As bolsas mundiais tiveram ontem um dia para esquecer – mas que, bem pelo contrário, deverá será recordado nos próximos anos. Lisboa fechou a perder 8,6%, Londres desvalorizou perto de 7,7% (o que se traduz em perdas de cerca de 140 mil milhões de euros!), o Dow Jones afundou 7,8%, etc., etc., etc. As negociações em Wall Street chegaram a ter de ser suspensas porque as cotações iam por ali abaixo. Foi uma segunda-feira negra, muito negra mesmo, a pior para os mercados dos últimos dez ou 12 anos.
Para uma economia que tem por receita a livre circulação de pessoas, de bens e de mercadorias, o coronavírus é uma notícia terrível – até porque já se sabe que quando a China espirra, o mundo estremece. Milhões de viagens são canceladas, milhões de pessoas ficam fechadas em casa impedidas de trabalhar (só em Itália estão 60 milhões de quarentena), há fábricas paralisadas, há novas regras e procedimentos que emperram a gigantesca engrenagem do comércio mundial, gera-se um clima de suspeição em relação a tudo o que vem de fora. Os negócios ressentem-se e de que maneira.
A estes fatores, juntou-se ontem a guerra do preço do petróleo entre russos e sauditas, criando as condições para uma tempestade perfeita nas bolsas.
Será esta reação ao coronavírus justificada? Em que medida é que tudo isto nos afeta? Os portugueses devem certamente estar preocupados porque o turismo, que tem sido um dos motores da nossa economia, será uma das indústrias mais prejudicadas. Lisboa é a capital dos cruzeiros – quem quererá fazer uma simpática viagem de barco depois do que se passou com o Diamond Princess, onde os passageiros estiveram durante semanas impedidos de regressar a terra?
Vamos ver como evolui a situação, mas não creio que o afundanço das bolsas de ontem tenha sido um susto passageiro. Ainda recentemente houve quem avisasse que estava uma nova crise a caminho. Por esta hora, talvez já tenha percorrido a parte do trajeto que faltava. Pode dar-se o caso de a “próxima” crise ter chegado à boleia do coronavírus.