Os políticos que não têm vergonha na cara e no corpo


Ontem, os responsáveis pela vacinação em Portugal voltaram a reafirmar que nas exceções que passam à frente dos grupos de risco estão mil pessoas! Mil pessoas, é mesmo esse o número. 


Uma vergonha, escrevíamos na capa de quarta-feira e, pelos vistos, há quem não a tenha na cara. A história começou na segunda-feira com uma notícia do Diário de Notícias que dava conta dos políticos e afins que teriam prioridade na vacinação contra a covid, segundo um despacho do primeiro-ministro a que o jornal teve acesso – e não consta que o diário esteja mal informado no que diz respeito a São Bento. Acontece que a informação que passou para fora ia desde assessores de António Costa até funcionários da Assembleia da República.

Ontem, os responsáveis pela vacinação em Portugal voltaram a reafirmar que nas exceções que passam à frente dos grupos de risco estão mil pessoas! Mil pessoas, é mesmo esse o número. A pouca-vergonha é tanta que a nova polícia de costumes do PS, Ana Catarina Mendes, já veio acusar os deputados que se recusam a ser vacinados – e não estamos a falar de homens que pela sua idade e historial clínico tenham todo o direito a sê-lo, como é o caso de Ferro Rodrigues – de demagogia barata. 

Ana Catarina Mendes, que tanto gosta de fazer de durona, que diga isso ao Presidente da República, que ontem na sua declaração ao país afirmou: “Ninguém de bom senso quereria fazer passar centenas ou um milhar de titulares de cargos políticos ou funcionários, por muito importantes que fossem, de supetão à frente de milhares de idosos com as doenças mais graves e, por isso, de mais óbvia prioridade”.

Marcelo Rebelo de Sousa não podia ser mais claro, e não é só Ana Catarina Mendes que pensa que está no século passado, quando quem estava no primeiro balcão cuspia para quem estava cá em baixo – há uma excelente imagem disso no Cinema Paraíso. Essa grande figura, que passou pela Assembleia da República com a mesma destreza de um elefante numa loja de porcelana, que dá pelo nome de Hugo Soares, respondia ao seu colega Cristóvão Norte, também do PSD e que recusa ser vacinado à frente dos idosos: “Cristóvão, pode haver médicos se não houver deputados que aprovem Orçamentos e validem contratações? Pode haver estado de emergência sem deputados?” Os disparates deste mastodonte, à semelhança de Ana Catarina Mendes, terminavam da seguinte forma. “Desculpa, amigo, o desabafo. Mas é preciso estar à altura dos lugares que se ocupam”. Pior é impossível.