A importância do dia de hoje


Este é o momento em que se deveriam ter mobilizado os mais populares e “credíveis” comunicadores da praça para sublinhar a importância da responsabilidade individual. A começar pelo expoente máximo da popularidade política, o Presidente da República.


Depois de meses a questionarmo-nos sobre se o Sistema de Saúde aguentava a pressão dos contágios; de semanas a insuflar cansaço com o confinamento e a ausência de critérios para começar a desconfinar perante a realidade dos números em baixa e de dias a verberar sobre o processo de vacinação em que a esperança é diariamente derrotada pelos atrasos das entregas de doses pelas farmacêuticas: Habemus um plano!

Muda muita coisa em concreto, de forma gradual, mas quase nada no plano geral de uma pandemia presente há mais de 1 ano nas nossas vidas, com impactos individuais e comunitários brutais. Não, o plano não é nenhuma carta de alforria que nos liberta do confinamento, sem termos de ter bem presentes os pressupostos e as realidades. O plano das coisas boas não ilude que existe uma realidade subjacente de coisas menos boas, de exigência de responsabilidade individual, comunitária e das autoridades, em que cada um tem de fazer o seu papel, com eficácia e sem cedências ao facilitismo. É que começamos a confinar quando o mundo volta a estar perigoso em termos de contágios. Bem sei que nas últimas décadas especializámo-nos em viver a vida em modo de iô-iô, ora temos, ora não temos, mas, para além de insuficiências nos pressupostos de testagem e de vacinação, há uma responsabilidade individual que ainda não está suficientemente sublinhada. É certo que já não há paciência para ouvir, para ser consequente e para as regras, mas estas são pressupostos da vivência em comunidade, com direitos e com deveres, ainda que a realidade seja pontuada por desequilíbrios em que mais parece que alguns só têm direitos e os restantes os deveres.

Falta clareza e sustentação pedagógica de que determinadas ações individuais com impactos comunitários resultarão em consequências negativas na progressão do plano de desconfinamento. Este é o momento em que se deveriam ter mobilizado os mais populares e “credíveis” comunicadores da praça para exercitar esse impulso de responsabilidade individual, a par da realização aprimorada do trabalho de casa dos pressupostos, sobretudo na testagem. Por exemplo, o expoente máximo da popularidade política, o Presidente da República, depois das viagens ao Vaticano e a Espanha, deveria ter falado ao país no domingo para sublinhar a importância decisiva da responsabilidade individual no caminho que começamos a percorrer hoje. Mas, não, confinou na verve.

Falta coragem para assumir o que se impõe, por muito que custe ao setor do turismo, já exaurido pela pandemia. Estamos com menos casos, mas com estirpes mais agressivas, logo, mesmo que os britânicos resolvam levantar as restrições às viagens com origem ou destino no nosso território nacional, Portugal deveria manter as restrições por precaução. Assim como com todas as geografias em que o risco seja maior que o nosso. O mundo está de novo particularmente perigoso, em quase todos os continentes, se este plano não corre como o previsto, com nova vaga, perdem-se mais vidas e voltamos ao tempo passado. Sobretudo quando a vacinação regista os atrasos que são evidentes, os sobressaltos não têm a gestão de crise adequada e o Estado permite-se a uma sistemática falta de senso que mina a confiança e previsibilidade possível. Numa sexta anunciam-se a venda de testes rápidos de antigénio para deteção do SARS-CoV-2 nas farmácias e parafarmácias a partir do dia seguinte, estas não sabem de nada e, depois, afinal a DGS, o INFARMED e o Instituto Nacional Ricardo Jorge têm até à sexta-feira seguinte para definirem as regras. Entretanto, gerou-se mais uma expectativa gorada.

A expectativa gorada é o grande padrão das nossas realidades das últimas décadas, nos mais diversos setores da sociedade portuguesa. É claro que não é geral, porque entre os do sistema instalado há sempre os que fazem uso do seu posicionamento instalado para transformar derrotas em vitórias, converter insuficiências em grandes conquistas e maquilhar as realidades a gosto, com os mais diversos subterfúgios, esquemas e cortinas de fumo.

Hoje todos temos renovadas expectativas de que entrámos numa fase de afastamento em relação aos riscos maiores da pandemia, como tinham os italianos, os paraguaios, os nórdicos e tantos outros povos em crescentes olhos deste furacão pandémico. Hoje é dia de voltar a interiorizar que, sem o contributo de cada um no cumprimento rigoroso das regras, dos deveres, voltaremos a marcar passo, a hipotecar a sustentação do retomar das dinâmicas de relançamento e a voltar ao tempo que agora abandonamos paulatinamente.

Saímos à rua, mas todos temos muitos trabalhos de casa a fazer. Que a ninguém falte este sentido de compromisso, mesmo que possa faltar a quem não devia.

NOTAS FINAIS

DOSE. A intenção do Governo dos Açores de recorrer a todos os meios legais e ilegais para aceder à vacinação, não validada pelas autoridades de saúde nacionais e europeias, não é um exercício de autonomia. É um esgar de imaturidade e impreparação para o exercício do poder que vergasta a unidade nacional. Por prevenção, o Presidente da República, anuente da solução de governo, deveria administrar a adequada dose de senso e pronunciar-se, nem que fosse com uma daquelas notícias plantadas à moda da vichyssoise.

EFEITOS SECUNDÁRIOS. As cenas políticas da Iniciativa Liberal em Lisboa, do Governo PSD, CDS e afins nos Açores e do Chega também nos Açores são um bom espectro da instabilidade e volatilidade que se avizinha. Ter responsabilidades democráticas maiores significaria perceber que num contexto nacional e internacional exigentes como o que temos, mas isso é pedir demais a alguns focados no quotidiano e na sobrevivência política de um exercício de turno.

ANTICORPOS. Espera-se que as dificuldades do processo de produção das vacinas e os impactos destas no retardar do esforço de contenção da pandemia e de relançamento das atividades sirva de lição para toda a Europa sobre a importância estratégica da ciência e da capacidade produtiva instalada no território. Na diversidade de necessidades em Portugal, que esta realidade e o reconhecimento social da importância de cientistas como Elvira Fortunato, agora galardoada com o Prémio Camões, implique consequência e sustentabilidade na aposta na ciência e no conhecimento.

 

Escreve à segunda-feira


A importância do dia de hoje


Este é o momento em que se deveriam ter mobilizado os mais populares e “credíveis” comunicadores da praça para sublinhar a importância da responsabilidade individual. A começar pelo expoente máximo da popularidade política, o Presidente da República.


Depois de meses a questionarmo-nos sobre se o Sistema de Saúde aguentava a pressão dos contágios; de semanas a insuflar cansaço com o confinamento e a ausência de critérios para começar a desconfinar perante a realidade dos números em baixa e de dias a verberar sobre o processo de vacinação em que a esperança é diariamente derrotada pelos atrasos das entregas de doses pelas farmacêuticas: Habemus um plano!

Muda muita coisa em concreto, de forma gradual, mas quase nada no plano geral de uma pandemia presente há mais de 1 ano nas nossas vidas, com impactos individuais e comunitários brutais. Não, o plano não é nenhuma carta de alforria que nos liberta do confinamento, sem termos de ter bem presentes os pressupostos e as realidades. O plano das coisas boas não ilude que existe uma realidade subjacente de coisas menos boas, de exigência de responsabilidade individual, comunitária e das autoridades, em que cada um tem de fazer o seu papel, com eficácia e sem cedências ao facilitismo. É que começamos a confinar quando o mundo volta a estar perigoso em termos de contágios. Bem sei que nas últimas décadas especializámo-nos em viver a vida em modo de iô-iô, ora temos, ora não temos, mas, para além de insuficiências nos pressupostos de testagem e de vacinação, há uma responsabilidade individual que ainda não está suficientemente sublinhada. É certo que já não há paciência para ouvir, para ser consequente e para as regras, mas estas são pressupostos da vivência em comunidade, com direitos e com deveres, ainda que a realidade seja pontuada por desequilíbrios em que mais parece que alguns só têm direitos e os restantes os deveres.

Falta clareza e sustentação pedagógica de que determinadas ações individuais com impactos comunitários resultarão em consequências negativas na progressão do plano de desconfinamento. Este é o momento em que se deveriam ter mobilizado os mais populares e “credíveis” comunicadores da praça para exercitar esse impulso de responsabilidade individual, a par da realização aprimorada do trabalho de casa dos pressupostos, sobretudo na testagem. Por exemplo, o expoente máximo da popularidade política, o Presidente da República, depois das viagens ao Vaticano e a Espanha, deveria ter falado ao país no domingo para sublinhar a importância decisiva da responsabilidade individual no caminho que começamos a percorrer hoje. Mas, não, confinou na verve.

Falta coragem para assumir o que se impõe, por muito que custe ao setor do turismo, já exaurido pela pandemia. Estamos com menos casos, mas com estirpes mais agressivas, logo, mesmo que os britânicos resolvam levantar as restrições às viagens com origem ou destino no nosso território nacional, Portugal deveria manter as restrições por precaução. Assim como com todas as geografias em que o risco seja maior que o nosso. O mundo está de novo particularmente perigoso, em quase todos os continentes, se este plano não corre como o previsto, com nova vaga, perdem-se mais vidas e voltamos ao tempo passado. Sobretudo quando a vacinação regista os atrasos que são evidentes, os sobressaltos não têm a gestão de crise adequada e o Estado permite-se a uma sistemática falta de senso que mina a confiança e previsibilidade possível. Numa sexta anunciam-se a venda de testes rápidos de antigénio para deteção do SARS-CoV-2 nas farmácias e parafarmácias a partir do dia seguinte, estas não sabem de nada e, depois, afinal a DGS, o INFARMED e o Instituto Nacional Ricardo Jorge têm até à sexta-feira seguinte para definirem as regras. Entretanto, gerou-se mais uma expectativa gorada.

A expectativa gorada é o grande padrão das nossas realidades das últimas décadas, nos mais diversos setores da sociedade portuguesa. É claro que não é geral, porque entre os do sistema instalado há sempre os que fazem uso do seu posicionamento instalado para transformar derrotas em vitórias, converter insuficiências em grandes conquistas e maquilhar as realidades a gosto, com os mais diversos subterfúgios, esquemas e cortinas de fumo.

Hoje todos temos renovadas expectativas de que entrámos numa fase de afastamento em relação aos riscos maiores da pandemia, como tinham os italianos, os paraguaios, os nórdicos e tantos outros povos em crescentes olhos deste furacão pandémico. Hoje é dia de voltar a interiorizar que, sem o contributo de cada um no cumprimento rigoroso das regras, dos deveres, voltaremos a marcar passo, a hipotecar a sustentação do retomar das dinâmicas de relançamento e a voltar ao tempo que agora abandonamos paulatinamente.

Saímos à rua, mas todos temos muitos trabalhos de casa a fazer. Que a ninguém falte este sentido de compromisso, mesmo que possa faltar a quem não devia.

NOTAS FINAIS

DOSE. A intenção do Governo dos Açores de recorrer a todos os meios legais e ilegais para aceder à vacinação, não validada pelas autoridades de saúde nacionais e europeias, não é um exercício de autonomia. É um esgar de imaturidade e impreparação para o exercício do poder que vergasta a unidade nacional. Por prevenção, o Presidente da República, anuente da solução de governo, deveria administrar a adequada dose de senso e pronunciar-se, nem que fosse com uma daquelas notícias plantadas à moda da vichyssoise.

EFEITOS SECUNDÁRIOS. As cenas políticas da Iniciativa Liberal em Lisboa, do Governo PSD, CDS e afins nos Açores e do Chega também nos Açores são um bom espectro da instabilidade e volatilidade que se avizinha. Ter responsabilidades democráticas maiores significaria perceber que num contexto nacional e internacional exigentes como o que temos, mas isso é pedir demais a alguns focados no quotidiano e na sobrevivência política de um exercício de turno.

ANTICORPOS. Espera-se que as dificuldades do processo de produção das vacinas e os impactos destas no retardar do esforço de contenção da pandemia e de relançamento das atividades sirva de lição para toda a Europa sobre a importância estratégica da ciência e da capacidade produtiva instalada no território. Na diversidade de necessidades em Portugal, que esta realidade e o reconhecimento social da importância de cientistas como Elvira Fortunato, agora galardoada com o Prémio Camões, implique consequência e sustentabilidade na aposta na ciência e no conhecimento.

 

Escreve à segunda-feira