Depois de umas primeiras comunicações mais cautelosas, a OMS declarou ontem que estamos num cenário de pandemia. Não é uma surpresa e, como ouvi um médico dizer, não muda nada. Mas é natural que provoque algum alarme na população.
Pelo que sabemos de algumas catástrofes do passado (a que me ocorre de imediato é o naufrágio do Titanic, mas há outras – por exemplo, o incêndio do Bazar de la Charité em Paris, em 1897, já para não dizer que muitos acreditam que Hitler só fez o que fez porque foi deixado em roda livre durante demasiado tempo), um dos erros mais comuns em situações graves é não atacar o problema de imediato e com força.
A China, ao que parece, tomou todas as medidas quando se percebeu a gravidade do surto – talvez não tão cedo quanto devia, mas tomou-as, e conteve os estragos. Itália, pelo contrário, deixou a coisa andar e foi o que se viu: teve de correr atrás do prejuízo e de implementar medidas quase draconianas quando já milhares de pessoas estavam contaminadas; porventura, tarde de mais.
Não adianta de nada sermos alarmistas nem catastrofistas – até porque neste momento há apenas 4600 mortes provocadas pelo novo coronavírus em todo o mundo (no ano passado, só em Portugal morreram cerca de três mil pessoas de gripe). E, no caso português, o clima deverá dar uma ajuda a conter a propagação.
Em todo o caso, é mais inteligente tomar medidas enquanto se tem as coisas sob controlo do que fazê-lo depois, quando se é obrigado por força das circunstâncias.
E a verdade é que, até ver, a seriedade da ameaça não tem correspondência nas medidas adotadas. Se for preciso controlar entradas nas fronteiras, controlem-se. Se for preciso fechar centros comerciais, fechem-se. Se for preciso obrigar pessoas a ficarem de quarentena, obrigue-se as pessoas a ficarem de quarentena. E por aí adiante. Em casos destes, mais vale pecar por algum excesso e tomar a iniciativa do que ser forçado a ir atrás dos acontecimentos e agir já depois de o pandemónio estar instalado.