Carta aberta aos presidentes do PSD, CDS e IL

Carta aberta aos presidentes do PSD, CDS e IL


Líder da JSD lança apelo a Rui Rio, a Francisco Rodrigues dos Santos e a João Cotrim Figueiredo, face às mudanças a que estamos a assistir no sistema partidário português.


Caro Rui Rio, Presidente do PSD

Caro Francisco Rodrigues dos Santos, Presidente do CDS-PP

Caro João Cotrim de Figueiredo, Presidente da Iniciativa Liberal

A mudança acelerada em que o sistema partidário português se encontra é hoje inegável, com impactos relevantes na definição das escolhas políticas, no discurso político e nos debates que dominam a opinião pública. Esta carta que escrevo a V. Exas. visa contribuir para uma resposta a este momento charneira da nossa sociedade.

Após as últimas eleições legislativas de 2019, esta mudança em curso no nosso sistema partidário transformou o debate político numa discussão extremada e populista, onde parece prevalecer quem grita mais alto ou quem insulta com mais intensidade os adversários. O bom senso e a moderação não têm tido dias fáceis. Os populistas ganham força, contaminam o debate com soluções simples e miraculosas para problemas complexos.

Num momento em que o nosso país atravessa uma grave crise económica e social, em que combatemos um inimigo viral que amedronta as pessoas e em que a incerteza reina em todas as áreas da nossa vida, o pior que nos pode acontecer é ter um debate público e escolhas políticas extremadas. Um debate político em que todos os problemas são de resolução binária, onde só existe “o contra” e o “a favor”, o “sim ou não” e em que passamos demasiado tempo a discutir as intenções maliciosas dos nossos adversários.

Infelizmente, constatamos hoje algo novo: ser moderado começa a ser a posição mais radical e difícil. Apenas agindo podemos evitar um caminho sem retorno, uma espiral de crescente intensidade, uma estrada que extrema sociedade de tal forma, em que a razão, os factos e a verdade deixam de ter lugar à mesa.

O apelo populista aos cidadãos pode e deve ser vencido, não podemos permitir que o extremismo se torne o mainstream. Nenhuma alternativa viável e positiva para resolver os problemas do nosso país virá dos extremos, da extrema-direita ou da extrema-esquerda. Estou certo de que esta análise é subscrita por V. Exas.

Vencer a crise pandémica e a crise social e económica precisa de coragem e de políticas que nos façam convergir com a União Europeia, que possibilitem a criação de uma economia privada mais forte e competitiva, de emprego melhor remunerado e de um Estado moderno e adaptado aos desafios do presente. Precisamos de políticas que diminuam as injustiças sociais, as assimetrias territoriais e que retirem pessoas da crónica pobreza, consagrando uma verdadeira igualdade de oportunidades.

Não acredito que com esta solução governamental – ora mais às claras, ora mais às escuras – de PS, BE e PCP, seja possível caminhar neste sentido. Com o PS atrelado à extrema-esquerda e aos seus dogmatismos, não vislumbro a possibilidade de ter a esquerda moderada neste caminho. Precisamos de uma resposta diferente. Precisamos de arrojo no combate aos extremismos e na construção de uma alternativa às esquerdas. Acredito que o centro-direita moderado e civilizado pode e deve agir, enquanto é tempo.

É desta leitura do sistema partidário e dos desafios atuais que faço um apelo a V. Exas: a criação de um acordo autárquico de âmbito nacional do centro-direita para as próximas Eleições Autárquicas de 2021, através do PSD, do CDS e da Iniciativa Liberal.

Este acordo, que proponho e pelo qual lutarei dentro do meu partido, olha para as próximas autárquicas como as primeiras eleições – e por isso, as mais fundamentais – em que vamos a jogo num clima extremado, populista e perigoso. Temos cerca de um ano (há tempo!), para de forma pensada e refletida, encontrarmos os pontos comuns entre os nossos partidos e construir este acordo de âmbito nacional.

Um acordo que, recuperando o centro-direita, possa oferecer uma alternativa moderada aos portugueses. Um acordo que – embora saiba que se trate de eleições locais – responda ao atual clima político de forma consistente, sabendo que nada fazer é continuar a deixar os extremos crescer. Um acordo com desenvolvimento, prosperidade e um futuro diferente no seu horizonte.

Olhar para as próximas eleições autárquicas como business as usual, preocupados mais com o interesse particular de cada um dos nossos partidos, sem entender o que está a acontecer ao centro-direita será um erro, que poderá trazer consequências graves e duradouras para o sucesso de uma alternativa, mas também para o futuro da nossa democracia e da nossa sociedade. Tenho a forte convicção de que V. Exas saberão interpretar os tempos e agir em conformidade.

 

Presidente da JSD e Deputado à Assembleia da República