A estupidez mata e os Estados são cúmplices do crime


Como é possível que em países civilizados, onde o limite de velocidade é de 120 km/h, sejam comercializados carros e motas que andam a 300 km/h ou mais? O que se espera de quem adquire um destes veículos? Que cumpra os limites?


Na madrugada de domingo, 48 horas depois de três pessoas terem morrido num brutal acidente de automóvel na Segunda Circular, cerca de 200 pessoas pararam os seus carros e cortaram o trânsito daquela artéria, uma das mais importantes da capital.

Podia ter sido uma manifestação pacífica para se acabar de uma vez por todas com as corridas fora-da-lei que ceifam jovens na força da vida. Podia ter sido uma chamada de atenção para os perigos do excesso de velocidade. Podia ter sido um apelo às autoridades para vigiarem melhor as estradas.

Nada disso. O objetivo foi homenagear as vítimas – apresentando-as como mártires ou heróis. Ora, quem, em busca de uma sensação fugaz de euforia, põe em risco a própria vida e a de inocentes, não é uma coisa nem outra.

Poucas horas antes do acidente fatal, as vítimas haviam-se filmado a conduzir a 300 km/h. Já o questionei aqui e volto a questionar: como é possível que em países civilizados, onde o limite de velocidade é de 120 km/h, sejam comercializados carros e motas que andam a 300 km/h ou mais? O que se espera de quem adquire um destes veículos? Que cumpra os limites? Mais: será que já alguém pensou nos benefícios que resultariam para a humanidade se os gigantescos recursos empregues a desenvolver e produzir carros cada vez mais rápidos fossem investidos em melhorar a segurança, a eficiência energética, a sustentabilidade, as estradas, etc.?

Infelizmente dá muito jeito aos Estados que as marcas continuem a produzir veículos superpotentes e que os consumidores continuem a comprá-los. Significa dinheiro em caixa. Desde que as pessoas paguem impostos, não importa que façam corridas, que infrinjam a lei, que atropelem, que cometam estupidezes. Mas isso faz dos Estados cúmplices do crime.

Não há uma forma simpática de dizer isto: conduzir a alta velocidade em estradas públicas partilhadas com outros condutores é uma estupidez. Que me perdoem os meus amigos e leitores que gostam de o fazer. Mas, como dizia Diderot: “Não se é sempre estúpido por havê-lo sido várias vezes”. Ou, colocando a coisa de outra forma: mesmo quem não é estúpido comete estupidezes de vez em quando. Tentemos evitá-las, pois há estupidezes que matam.


A estupidez mata e os Estados são cúmplices do crime


Como é possível que em países civilizados, onde o limite de velocidade é de 120 km/h, sejam comercializados carros e motas que andam a 300 km/h ou mais? O que se espera de quem adquire um destes veículos? Que cumpra os limites?


Na madrugada de domingo, 48 horas depois de três pessoas terem morrido num brutal acidente de automóvel na Segunda Circular, cerca de 200 pessoas pararam os seus carros e cortaram o trânsito daquela artéria, uma das mais importantes da capital.

Podia ter sido uma manifestação pacífica para se acabar de uma vez por todas com as corridas fora-da-lei que ceifam jovens na força da vida. Podia ter sido uma chamada de atenção para os perigos do excesso de velocidade. Podia ter sido um apelo às autoridades para vigiarem melhor as estradas.

Nada disso. O objetivo foi homenagear as vítimas – apresentando-as como mártires ou heróis. Ora, quem, em busca de uma sensação fugaz de euforia, põe em risco a própria vida e a de inocentes, não é uma coisa nem outra.

Poucas horas antes do acidente fatal, as vítimas haviam-se filmado a conduzir a 300 km/h. Já o questionei aqui e volto a questionar: como é possível que em países civilizados, onde o limite de velocidade é de 120 km/h, sejam comercializados carros e motas que andam a 300 km/h ou mais? O que se espera de quem adquire um destes veículos? Que cumpra os limites? Mais: será que já alguém pensou nos benefícios que resultariam para a humanidade se os gigantescos recursos empregues a desenvolver e produzir carros cada vez mais rápidos fossem investidos em melhorar a segurança, a eficiência energética, a sustentabilidade, as estradas, etc.?

Infelizmente dá muito jeito aos Estados que as marcas continuem a produzir veículos superpotentes e que os consumidores continuem a comprá-los. Significa dinheiro em caixa. Desde que as pessoas paguem impostos, não importa que façam corridas, que infrinjam a lei, que atropelem, que cometam estupidezes. Mas isso faz dos Estados cúmplices do crime.

Não há uma forma simpática de dizer isto: conduzir a alta velocidade em estradas públicas partilhadas com outros condutores é uma estupidez. Que me perdoem os meus amigos e leitores que gostam de o fazer. Mas, como dizia Diderot: “Não se é sempre estúpido por havê-lo sido várias vezes”. Ou, colocando a coisa de outra forma: mesmo quem não é estúpido comete estupidezes de vez em quando. Tentemos evitá-las, pois há estupidezes que matam.