Pedro Nuno Santos: o ministro que salvou a Linha de Cascais


Cascais-Oeiras-Lisboa formam um dos principais eixos demográficos, económicos e turísticos do país. Concentram uma importante percentagem do PIB; atraem turistas e trabalhadores da economia do conhecimento de todo o mundo; são sede de algumas das principais empresas e universidades em solo nacional.


Os leitores que acompanham esta crónica semanal nas páginas do i, já lá vão mais de dez anos, sabem que a Linha de Cascais tem sido uma das minhas mais constantes batalhas no espaço público. Pelo menos desde 2011 que me ouvem falar da necessidade urgente da renovação da Linha de comboio. Contundente nas críticas e vocal nos objetivos, cheguei a vaticinar a morte do comboio em Cascais, num texto de 2017, perante a absoluta inaptidão e indiferença do ministro das obras públicas de então.

Não me arrependo de nada do que disse e escrevi sobre o tema em mais de uma década. Fi-lo em nome dos cascalenses que me confiaram a defesa dos seus melhores interesses. Foi uma luta longa, desesperante por vezes, recheada de avanços, de ainda mais recuos e de um sem número de promessas por cumprir.

Mais do que defender intransigentemente os interesses dos cascalenses, essa luta prendeu-se também com uma ideia de desenvolvimento mais ampla para a grande Área Metropolitana de Lisboa onde o concelho que lidero se integra.

A mobilidade é um direito constitucional – e, diga-se, um dos mais mal tratados pelos poderes públicos. Tenhamos presente que não há liberdade completa – individual ou económica – sem uma rede de transportes públicos e infraestruturas modernas, com profundidade territorial, capilaridade e comodidade para o cidadão.

Cascais-Oeiras-Lisboa formam um dos principais eixos demográficos, económicos e turísticos do país. Concentram uma importante percentagem do PIB; atraem turistas e trabalhadores da economia do conhecimento de todo o mundo; são sede de algumas das principais empresas e universidades em solo nacional.

Muito do seu potencial de crescimento, todavia, tem sido asfixiado pelo deficiente serviço de mobilidade intermunicipal. E ainda que Cascais tenha sido pioneira na evolução da mobilidade rodoviária coletiva dentro das fronteiras do concelho – com autocarros gratuitos para todos os residentes e uma nova rede estruturada e sustentável –, sempre soubemos que os problemas estavam longe de acabar por ai.

As duas grandes artérias deste sistema vascular metropolitano continuam absolutamente saturadas.

A A5 é a autoestrada mais movimentada do país, apresentando níveis de congestionamento incompatíveis com ideias de sustentabilidade ambiental, qualidade de vida individual e produtividade económica que todos desejamos para o século XXI.

A Linha de Cascais da CP, por seu turno, era um desastre à espera de acontecer. A Linha era um exemplo de falência do modelo ferroviário em Portugal: uma infraestrutura obsoleta, estações desconfortáveis, descontinuidade de serviço, carruagens com mais de 70 anos. Resultado: a perda de 20 milhões de passageiros em 20 anos. (Quando a circulação na baixa de Lisboa está interdita a carros com matrícula anterior a 2005, não deixa de ser irónico que todos os dias ainda entrem na capital comboios anteriores a 1950.)

A decadência da Linha deveu-se a décadas de desinvestimento e ao descarrilamento de todas as promessas e de todos os planos de diversos governos. Rosa ou laranja, todos tinham culpas no cartório. Ainda que nenhum ministro tivesse sido individualmente responsável pelo estado a que a linha tinha chegado, todos eram coletivamente cúmplices pela sua lenta degradação. Todos falharam aos cascalenses, oeirenses e lisboetas que têm na Linha uma solução de mobilidade para o emprego, para a universidade ou simplesmente para fazer a sua vida. Todos, menos um. Pedro Nuno Santos.

Conheci, nesta minha jornada como presidente de Câmara, três primeiros- ministros de quatro governos e cinco titulares da pasta das obras públicas e transportes. Todos fizeram promessas, lançaram grandes planos e assumiram compromissos. Uns andaram para a frente. Outros andaram para trás. Só um fez: Pedro Nuno Santos.

A Linha de Cascais tem futuro. Com os investimentos a realizar pelas Infraestruturas de Portugal na ferrovia e com a aquisição de 34 comboios novos, cujo concurso foi aprovado no último Conselho de Ministros, a voz de Cascais foi ouvida. Mais de dez anos de luta, de persistência, de resistência, não foram em vão. A Linha de Cascais foi resgatada de um destino de irrelevância e morte lenta numa coligação férrea de vontades do poder central e local.

Como é sabido, Pedro Nuno Santos e eu não somos da mesma família partidária. Não temos os mesmos heróis políticos. Mas partilhamos da mesma vontade de, a níveis diferentes da administração, transformar positivamente a vida dos nossos concidadãos.

Pela primeira vez em muitos anos, o Ministério das Obras Públicas é liderado por um homem que tem uma visão de futuro para a ferrovia. Que tem apego aos compromissos e respeito pela palavra dada. Que não ignora as populações nem vende powerpoints com ilusões. Que tem vontade política e capacidade de concretização. Virtudes raras no nosso panorama político atual que o facto de gravitarmos em esferas políticas diferentes nunca me impedirá de reconhecer. Cascais lutou muito pela sua Linha centenária. Estamos gratos pelo que alcançámos juntos, cientes do muito que ainda falta fazer. De ânimo energia renovada, a luta continua pela Linha de Cascais.

 

Presidente da Câmara Municipal de Cascais
Escreve à quarta-feira


Pedro Nuno Santos: o ministro que salvou a Linha de Cascais


Cascais-Oeiras-Lisboa formam um dos principais eixos demográficos, económicos e turísticos do país. Concentram uma importante percentagem do PIB; atraem turistas e trabalhadores da economia do conhecimento de todo o mundo; são sede de algumas das principais empresas e universidades em solo nacional.


Os leitores que acompanham esta crónica semanal nas páginas do i, já lá vão mais de dez anos, sabem que a Linha de Cascais tem sido uma das minhas mais constantes batalhas no espaço público. Pelo menos desde 2011 que me ouvem falar da necessidade urgente da renovação da Linha de comboio. Contundente nas críticas e vocal nos objetivos, cheguei a vaticinar a morte do comboio em Cascais, num texto de 2017, perante a absoluta inaptidão e indiferença do ministro das obras públicas de então.

Não me arrependo de nada do que disse e escrevi sobre o tema em mais de uma década. Fi-lo em nome dos cascalenses que me confiaram a defesa dos seus melhores interesses. Foi uma luta longa, desesperante por vezes, recheada de avanços, de ainda mais recuos e de um sem número de promessas por cumprir.

Mais do que defender intransigentemente os interesses dos cascalenses, essa luta prendeu-se também com uma ideia de desenvolvimento mais ampla para a grande Área Metropolitana de Lisboa onde o concelho que lidero se integra.

A mobilidade é um direito constitucional – e, diga-se, um dos mais mal tratados pelos poderes públicos. Tenhamos presente que não há liberdade completa – individual ou económica – sem uma rede de transportes públicos e infraestruturas modernas, com profundidade territorial, capilaridade e comodidade para o cidadão.

Cascais-Oeiras-Lisboa formam um dos principais eixos demográficos, económicos e turísticos do país. Concentram uma importante percentagem do PIB; atraem turistas e trabalhadores da economia do conhecimento de todo o mundo; são sede de algumas das principais empresas e universidades em solo nacional.

Muito do seu potencial de crescimento, todavia, tem sido asfixiado pelo deficiente serviço de mobilidade intermunicipal. E ainda que Cascais tenha sido pioneira na evolução da mobilidade rodoviária coletiva dentro das fronteiras do concelho – com autocarros gratuitos para todos os residentes e uma nova rede estruturada e sustentável –, sempre soubemos que os problemas estavam longe de acabar por ai.

As duas grandes artérias deste sistema vascular metropolitano continuam absolutamente saturadas.

A A5 é a autoestrada mais movimentada do país, apresentando níveis de congestionamento incompatíveis com ideias de sustentabilidade ambiental, qualidade de vida individual e produtividade económica que todos desejamos para o século XXI.

A Linha de Cascais da CP, por seu turno, era um desastre à espera de acontecer. A Linha era um exemplo de falência do modelo ferroviário em Portugal: uma infraestrutura obsoleta, estações desconfortáveis, descontinuidade de serviço, carruagens com mais de 70 anos. Resultado: a perda de 20 milhões de passageiros em 20 anos. (Quando a circulação na baixa de Lisboa está interdita a carros com matrícula anterior a 2005, não deixa de ser irónico que todos os dias ainda entrem na capital comboios anteriores a 1950.)

A decadência da Linha deveu-se a décadas de desinvestimento e ao descarrilamento de todas as promessas e de todos os planos de diversos governos. Rosa ou laranja, todos tinham culpas no cartório. Ainda que nenhum ministro tivesse sido individualmente responsável pelo estado a que a linha tinha chegado, todos eram coletivamente cúmplices pela sua lenta degradação. Todos falharam aos cascalenses, oeirenses e lisboetas que têm na Linha uma solução de mobilidade para o emprego, para a universidade ou simplesmente para fazer a sua vida. Todos, menos um. Pedro Nuno Santos.

Conheci, nesta minha jornada como presidente de Câmara, três primeiros- ministros de quatro governos e cinco titulares da pasta das obras públicas e transportes. Todos fizeram promessas, lançaram grandes planos e assumiram compromissos. Uns andaram para a frente. Outros andaram para trás. Só um fez: Pedro Nuno Santos.

A Linha de Cascais tem futuro. Com os investimentos a realizar pelas Infraestruturas de Portugal na ferrovia e com a aquisição de 34 comboios novos, cujo concurso foi aprovado no último Conselho de Ministros, a voz de Cascais foi ouvida. Mais de dez anos de luta, de persistência, de resistência, não foram em vão. A Linha de Cascais foi resgatada de um destino de irrelevância e morte lenta numa coligação férrea de vontades do poder central e local.

Como é sabido, Pedro Nuno Santos e eu não somos da mesma família partidária. Não temos os mesmos heróis políticos. Mas partilhamos da mesma vontade de, a níveis diferentes da administração, transformar positivamente a vida dos nossos concidadãos.

Pela primeira vez em muitos anos, o Ministério das Obras Públicas é liderado por um homem que tem uma visão de futuro para a ferrovia. Que tem apego aos compromissos e respeito pela palavra dada. Que não ignora as populações nem vende powerpoints com ilusões. Que tem vontade política e capacidade de concretização. Virtudes raras no nosso panorama político atual que o facto de gravitarmos em esferas políticas diferentes nunca me impedirá de reconhecer. Cascais lutou muito pela sua Linha centenária. Estamos gratos pelo que alcançámos juntos, cientes do muito que ainda falta fazer. De ânimo energia renovada, a luta continua pela Linha de Cascais.

 

Presidente da Câmara Municipal de Cascais
Escreve à quarta-feira