preparado, mas cauteloso, para esta nova fase. Mário Carvalho, o homem por trás do mítico café Lusitano, esteve à conversa com o i sobre esta grande reabertura das discotecas e bares pelo país, e mostrou-se, ainda que cauteloso, expectante. “Há muita expectativa da parte dos agentes da noite e do público no sentido de ser uma ‘loucura’ de euforia e uma grande quantidade de pessoas. Eu prefiro aguardar para ver se realmente as pessoas já se sentem seguras”, começou por explicar o empresário, que há mais de 30 anos está neste setor.

Sobre o fim das medidas de restrição imposto a partir de dia 1 de outubro, Mário Carvalho começou por referir que o controlo de lotação e o horário de encerramento controlado foram uma constante no Lusitano. “Por isso manteremos o mesmo rigor que existia na pré-pandemia”, avisou. Sobre os possíveis receios da população em regressar a locais noturnos sem máscaras nem medidas restritivas obrigatórias, o empresário preferiu desvalorizar, acreditando que “os mais jovens terão muito menos receio do que as pessoas com mais alguma idade”.

Uma opinião, aliás, que é partilhada por outras figuras do setor no país. Telmo Garcia, responsável pelo Mercado Club, em Bragança, está preparado para regressar ao ativo na noite de hoje, e acredita também que “da parte dos jovens, não existe receio algum”, uma afirmação da qual diz estar “convencido a 100%”.

O facto de ser quinta-feira, explicou, provocará que o dia de abertura seja marcado por uma faixa etária de clientes mais jovem, mas a chegada do fim de semana – e por consequência, das restantes faixas etárias – não deverá, garantiu, significar um decréscimo na confiança dos clientes. “As pessoas estão com uma expectativa enorme e uma vontade muito grande [de voltar]”, continuou Telmo Garcia, que disse acreditar que “já chega de estar fechado e preocupado”. “As pessoas vão querer esquecer isso e vão entrar sem qualquer tipo de preocupação”, concluiu o empresário.

As máscaras são um tema que surge quando se fala de receio, e Telmo Garcia não escondeu estar à espera que alguns clientes possam optar por manter o hábito, apesar de deixar de ser obrigatório. “Fica ao critério de cada um, mas não me parece que haja qualquer apreensão por parte dos clientes”, referiu ainda.

 

Reabertura no Photus

Quem se mostrou também ansioso por colocar um fim às restrições de horário e de lotação ao seu estabelecimento é Oscar Rosmano, um dos donos do Photus Club, em Lisboa, que desde agosto funciona até às duas da manhã, e que poderá agora estender o seu horário de funcionamento e colocar um fim à obrigatoriedade do uso de máscara no interior.

“Foi muito complicado para nós chegar até agosto e conseguir abrir pelo menos até às duas”, começou por explicar o empresário, antes de realçar que, hoje, o espaço já abrirá até às 4 da manhã. A lotação, essa será controlada, mas não mais do que já era previamente à pandemia, apesar de “não se esperarem grandes enchentes”, muito devido ao facto de ser quinta-feira à noite.

“Não acredito que as pessoas tenham maior receio”, continuou o empresário, antes de deixar uma reflexão sobre este assunto. “Quando vamos conduzir, não podemos andar a pensar que vamos bater com o carro, quando entramos num avião não podemos pensar que vai cair”, disse o mesmo, que, apesar de garantir que “é verdade que temos de ter cuidado, como tudo na vida”, não lhe parece que “haja algum receio nas pessoas de sair à noite”.

O Photus Club é conhecido pelas danças exóticas e pelos diferentes espetáculos de striptease. Numa altura em que as normas ainda implicam que os empregados dos bares inseridos nas diferentes discotecas continuem a usar máscara, mesmo que vacinados contra a covid-19, coloca-se a mesma questão em torno das dançarinas deste clube. Ainda assim, o tema ficou esclarecido: nesse caso, as mesmas não deverão usar o equipamento de proteção facial enquanto realizam os diferentes espetáculos dentro do estabelecimento.

 

Mercado, 17 meses depois

Em Bragança, as expectativas coincidem na esperança do regresso dos clientes aos bares e discotecas, mas, ao contrário de alguns empresários ouvidos pelo i, Telmo Garcia, do Mercado Club, diz esperar “casa cheia” nesta noite, realçando que “no que diz respeito à zona VIP, que é trabalhada através de reservas, a mesma já se encontra esgotada”.

O empresário recorda o bom negócio que se mantinha há 17 meses, quando a discoteca fechou devido à pandemia da covid-19, e confessou estar à espera “de voltar a reabrir assim, e ainda melhor”.

Em termos de medidas restritivas, o Mercado Club não levará a cabo “nada de transcendente nem de especial”. “Há que começar a esquecer isto, a conviver com esta nova realidade e trabalhar”, continuou o empresário, que disse “não querer ser mais papista que o Papa”. “Já bem bastou este tempo todo estarmos afastados da atividade, vamo-nos limitar àquilo que o Governo pede”, referindo-se à apresentação de um certificado digital covid-19 válido.

 

Receios

A reabertura das discotecas é um motivo de esperança e animação para os profissionais do setor, mas paira no ar ainda o medo de um novo fecho e de uma partida em falso. “Penso que a reabertura será para manter, porque se não for, de facto, será um golpe muito grande, e poderá arrumar com o setor”, alertou Telmo Garcia, que referiu o alto nível de vacinação contra a covid-19 no país como o principal porto seguro que manterá estes estabelecimentos abertos e a funcionar.

“Tivemos custos de reparação elevadíssimos para pôr as casas novamente a funcionar. A pouca tesouraria que tínhamos foi gasta para pôr as casas operacionais, ao encher prateleiras, fazer novos contratos de trabalho… ficamos praticamente a zeros a nível de tesouraria”, explicou o empresário, que acusou ainda o facto de “a última ajuda prometida pelo Governo no âmbito do programa APOIAR” ainda não ter chegado.

Sobre o assunto, também Mário Carvalho se pronunciou, revelando acreditar “que as vacinas são eficazes ao minimizar o contágio e os sintomas do vírus”. “Creio que poderá haver surtos pontuais mas sem necessidade de encerramento de qualquer casa de animação noturna”, continuou o empresário do Norte, que deixa para trás as críticas sobre se o Governo poderia ou não ter permitido a estes estabelecimentos abrir mais cedo. “Talvez pudesse ter sido mais cedo mas agora o importante é que o Governo dê realmente apoio em conformidade com o tempo de encerramento desta atividade afim de tornar estas empresas viáveis”, concluiu o mesmo.