Passada, segundo alguns especialistas, a fase mais crítica da 1ª vaga da pandemia da crise sanitária, são já visíveis os impactos económicos com números que diariamente confirmam não os melhores prognósticos do Governo, mas sim, aqueles que se aproximam de algumas projeções de organismos como o FMI e a OCDE.
Durante estes 5 meses vivemos momentos de euforia quase patriótica sobre o alegado “milagre Português”, assistimos diariamente às conferências de imprensa da Dr. Graça Freitas e da Dra. Marta Temido, assistimos às conferências semanais do INFARMED e claro aos inúmeros elogios aos heróis e heroínas dos profissionais da Saúde, houve palmas, banda e fanfarra e até a Champions. Não fosse tudo isto uma desgraça e até podia ter tido graça!
A intervenção rápida do apoio a empresas e a particulares foi mais rápida nas palavras do que nas ações efetivas, mas permitiu ainda assim, acautelar um impacto mais duro aparando a queda: nos particulares e nas empresas com moratórias, apoios e promessas. O que permitiu aos particulares e empresas empurrar dívidas e compromissos para mais diante.
No meio deste ambiente, muitos procedimentos foram simplificados de forma a permitir uma nova normalidade na vida das pessoas e o escrutínio público do poder político foi quase suspenso. Aliás disso já deu devida conta o Tribunal de Contas em relatórios recentemente apresentados onde verteu preocupações na transparência e na efetividade dos controlos atualmente existentes. Existem ventiladores comprados e pagos que não chegaram, existem contratos com prazo de entrega para o início do próximo ano, de material que seria necessário já. Existem contratos que deveriam estar divulgados publicamente e não estão.
Também na fraude e combate à corrupção, segundo relatório do GRECO ainda de um tempo pré-covid, a imagem de Portugal não era propriamente famosa e neste ambiente não terá sido muito provavelmente melhorada.
Serve de atenuante o impacto ser Global, o que é de facto verdade, mas que, ao contrário do que se poderá pensar, numa primeira instância joga a nosso desfavor, pois se é verdade que na crise financeira anterior a emigração para outros países e o investimento provindo de outros países era visto como uma oportunidade, neste contexto alguns destes países poderão vir a apostar num proteccionismo já visível actualmente relativamente ao tema da reabertura das fronteiras.
A outra grande diferença foi a velocidade que demorou a ter face à crise anterior. Enquanto em 2008 os efeitos principais na crise demoraram 3 anos, na actual crise deste ano bastaram apenas 3 meses para se perceber o efeito arrasador.
Após a crise financeira, poderemos estar a vislumbrar uma fortíssima crise social, onde ficará patente o paradoxo do anunciado “Vai correr tudo bem” um desejo generoso e desejável,mas que sabemos já hoje que não passou de uma miragem no que diz respeito às contas públicas, das empresas e das famílias. Correu tudo bem? Não!