Almeida Henriques. Morreu o “homem bom” que quis ser voz forte no país

Almeida Henriques. Morreu o “homem bom” que quis ser voz forte no país


De sorriso fácil e sempre com uma palavra amiga, o presidente da Câmara de Viseu não resistiu a complicações respiratórias decorrentes da covid-19. Faleceu no Hospital de São Teotónio onde entrou pelo próprio pé há quase um mês. A nível regional e nacional as reações à morte de Almeida Henriques multiplicam-se. Era um “homem bom”,…


Com um longo e notável percurso na vida política mas sem nunca deixar para trás a família – à qual muito se dedicava – foi em 2013 que António Almeida Henriques assumiu a presidência da Câmara Municipal de Viseu. Para trás deixa um caminho dedicado às causas públicas, às smart cities, à colocação da cidade no mapa nacional, entre tantas outras coisas. De sorriso fácil e sempre com uma palavra amiga para quem o procurava, Almeida Henriques perdeu a batalha para o novo coronavírus, este domingo, aos 59 anos.

Advogado de formação, foi na política que se destacou e passou por várias funções de grande responsabilidade: foi deputado à Assembleia da República em várias legislaturas e vice-presidente do grupo parlamentar PSD entre 2005 e 2007 e depois entre 2010 e 2011, altura em que exerceu funções como Secretário de Estado Adjunto e da Economia e Desenvolvimento Regional, no Governo liderado por Pedro Passos Coelho.

Mas foi em Viseu – cidade que o viu nascer e onde sempre viveu – que percorreu a maior parte do seu percurso e onde deixou maior obra: Desempenhou diferentes funções na vida política local e regional, tendo sido presidente da Assembleia Municipal de Viseu durante oito anos, nos mandatos de 2005/2009 e 2009/2013.

Era em Viseu que queria estar, como descreve a Câmara Municipal que liderou até este domingo: “Tinha como grande objetivo completar o projeto desenhado durante a sua primeira candidatura, que visava colocar Viseu entre os melhores concelhos de Portugal”.

A autarquia destaca o sentido “de justiça e retidão”, estando sempre “disponível para parar e ouvir os viseenses e os colaboradores da autarquia”. E quem o conhecia sabe que era mesmo assim. “O projeto de vida de António Almeida Henriques era Viseu, porque, como muitas vezes dizia, “não podia ser presidente de outra Câmara”.  Aliás, foi à frente desta autarquia que Almeida Henriques muito lutou para desenvolver a cidade, tendo impulsionado vários projetos para a população, para as empresas ou até para as escolas.

O homem bom, lutador e amigo Um pouco por todo o país, as reações à morte do “amigo” e do “lutador” não tardaram. O Presidente da República evocou “o amigo e companheiro” de muitas lides”, apelidando Almeida Henriques de “homem bom” que dedicou a sua vida a Viseu e a Portugal. “Deixa obra e deixa saudades, lembrando-nos como esta doença, que nos assola, é terrível e nos apanha assim, de surpresa e desprevenidos”.

Já o líder parlamentar do PSD lamenta a perda do “companheiro Almeida Henriques”, um “ilustre deputado, secretário de Estado e, atualmente, presidente da Câmara de Viseu”, diz Rui Rio.

O primeiro-ministro lembra o lutador. “António Almeida Henriques foi um defensor do poder local como pilar da democracia e sempre um lutador por Viseu e os viseenses. É com pesar que apresento à família e amigos, as minhas sentidas condolências”, realçou o chefe do Executivo na rede social.

Almeida Henriques foi ainda lembrado “como um homem que dedicou a vida à causa pública e ao interesse nacional” pela ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, e pelo secretário de Estado da Descentralização e da Administração Local, Jorge Botelho.

A nível regional, foram muitos os concelhos do distrito de Viseu que lamentaram a morte precoce deste autarca, lembrando o homem de causas públicas, que deixa um legado.

Rogério Mota Abrantes, presidente da Câmara de Carregal do Sal e da Comunidade Intermunicipal (CIM) Viseu Dão Lafões destaca a “obra feita e a sua marca pessoal em prol de investimentos que beneficiaram o concelho e a região, tendo mantido sempre uma participação ativa e institucional com os demais municípios, nomeadamente com os que lhe eram limítrofes”.

Também as câmara de Nelas, Oliveira de Frades e Resende lembram a “perda irreparável”, garantindo que Almeida Henriques “deixa um legado que se perpetuará nesta e em futuras gerações”.

Já o presidente de Sátão, Paulo Santos, vê Almeida Henriques como um “homem de convicções fortes, defensor acérrimo de Viseu e da região” que “dedicou a sua vida à causa pública, ocupando diversas funções de grande responsabilidade, tanto ao nível do associativismo, como a nível político”.

Dos vários cargos que teve, Almeida Henriques era ainda vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, que destacou o “valioso contributo em diversas matérias relevantes para os municípios, para além de ter desenvolvido um trabalho entusiasta na área das cidades inteligentes”.

Ferro Rodrigues, a Confederação Empresarial de Portugal ou a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) deixaram também uma mensagem de apreço pelo trabalho desenvolvido pelo autarca.

Para a Associação Empresarial da Região de Viseu, o autarca era “um Homem que dedicou a sua vida à causa pública, destacando-se no associativismo empresarial”. E é exatamente o homem e autarca “exemplar” que lembra o Turismo Centro de Portugal, dando destaque ao seu percurso onde “abraçou sempre, de forma inexcedível e com grande entusiasmo, as iniciativas desta Entidade Regional. O seu desaparecimento tão prematuro representa uma perda irreparável”.

As amizades Destroçado com esta partida tão precoce ficou o jornalista Mário Augusto, amigo próximo de Almeida Henriques. “Era fácil estar aqui agora a soltar um chorrilho de palavras simpáticas perante a dor de perda de alguém com quem partilhamos mil alegrias, muitas tertúlias, uma amizade sincera, muitas jantaradas e copos, tão próximo que era mais do que família. Era uma extensão da minha família de sangue”, lê-se numa publicação no Facebook. No extenso texto, o jornalista diz que o autarca era um “político por convicção a causas públicas, autarca de terra aos ombros”. “Fez de mim viseense, apesar de eu ter nascido perto do mar. Pelo Tó Almeida Henrique eu também sou beirão”.

A mesma dor é partilhada por Jorge Sobrado, que foi vice-presidente da Câmara de Viseu e vereador da Cultura do mesmo município. “Que partida de mau gosto é esta de te ceifarem a vida que tanto amavas, de te ceifarem da companhia dos teus?”, lê-se no emotivo texto. O agora assessor na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte não tem dúvidas: “Deixas-nos tão sós sem a tua alegria e energia contagiantes. E Viseu é a partir de hoje uma cidade irreparavelmente órfã. A tua despedida é irreparável”.

Já Conceição Azevedo, atual vice-presidente do Município e amiga de longa data, diz que esta partida é “uma perda irreparável, um homem de uma bondade, de uma coragem, de uma inteligência, com um projeto para Viseu incomparável”.

A autarquia decretou três dias de luto municipal.