Seca: nada fazer é condenar o Algarve


Para os atuais patamares de consumo as reservas existentes garantem o abastecimento até ao fim do ano. As pessoas estão assustadas.


É desconcertante como a seca no Algarve não é motivo de qualquer sentido de urgência por parte do Governo, mas sim de total inoperância e uma atroz demissão das suas obrigações. As alterações climáticas estão a provocar inexoráveis transformações, com a aridez a tomar conta da região e a colocar em crise todos os principais pressupostos em que assenta o nosso modo de vida. Fica sempre a dúvida – que para estes lados tem foros de certeza –, de que o interesse em agir será radicalmente diferente quando esta imparável avalanche tiver significado noutras geografias mais poderosas, o que a seu tempo, infelizmente, também sucederá.

É inconcebível que o ministro do Ambiente, por despacho, tenha previsto a elaboração de um plano de eficiência hídrica para a região e que já tenham sido vencidos todos os prazos para a sua apresentação e nada nem ninguém saiba o que quer que seja sobre esse famigerado instrumento para as intervenções de curto, médio e longo prazo. Enquanto isso, dia após dia, inevitavelmente, os níveis das barragens descem assustadoramente. Os especialistas assinalam que para os atuais patamares de consumo as reservas existentes garantem o abastecimento até ao fim do ano. As pessoas estão assustadas. Não sabem que água lhes sobrará para as atividades económicas, sem as quais não há emprego, um bem escasso nestes dias que correm. Ninguém lhes dá resposta. O silêncio do Governo é ensurdecedor.

É imperioso agir. O Estado é mau a planear, pior ainda a concretizar. Muito pouco tem feito de útil. O Ministério do Ambiente, o mesmo que não enceta qualquer campanha pedagógica de gestão do recurso, nada diz sobre a solução Guadiana e nada faz sobre a reutilização de águas residuais ou sobre se apoia ou não a dessalinização; não tem plano, prazo, custos ou financiamento; limita-se, omnipotente, a ameaçar com a tesoura! O Governo não resolve, o Governo corta a direito, seja lá turismo, agricultura, abacates ou limões, campos de golfe ou perdas de água de sistemas de abastecimento obsoletos, não interessa. É desgoverno, um todos contra todos, que promete lançar a discórdia na região.

Não se prepara a região para o presente e para o futuro. Onde se vai buscar mais água? Que água vai estar disponível? Que atividades vão ser compatíveis com essas possibilidades? O que nos podem oferecer as novas tecnologias? E quando? A custos comportáveis? Sem respostas a estas perguntas, e sem ação determinada, vamos sempre andar com o credo na boca e a destruir a esperança de muitos no futuro.

Temos que saber adaptar o nosso modo de vida à nossa realidade. Se não o fizermos – como está a suceder – a realidade obriga-nos, e não perdoa a fatura social e económica, brutal para muitos.

Agir enquanto ainda vai sendo tempo..

 

Deputado