A honra de Flor, Panama Papers e Watergate


Quando era criança assisti a várias discussões em que uma maioria de amigos, constituída por diversas razões – económicas, culturais, etc. –, tentava desfazer quem não se encaixava na sua vidinha de preconceitos, estereótipos e bacoquices. 


Esse grupo, como estava em maioria, conseguia às vezes isolar essa personagem que pensava diferentemente e não pertencia ao grupo. E foi nesses grupos que pensei quando vi mais de 140 jornalistas – de boas castas – subscreverem um abaixo-assinado em honra de Maria Flor Pedroso, a diretora demitida da RTP, condenando dessa forma a atitude de Sandra Felgueiras e da equipa do Sexta às 9, que pôs em causa a tal honra de Pedroso.

E lembrei-me também dos gurus da deontologia que nunca disseram nada sobre o famoso caso Panama Papers, em que um consórcio de jornalistas denunciou, e bem, quem fez lavagem de dinheiro, mas que, e mal, não revelou o nome dos jornalistas que foram pagos por essas empresas.

Voltando àqueles que defendem os subscritores do abaixo-assinado, e que acham que o jornalismo está a caminhar para o abismo, digo que esses, como me dizia um amigo meu, tentam “teorizar entre o bom e o mau jornalismo, para defender, na prática, Flor Pedroso e o cortejo corporativo que a apoiou no abaixo-assinado, sem averiguar primeiro a verdade dos factos e estando-se nas tintas para a própria opinião dos jornalistas e da redação da RTP”. Querem, pois, fazer-nos acreditar que há dois tipos de jornalismo: o de referência, “cheio de ética e de princípios (que atropela mal se apanha no poleiro de um órgão de comunicação social…)” e o jornalismo de investigação, o mau da fita. O primeiro, como sabemos, “convive com um sorriso nos lábios com os vários poderes instalados, sempre com muita ética e a transbordar de cuidados deontológicos”. O segundo, diz esse meu amigo e digo eu, mesmo com “insuficiências e erros, já fez cair ministros, banqueiros, presidentes de câmara ou qualquer responsável de uma grande empresa ou instituição”. Não é, pois, de estranhar que os arautos da deontologia tenham “inveja e raiva dos jornalistas que são capazes de fazer jornalismo a sério, de investigar, de incomodar, de pôr a nu as misérias e ilegalidades da política e da sociedade. Estes jornalistas ‘de referência’ até teriam acusado Woodward e Bernstein de falta de elementos e de fundamentos no caso Watergate”. Nem mais!


A honra de Flor, Panama Papers e Watergate


Quando era criança assisti a várias discussões em que uma maioria de amigos, constituída por diversas razões – económicas, culturais, etc. –, tentava desfazer quem não se encaixava na sua vidinha de preconceitos, estereótipos e bacoquices. 


Esse grupo, como estava em maioria, conseguia às vezes isolar essa personagem que pensava diferentemente e não pertencia ao grupo. E foi nesses grupos que pensei quando vi mais de 140 jornalistas – de boas castas – subscreverem um abaixo-assinado em honra de Maria Flor Pedroso, a diretora demitida da RTP, condenando dessa forma a atitude de Sandra Felgueiras e da equipa do Sexta às 9, que pôs em causa a tal honra de Pedroso.

E lembrei-me também dos gurus da deontologia que nunca disseram nada sobre o famoso caso Panama Papers, em que um consórcio de jornalistas denunciou, e bem, quem fez lavagem de dinheiro, mas que, e mal, não revelou o nome dos jornalistas que foram pagos por essas empresas.

Voltando àqueles que defendem os subscritores do abaixo-assinado, e que acham que o jornalismo está a caminhar para o abismo, digo que esses, como me dizia um amigo meu, tentam “teorizar entre o bom e o mau jornalismo, para defender, na prática, Flor Pedroso e o cortejo corporativo que a apoiou no abaixo-assinado, sem averiguar primeiro a verdade dos factos e estando-se nas tintas para a própria opinião dos jornalistas e da redação da RTP”. Querem, pois, fazer-nos acreditar que há dois tipos de jornalismo: o de referência, “cheio de ética e de princípios (que atropela mal se apanha no poleiro de um órgão de comunicação social…)” e o jornalismo de investigação, o mau da fita. O primeiro, como sabemos, “convive com um sorriso nos lábios com os vários poderes instalados, sempre com muita ética e a transbordar de cuidados deontológicos”. O segundo, diz esse meu amigo e digo eu, mesmo com “insuficiências e erros, já fez cair ministros, banqueiros, presidentes de câmara ou qualquer responsável de uma grande empresa ou instituição”. Não é, pois, de estranhar que os arautos da deontologia tenham “inveja e raiva dos jornalistas que são capazes de fazer jornalismo a sério, de investigar, de incomodar, de pôr a nu as misérias e ilegalidades da política e da sociedade. Estes jornalistas ‘de referência’ até teriam acusado Woodward e Bernstein de falta de elementos e de fundamentos no caso Watergate”. Nem mais!