Há alguns anos existia uma figura emblemática no futebol que dava pelo nome de Zandinga. Dizia-se que tinha poderes sobrenaturais e que conseguia antever os resultados dos jogos. Havia também outra figura, da qual não me lembro o nome, que tinha os mesmos poderes. A esse propósito conta-se uma história-anedota que envolvia o melhor goleador da altura. Ao marcar vários penáltis nos treinos, a bola rebentava sempre que embatia no poste, tal qual o tal “bruxo” previra. Até que alguém dá um grito e pede para tirarem os pregos que estavam na trave. Hoje vivemos uma situação semelhante. Temos um Governo que diz que o vírus só ataca em determinados locais e a determinadas horas, embora se saiba que isso não passa de uma espécie de “bruxaria” de trazer por casa. A verdade é bem mais cruel e as pessoas ficam confusas, não sabendo, apesar de tudo, se hão de acreditar no Zandinga da política ou nos números avançados por todos os especialistas. É óbvio para quem vive de vender jornais, à semelhança dos cafés, restaurantes e demais empresas que vendem diretamente ao público, que um confinamento total será bastante prejudicial para o negócio. Mas isso não é desculpa para não se ver o óbvio. O Governo, ou a Constituição, determinou que o vírus não ataca nas mesas de voto, nas campanhas eleitorais, nos passeios higiénicos, onde estão mais pessoas que nos restaurantes todos, nas igrejas e afins. O cidadão comum, ao ver imagens da campanha eleitoral, onde até jantares há, fica na dúvida se aqueles espaços são de um planeta diferente daquele onde vivem, onde os restaurantes e cafés foram todos fechados. Mas vamos ao tema mais preocupante: os hospitais estão a rebentar pelas costuras e já nem os privados conseguem responder aos pedidos. Com os números de mortos e novos casos de covid descontrolados, o primeiro-ministro continua à espera das eleições presidenciais para mandar todos para casa a seguir. Até lá, os profissionais de saúde podem estar a deparar-se com um cenário idêntico a uma guerra ou a um terramoto que António Costa continua convencido de que tudo está bem até ao dia das eleições. Esperemos que os piores cenários não se confirmem, para o Zandinga da política não vir afirmar que tinha avisado para as pessoas se portarem bem.
O Zandinga da política
Temos um Governo que diz que o vírus só ataca em determinados locais e a determinadas horas, embora se saiba que isso não passa de uma espécie de “bruxaria” de trazer por casa.