O CDS já tem cinco candidaturas à liderança anunciadas e Nuno Melo, eurodeputado e o primeiro subscritor da moção “Direita Autêntica” a congresso, quer criar bases de entendimento para acautelar a coesão interna do partido e já falou com três candidatos: João Almeida, Filipe Lobo d’Ávila e Francisco Rodrigues dos Santos. Assim, “independentemente do número de candidaturas e do resultado delas, [é necessário] ser criado um bom espaço de diálogo que, depois do congresso, ajude à governação do partido”, declarou ao i o eurodeputado.
Numa conversa por telefone a partir de Estrasburgo, Nuno Melo até fez uma confissão: “Não serei candidato. E digo-lhe com toda a franqueza: não serei candidato porque sou deputado ao Parlamento Europeu e garanto-lhe que já teria apresentado uma candidatura se fosse deputado à Assembleia da República”. A confissão surge com um histórico do passado, quando foi líder parlamentar do CDS-PP e criticou o então presidente do partido, José Ribeiro e Castro, por ser eurodeputado e estar fora do Parlamento. A coerência das críticas do passado ditam-lhe a inibição de concorrer, a que acrescenta um dado mais pragmático: a importância de travar debates com o primeiro-ministro na Assembleia da República.
Ainda assim, Nuno Melo sentiu-se na obrigação de entregar uma moção ao congresso, escrita também com o deputado Telmo Correia (para levar ao congresso nos próximos dias 25 e 26 de janeiro, em Aveiro) e tentar ajudar no processo de agregação e crescimento do partido. Afinal, o próximo líder terá de gerir o processo das eleições autárquicas e umas eleições presidenciais.
“Eu poderia estar tranquilamente sentado à espera de um desfecho, na certeza de que o meu tempo de mandato [no Parlamento Europeu] está muito para além do ciclo, pelo menos, de dois congressos. Sucede que todos nós temos uma responsabilidade perante o partido”, declarou ao i Nuno Melo, já no final de uma conversa sobre o desafio que lançou, a par de Telmo Correia, às várias candidaturas para a presidência do CDS.
“Gostávamos que as pessoas falassem e expusessem os pontos de discórdia e os pontos que, eventualmente, possam ser consensualizáveis”, prosseguiu Nuno Melo, que espera encontrar a tal base de entendimento antes de se chegar ao congresso, pois o “adversário político e ideológico não está dentro do CDS”. A advertência de Nuno Melo serve para defender – e consolidar – a ideia de que o partido está fragilizado pelos resultados eleitorais e que o tempo não deve ser de ajustes de contas.
“O ideal será que os bons patamares de entendimento aconteçam antes e persistam, na medida do possível, para lá da realização do congresso”, argumentou também Nuno Melo, assegurando que a solução mais inteligente para o futuro é “agregar e promover a concórdia”, depois de o CDS ter perdido dois terços da sua bancada, tendo ficado reduzido a cinco mandatos.
“Não serei tão otimista de que não teremos carrascos ou vendetas, porque, enfim, a natureza humana revela-nos que, normalmente, nos momentos difíceis há sempre quem queira construir e outros querem punir. A nossa perspetiva é de quem quer construir”, afirmou o eurodeputado.
“Essas candidaturas estão lá para dizer o que sucedeu mal e lançar, de forma positiva, um projeto em relação ao futuro? Ou estarão lá, noutros casos, a apontar o dedo, cortar cabeças e basicamente a dizer (…) nós estamos aqui para fazer um novo partido, como se todos não fôssemos, neste momento, muito poucos?” A pergunta serve de alerta para os dois caminhos possíveis do CDS. Nuno Melo lembrou ainda que “um congresso não é propriamente um conselho nacional que acontece à porta fechada. Um congresso é um grande espaço de discussão, mas também é um grande espaço mediático”. Ou seja, “se o congresso for fundamentalmente conflituoso, teremos uma disputa e um resultado e, no final, teremos uma franja do partido alheada”, sobretudo porque as disputas internas no CDS são “tradicionalmente muito difíceis”.
Nuno Melo assegura que não tem animosidade para com nenhum dos candidatos – é, aliás, amigo de alguns –, reconhece-lhes capacidades e promete dar tudo “o que possa, e não possa, em favor do CDS”. Para já, diz ter a garantia de disponibilidade para conversas tanto de Francisco Rodrigues dos Santos (que apresentou a sua candidatura no Porto, com um discurso de 28 minutos), como de João Almeida e de Filipe Lobo d’Ávila. As moções a congresso terão de ser entregues até ao próximo dia 27.