Tendo em mãos uma história bombástica, seria natural que a televisão pública lhe tivesse dado gás, mas não. Também seria natural que a RTP tivesse seguido os desenvolvimentos da história e chamado os autores do programa à antena para se defenderem das acusações de desonestidade de um secretário de Estado. Mas também não o fez.
Recordemos um pouco o que se passou com o Sexta às 9. Foi tirado da antena durante a campanha eleitoral, só voltando depois de se saberem os resultados da noite eleitoral. Curiosamente, o secretário de Estado que esteve ausente durante toda a campanha eleitoral haveria de regressar na noite de 6 de outubro para comentar as eleições, precisamente na RTP. João Galamba era um dos visados da peça adiada e que dava conta de que o Ministério Público abriu um inquérito-crime sobre a concessão de exploração de lítio, durante 35 anos, a uma empresa criada três dias antes, e sem que tivesse sido feito um estudo de impacto ambiental. A reportagem questiona este e outros assuntos com pontas soltas, envolvendo um antigo secretário de Estado que agora colabora com a empresa que ganhou a licença, dando ainda conta que o ex-diretor da Direção-Geral de Energia e Geologia, que Galamba exonerou em novembro do ano passado, não teria aprovado o projeto autorizado quatro meses depois da sua saída.
O que se passa na RTP para não valorizar as suas histórias? Se não acredita nelas porque as publica? Será que a direção editorial tem medo das peças incómodas para o poder que os seus jornalistas fazem? E todos, tirando Rui Rio – o que terá acontecido para acordar do seu silêncio? – acham isto normal? Cândida Pinto, diretora adjunta da RTP e responsável pela informação não diária, sempre tão ávida de justiça, não quis defender a sua empresa publicamente? E será que João Galamba não processará a RTP por causa das “mentiras”? Se o fizer, o que dirá a direção do canal público em tribunal? Continuará a defender o governante ou os seus jornalistas?