1 – A reunião do Conselho de Ministros do passado dia 4 de Março, sobre a Floresta (a que o Chefe de Estado foi convidado a assistir), foi prévia e abundantemente anunciada, com destaque, na Comunicação Social.
O comunicado que se lhe seguiu pode ser consultado no Portal do Governo e dele se retiram vários (muitos) anúncios (eventualmente de futuras coisas boas) como o Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais (20-30) e mexidas nas orgânicas do ICNF, da AGIF e Autoridade de Protecção Civil. Veremos se não sai outra Reforma D. Diniz (desta vez a III)…
Mas, curiosidade que vale por si, enquanto o anúncio prévio referia “a Floresta” o Comunicado esclarece que se trata da “Floresta no quadro da valorização do território”.
Fez bem o Governo em alterar o “título” do evento porquanto a grande maioria das medidas tem a ver com a Protecção Civil (não discuto se necessárias ou não) podendo concluir-se daí que a Floresta é, politicamente… um problema de Protecção Civil.
Durante uns quantos anos parecia ser um problema dos bombeiros… desta vez passou a ser um problema da Protecção Civil.
Como a Protecção Civil, como o nome diz, existe para “proteger os cidadãos”, é fácil concluir igualmente que a Floresta constitui uma ameaça aos cidadãos…
Mas, de definitivo e inequívoco, no Comunicado dá-se conta da AQUISIÇÃO de 14 (CATORZE) meios aéreos para combater fogos florestais. Milhões de euros para adquirir 12 helicópteros (6 ligeiros e 6 bombardeiros médios) e 2 bombardeiros anfíbios pesados que terão de ser mantidos doze meses… para trabalharem (especialmente os anfíbios) durante quatro ou cinco…
Parece-me a mim (e talvez a muitos) que esta pródiga “decisão compradora”, já é fruto do sentimento de riqueza de quem espera (o Governo) a chegada de muitos milhões que se podem gastar à vontade…
Sem condenar liminarmente uma decisão que apenas me parece de má gestão, termino por lamentar que, mais uma vez, a Floresta “sirva, em vez de ser servida”… Infelizmente com o beneplácito do PR (que, aliás, ao anunciar a sua nova Casa Civil e os seus futuros “conselheiros”, mostrou continuar a não ter nenhum ligado ao sector agrário). Ele lá sabe… e bem lhe pode escrever “Cartas Abertas” o Presidente da CAP.
2 – O negócio dos aviões foi e continua a ser sempre muito apetitoso: aquando da minha fugaz passagem pela Secretaria de Estado das Florestas (2003/2004) fui visitado várias vezes por “influencers” (como agora se diz) para venderem ao país drones (sofisticados e de origem militar) e (enormes) aviões anfíbios Beriev com dois motores a reacção, acabados de apresentar no mercado aeronáutico internacional (além dos “habituais” Canadair, claro). Era só “facilidades”…
O papel destas pessoas é compreensível, o que não se pode compreender é que haja quem aceite, impunemente, certos negócios… Como é o caso daquele que fez capa (não desmentida) do DN do mesmo dia 4 de Março: “se o aeroporto não for para o Montijo…então Portugal tem de pagar (muitos) milhões de euros de indemnização à ANA/VINCI” com quem o Governo (”alguém”…) decidiu contratar a respectiva concessão! Espero que a notícia seja falsa (o jornal usa caracteres bem gordos) já que serão… 10 mil milhões de euros!
Se a notícia não for falsa… então alguém tem de ser preso !
3 – “Antigamente” dizia-se que os “gostos não se discutem”. Hoje, obviamente, isso já não é verdade. E por não ser verdade, aqui deixo uma reflexão sobre “gostos” que têm no final a ver com o título deste texto:
– Na Antiguidade (há registos do século XIV a.C.) os prisioneiros e criminosos podiam ser, com “naturalidade”, castrados. Cortavam-se-lhes os órgãos genitais e, se fossem jovens, transformavam-se em seres sem qualquer traço de masculinidade e eram destinados a trabalhos de servidão humilhante e acéfala. Se, pelo contrário, já fossem adultos, a perda do poder de reprodução não afectava o desenvolvimento dos traços masculinos e podiam servir para trabalhos mais “pesados”. Mas, como a História nunca deixou (nem deixará) de nos surpreender, existiram seitas religiosas que impuseram a castração como forma de alcançar a “espiritualidade” (não sei, sinceramente, se veio daí a regra da castidade dos padres católicos…). Esta prática durou até ao século XX e só passou a ser crime pela Convenção de Genebra e pela Declaração dos Direitos do Homem;
– No século X começou a praticar-se na China – em famílias ricas – a formação dos “pés de lótus”, amarrando os pés das jovens em crescimento, de forma a obrigar os ossos do pé a deformarem-se de tal forma que as mulheres adultas apresentassem pés pequenos (chamados “de lótus”), muito apreciados na alta sociedade (que não precisava deles para trabalhar…). Esta prática mutiladora, depois de várias tentativas falhadas, só foi extinta e tornada crime pela Revolução de Mao;
– No século XVI, porque a participação das mulheres nos coros dos templos católicos era vetada pela Igreja, alguém se lembrou de cortar os canais provenientes dos testículos aos jovens de 8 a 10 anos que revelassem um tom de voz agudo, a fim de poderem integrar – com a tal voz aguda – esses coros, já adultos. E tal era visto como prestígio e símbolo de ascensão social (especialmente para os castrati de origens muito humildes). Esta prática durou até ao início do século XX.
Não chocava pois por isso que todas estas criaturas pudessem ser usadas (ou oferecidas) em cerimónias oficiais e como “prenda” para altos dignitários convidados.
Não deve pois estranhar-se que o PM tenha oferecido ao Presidente da República – convidado para o último CM que tratou de “Floresta” – um “bonsai”, embora a palavra “bonsai” signifique uma “técnica” (ananicante e altamente violenta/mutiladora para a fisiologia da espécie escolhida) e nada tenha a ver (na sua etimologia) com a palavra “árvore”.
Foi um gesto – obviamente bem-intencionado – que diz bem das “torturas políticas e sociais” a que a Floresta Portuguesa tem sido sujeita, em nome sei lá de quê e de quem.
Há gostos para tudo… e ainda bem que agora (ainda) se possam discutir…
Antigo secretário de Estado das Florestas