Partidos recuam depois das críticas

Partidos recuam depois das críticas


Carta Portuguesa dos Direitos Fundamentais na Era Digital foi aprovada há menos de dois meses sem votos contra, mas já há propostas para a alterar. Oposição fala em censura.


A Carta dos Direitos Humanos na Era Digital foi aprovada sem votos contra no Parlamento, há menos de dois meses, e promulgada pelo Presidente da República, mas já há propostas para a alterar. A_Iniciativa Liberal vai apresentar um projeto de lei para revogar os pontos que classifica como «preocupantes». O Chega escreveu à procuradora-geral da República a alertar para o risco de «uma nova censura».

A contestação só surgiu depois de vários comentadores, como Pacheco Pereira ou António Barreto, entre outros, terem alertado para os riscos da proposta aprovada com os votos a favor do PS, PSD, CDS, Bloco de Esquerda e PAN. O PCP, o PEV, a Iniciativa Liberal e o Chega optaram pela abstenção.

A polémica surgiu devido ao artigo 6.º que prevê mecanismos de proteção contra a desinformação. A Iniciativa Liberal considera que «não é aceitável ser o Estado a dotar de selos de qualidade estruturas de verificação de factos. Isso seria um primeiro passo para a criação de um Ministério da Verdade que passasse a controlar a opinião o que os cidadãos expressam na internet».

João Cotrim Figueiredo admitiu, em entrevista à rádio Observador, que deveria ter mantido o voto contra. Os liberais votaram contra, na generalidade, e João Cotrim Figueiredo alertou, numa intervenção no Parlamento, que a proposta é uma «desculpa mal disfarçada para aprovar instrumentos avulsos de monitorização e controlo digital por parte do Estado». A IL optou, porém, por se abster na votação final.

O Chega também se absteve, mas alerta agora para os perigos da nova lei. André Ventura, numa carta enviada a Lucília Gago, defende que «se deveria rapidamente manifestar o Tribunal Constitucional e a procuradora-geral da República, na defesa do respeito sobre linhas vermelhas que nos parecem estar prestes a ser ultrapassadas».

O deputado único do Chega também se absteve, mas manifesta agora as «maiores reservas» com alguns pontos da legislação, porque a atribuição de selos de qualidade poderá ser influenciada pelas «preferências políticas de quem esteja em cada momento no exercício da governação».

As críticas e as dúvidas manifestadas levaram o PS a avançar com um projeto de lei para clarificar que o legislador não pretende «programar a cultura e tolher a liberdade de expressão», de acordo com o diário Público. Os socialistas garantem que a proposta, que ainda não foi entregue na Assembleia da República, visa garantir que o Estado não vai interferir na criação das estruturas de verificação de factos.