Índia. Altifalantes professores, ministros infetados  e 500 vacinas por minuto

Índia. Altifalantes professores, ministros infetados e 500 vacinas por minuto


Depois de ter ultrapassado os 1,75 milhões de infetados, um novo estudo mostra que a Índia pode ser o país com mais casos em 2021.


Todos os cuidados contam na prevenção da disseminação da covid-19. Na Índia, que já possui um número total de infetados superior a 1,75 milhões, uma aldeia a oeste tomou uma decisão criativa para as crianças poderem continuar a estudar em segurança.

Na impossibilidade de terem aulas online, as crianças sentam-se no chão em frente a um altifalante que transmite aulas pré-gravadas e que elas tratam por “Irmão Altifalante”.

Esta é uma iniciativa de uma organização sem fins lucrativos que pretende chegar a seis aldeias diferentes e a mais de mil crianças, numa altura em que as escolas na Índia, fechadas há quatro meses, dificilmente irão abrir tão cedo.

Durante cinco dias seguidos foram registadas mais de 50 mil novas infeções e, se continuarem a este ritmo, a Índia, o segundo país mais populoso do mundo, com 1,35 mil milhões de habitantes, pode ultrapassar os 100 mil casos diários, o que poderá causar o colapso do sistema hospitalar.

A OMS recomendou que deveria existir um médico para cada mil pacientes; no entanto, apenas existe um médico por cada 10 926.

Um modelo de análise do MIT prevê que, no início de 2021, a Índia vai superar os EUA e o Brasil como o país com mais casos de covid-19 em todo o mundo.

A Índia, o terceiro país com o maior número de casos no mundo, já registou pelo menos 37 364 mortes durante a pandemia até agora, e os especialistas acreditam que, dada a falta de testes, o número de infeções deve ser bastante maior que o notificado pelo Governo.

Ministros infetados Este domingo, o ministro indiano do Interior, Amit Shah, confidente do primeiro-ministro, Narendra Modi, foi hospitalizado, depois de ter testado positivo para a covid-19. “Depois de ter sentido os sintomas iniciais do coronavírus, fiz o teste e deu positivo. Sinto-me bem, mas estou internado no hospital, segundo o conselho dos médicos”, escreveu Amit Shah na sua conta de Twitter, apelando ainda a que todos aqueles que tiveram contacto com ele nos últimos dias façam o teste.

As autoridades indianas informaram ainda que uma ministra do estado de Utar Pradesh, Kamala Rani Varun, morreu de covid-19, depois de vários dias hospitalizada.

Amit Shah esteve na linha da frente nas ações do Governo da Índia para conter a pandemia e participou em alguns eventos e atividades com o gabinete ministerial. Contudo, muitos acreditam que foram decisões e atitudes do primeiro-ministro que condenaram o país ao estado em que se encontra atualmente.

No início da pandemia, quando a Índia ainda tinha apenas 550 casos confirmados, Modi implementou uma quarentena de três semanas que entrou em vigor quatro horas depois, sem que houvesse tempo para que a população se organizasse.

Esta decisão gerou uma crise para os trabalhadores informais, que perderam a sua fonte de rendimento e receberam poucos apoios do Estado, e não trouxe grandes benefícios para a saúde e higiene da população, uma vez que, segundo o Instituto Internacional de Ciências Populacionais, 39,8% dos indianos não têm acesso a água e sabão.

Apesar de parecerem precipitadas, estas decisões ainda possuíam um certo grau de seriedade. No entanto, com o passar do tempo, Modi afirmou que o ioga era um método de prevenção contra o vírus e ordenou que a Força Aérea atirasse pétalas dos céus para homenagear os funcionários de saúde.

“Os políticos têm abordado esta doença como se fosse uma campanha política: só estão a tentar ganhar o dia e o ciclo de notícias”, disse Ashish Jha, diretor do Instituto de Saúde Global da Universidade de Harvard, ao Financial Times. “Minimizar a doença é uma estratégia muito perigosa porque se pode confundir as pessoas sobre que ações devem tomar”.

500 vacinas por minuto O Serum Institute, na Índia, maior fabricante de vacinas do mundo, controlado por uma pequena família bilionária, pretende multiplicar por muitos milhões a vacina que a Universidade de Oxford está a desenvolver.

Segundo o New York Times, o instituto indiano pretende investir nesta que é, para já, a vacina mais promissora contra a doença e garantir uma produção de 500 doses por minuto. Adar Poonawalla, CEO do Serum Institute, disse ao jornal nova-iorquino que as centenas de milhões de doses serão divididas numa lógica de 50-50 entre a Índia e o resto do planeta, com especial foco nos países mais pobres.

Apesar de ainda não ter sido aprovado nenhum fármaco pelas autoridades de saúde, caso venha a ser comprovada a eficácia desta vacina, a empresa será a primeira a ter uma quantidade significativa de doses para disponibilizar.