Os Novos Tempos em Lisboa


Dia 26 tivemos mais uma tradicional noite de eleições autárquicas onde as grandes surpresas surgiram uma vez mais. Mas de todas as surpresas a maior foi a vitória de Carlos Moedas em Lisboa, “contra tudo e contra todos”, como o mesmo disse no seu discurso de vitória.


Carlos Moedas foi eleito Presidente com 34% dos votos, correspondente a 7 mandatos e Fernando Medina conquistou o segundo lugar com 33% dos votos e os mesmos 7 mandatos que Moedas. Já a CDU garantiu 2 mandatos e o Bloco de Esquerda 1.

Fazendo uma análise simples destes resultados Carlos Moedas terá uma situação difícil uma vez que a esquerda junta tem 10 vereadores contra os 7 da coligação Novos Tempos, o que poderá antecipar um cenário de ingovernabilidade caso a esquerda queira bloquear a governação da Câmara Municipal de Lisboa.

Perante este cenário cresce a expectativa de perceber quais são as reais capacidades negociais de Carlos Moedas que é conhecido pelo seu bom temperamento, capacidade de gerir equipas e capacidade de reunir consensos.

Carlos Moedas trouxe uma nova forma de fazer política e com a sua vitória podemos até antever uma mudança de paradigma relativamente á avaliação que os eleitores fazem dos políticos.

O estilo mais retraído, cordial, algo tímido, com algum nervosismo relativamente ao confronto, a pouca experiência em debates desestruturados (típicos de confrontos eleitorais), mas com um traço intrinsecamente sério parece ter conquistado os eleitores lisboetas.

Por outro lado, o estilo tacticista, mais frio, mais profissional, algo agressivo, por vezes altivo, com excesso de confiança e até revelador de alguma arrogância perdeu em toda a linha.

O perigo da cegueira alimentada pelo poder é o facto de se vender uma realidade que é manifestamente falsa e contrariada com resultados, neste caso, negativos. Esta eleições revelaram isso.

A perceção da realidade, construída por sondagens questionáveis e pelos comentadores de serviço, foi contrariada e Carlos Moedas foi o rosto dessa ação. Lisboa ficará com um ativo diferente de Fernando Medina uma vez que Moedas é um cosmopolita que bebeu muito do seu conhecimento e experiência nas principais capitais europeias e mundiais e isso vai favorecer a cidade.

Lisboa tem de ser uma referência mundial, em todas as suas vertentes, e os lisboetas deram a Carlos Moedas um voto de confiança para que possa cumprir essa missão.

Por outro lado, Fernando Medina foi durante muito tempo um homem na sobra de António Costa e mesmo depois de conquistar a Câmara Municipal, por mérito próprio, a sombra do atual primeiro-ministro sempre o acompanhou, prejudicando a sua autonomia.

No entanto Medina também tem os seus méritos e a sua missão enquanto Presidente teve coisas positivas para a cidade. Fernando Medina, apesar de tudo, é um ativo do Partido Socialista e pertence a uma geração política que tem ainda muito para dar ao País caso os eleitores assim o desejem.

Será profundamente ingénuo e prematuro vaticinar a sua morte política e será ainda mais ingénuo desvalorizar um homem que foi muitos anos membro de um Governo e 6 anos Presidente da maior Câmara Municipal do país.

Mas agora temos Novos Tempos e quem ditou isso foi o eleitorado que é, em todas as circunstâncias, soberano. Portanto abre-se um tempo em que veremos a capacidade de uns de gerir e consensualizar, e a responsabilidade de outros de construir ou pura e simplesmente destruir, sem qualquer respeito pela vontade dos lisboetas.

Negar a natureza conflitual da política é negar a sua essência. Mas apesar da natureza conflitual o que deve prevalecer é a capacidade de construir consensos que permitam antever um futuro mais promissor para os que votam nas mudanças.

O tacticismo cego tem transformado o paradigma da política ao longo dos tempos, pelos piores motivos, e isso tem-se revelado com o crescente afastamento dos eleitores. Estas eleições autárquicas foram mais uma prova disso com níveis de abstenção elevadíssimos. No entanto a vitória do homem menos político, menos tático e mais genuíno, como é Carlos Moedas, pode também representar uma inversão desta tendência.

Uma coisa não nos podemos esquecer. Seja o homem menos político (Carlos Moedas) ou o homem mais político (Fernando Medina), ambos lutaram por conquistar o poder que representa a Câmara Municipal de Lisboa e seja em que contexto for, o poder continua a ser tão cobiçado como sempre.

Citando o ex-primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti (1919-2013), “o poder desgasta, sobretudo quando não se tem”. Nenhum político (mais ou menos hábil) pensa de outra forma e nesta matéria Carlos Moedas ganhou a vantagem de conquistar o poder – sob reserva, por ausência de maioria – para poder construir o projecto da coligação Novos Tempos Lisboa.

As aparentes rupturas com o status quo e a apresentação clara de divergências e novos rumos, feita de forma pouco convencional, têm sempre riscos associados. Como dizia Sun Tzu, no seu clássico milenar, A Arte da Guerra, “A vitória está reservada para aqueles que estão dispostos a pagar o preço.”, e Carlos Moedas, nesta missão (que diz ser a mais importante da sua vida), estava disposto a pagar o preço final.

Neste momento, para Carlos Moedas, a experiência política e partidária que revelar a sua equipa passam a ter um peso de grande relevância na definição do futuro imediato e aqui os entendimentos – da direita à esquerda – são fundamentais.

Veremos se o futuro nos reserva um Presidente com a capacidade de criar uma plataforma de entendimento em Lisboa que permita governar a capital. Veremos por outro lado se a esquerda (tal como já está a ameaçar) se vai juntar para fazer uma frente contra Moedas e levar, eventualmente, a eleições antecipadas.

Uma coisa é certa, quem não tiver a capacidade de ler a vontade do povo pagará um preço elevado e isso os lisboetas deixaram bem claro nestas eleições.

 

Gestor e Mestre em Ciência Política


Os Novos Tempos em Lisboa


Dia 26 tivemos mais uma tradicional noite de eleições autárquicas onde as grandes surpresas surgiram uma vez mais. Mas de todas as surpresas a maior foi a vitória de Carlos Moedas em Lisboa, “contra tudo e contra todos”, como o mesmo disse no seu discurso de vitória.


Carlos Moedas foi eleito Presidente com 34% dos votos, correspondente a 7 mandatos e Fernando Medina conquistou o segundo lugar com 33% dos votos e os mesmos 7 mandatos que Moedas. Já a CDU garantiu 2 mandatos e o Bloco de Esquerda 1.

Fazendo uma análise simples destes resultados Carlos Moedas terá uma situação difícil uma vez que a esquerda junta tem 10 vereadores contra os 7 da coligação Novos Tempos, o que poderá antecipar um cenário de ingovernabilidade caso a esquerda queira bloquear a governação da Câmara Municipal de Lisboa.

Perante este cenário cresce a expectativa de perceber quais são as reais capacidades negociais de Carlos Moedas que é conhecido pelo seu bom temperamento, capacidade de gerir equipas e capacidade de reunir consensos.

Carlos Moedas trouxe uma nova forma de fazer política e com a sua vitória podemos até antever uma mudança de paradigma relativamente á avaliação que os eleitores fazem dos políticos.

O estilo mais retraído, cordial, algo tímido, com algum nervosismo relativamente ao confronto, a pouca experiência em debates desestruturados (típicos de confrontos eleitorais), mas com um traço intrinsecamente sério parece ter conquistado os eleitores lisboetas.

Por outro lado, o estilo tacticista, mais frio, mais profissional, algo agressivo, por vezes altivo, com excesso de confiança e até revelador de alguma arrogância perdeu em toda a linha.

O perigo da cegueira alimentada pelo poder é o facto de se vender uma realidade que é manifestamente falsa e contrariada com resultados, neste caso, negativos. Esta eleições revelaram isso.

A perceção da realidade, construída por sondagens questionáveis e pelos comentadores de serviço, foi contrariada e Carlos Moedas foi o rosto dessa ação. Lisboa ficará com um ativo diferente de Fernando Medina uma vez que Moedas é um cosmopolita que bebeu muito do seu conhecimento e experiência nas principais capitais europeias e mundiais e isso vai favorecer a cidade.

Lisboa tem de ser uma referência mundial, em todas as suas vertentes, e os lisboetas deram a Carlos Moedas um voto de confiança para que possa cumprir essa missão.

Por outro lado, Fernando Medina foi durante muito tempo um homem na sobra de António Costa e mesmo depois de conquistar a Câmara Municipal, por mérito próprio, a sombra do atual primeiro-ministro sempre o acompanhou, prejudicando a sua autonomia.

No entanto Medina também tem os seus méritos e a sua missão enquanto Presidente teve coisas positivas para a cidade. Fernando Medina, apesar de tudo, é um ativo do Partido Socialista e pertence a uma geração política que tem ainda muito para dar ao País caso os eleitores assim o desejem.

Será profundamente ingénuo e prematuro vaticinar a sua morte política e será ainda mais ingénuo desvalorizar um homem que foi muitos anos membro de um Governo e 6 anos Presidente da maior Câmara Municipal do país.

Mas agora temos Novos Tempos e quem ditou isso foi o eleitorado que é, em todas as circunstâncias, soberano. Portanto abre-se um tempo em que veremos a capacidade de uns de gerir e consensualizar, e a responsabilidade de outros de construir ou pura e simplesmente destruir, sem qualquer respeito pela vontade dos lisboetas.

Negar a natureza conflitual da política é negar a sua essência. Mas apesar da natureza conflitual o que deve prevalecer é a capacidade de construir consensos que permitam antever um futuro mais promissor para os que votam nas mudanças.

O tacticismo cego tem transformado o paradigma da política ao longo dos tempos, pelos piores motivos, e isso tem-se revelado com o crescente afastamento dos eleitores. Estas eleições autárquicas foram mais uma prova disso com níveis de abstenção elevadíssimos. No entanto a vitória do homem menos político, menos tático e mais genuíno, como é Carlos Moedas, pode também representar uma inversão desta tendência.

Uma coisa não nos podemos esquecer. Seja o homem menos político (Carlos Moedas) ou o homem mais político (Fernando Medina), ambos lutaram por conquistar o poder que representa a Câmara Municipal de Lisboa e seja em que contexto for, o poder continua a ser tão cobiçado como sempre.

Citando o ex-primeiro-ministro italiano Giulio Andreotti (1919-2013), “o poder desgasta, sobretudo quando não se tem”. Nenhum político (mais ou menos hábil) pensa de outra forma e nesta matéria Carlos Moedas ganhou a vantagem de conquistar o poder – sob reserva, por ausência de maioria – para poder construir o projecto da coligação Novos Tempos Lisboa.

As aparentes rupturas com o status quo e a apresentação clara de divergências e novos rumos, feita de forma pouco convencional, têm sempre riscos associados. Como dizia Sun Tzu, no seu clássico milenar, A Arte da Guerra, “A vitória está reservada para aqueles que estão dispostos a pagar o preço.”, e Carlos Moedas, nesta missão (que diz ser a mais importante da sua vida), estava disposto a pagar o preço final.

Neste momento, para Carlos Moedas, a experiência política e partidária que revelar a sua equipa passam a ter um peso de grande relevância na definição do futuro imediato e aqui os entendimentos – da direita à esquerda – são fundamentais.

Veremos se o futuro nos reserva um Presidente com a capacidade de criar uma plataforma de entendimento em Lisboa que permita governar a capital. Veremos por outro lado se a esquerda (tal como já está a ameaçar) se vai juntar para fazer uma frente contra Moedas e levar, eventualmente, a eleições antecipadas.

Uma coisa é certa, quem não tiver a capacidade de ler a vontade do povo pagará um preço elevado e isso os lisboetas deixaram bem claro nestas eleições.

 

Gestor e Mestre em Ciência Política