Arrancam calhaus da calçada e arremessam-nos contra as autoridades ou contra as vitrinas das lojas. Incendeiam pneus e caixotes do lixo, libertando nuvens de fumo tóxico. Obrigam ao encerramento de estações de metro; bloqueiam estradas; destroem paragens de autocarro. Queimam motas e viram ao contrário automóveis de cidadãos comuns. Retiram tampas de esgoto pelo prazer de causar prejuízos. Andam de cara tapada para não serem identificados e pedem a demissão de um Presidente democraticamente eleito há apenas dois anos.
É assim que, em França, desde novembro de 2018 milhares de pessoas lutam por mais democracia e por um mundo melhor: causando prejuízos, perturbando a vida de toda a gente, vandalizando, prejudicando a economia e o turismo, semeando o caos e a destruição numa das mais belas capitais da Europa. Refiro-me, claro, ao admirável mundo novo dos coletes amarelos.
Ao fim de um ano de vida o movimento perdeu gás, mas não morreu, e não falta quem se solidarize com ele. Muitos alegarão que os atos que referi são perpetrados por elementos estranhos, que aproveitam a confusão para levar a cabo as suas intenções malignas. Ovelhas tresmalhadas que desvirtuam os propósitos de um protesto essencialmente bem-intencionado e de índole pacífica. Julgo que não será exatamente assim.
A indignação dos coletes amarelos contém um fundo de violência e de revolta contra a sociedade de que os atos de vandalismo são apenas uma tradução extrema. Ao mesmo tempo, é impossível ignorar que os protestos criam as condições ideais para germinarem estes grupos de vândalos, marginais e simples energúmenos. Curiosamente, em Portugal há muita gente que simpatiza com o movimento.
Por um lado, acharão justas as reivindicações de mais poder de compra para as classes baixa e média – mesmo sabendo que em França o ordenado mínimo é de 1500 euros mensais. Por outro, talvez lhes agrade a ideia de ver o poder cair na rua. Pois a mim isso assusta-me. Mesmo quando movida por belos ideais, a turbamulta é capaz de fazer coisas terríveis.