As obras de Salgado. Dez projetos que deram que falar

As obras de Salgado. Dez projetos que deram que falar


Já foi comparado ao Marquês de Pombal pela sua capacidade de deixar obra feita. Quer como arquiteto, quer como vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa, Manuel Salgado está associado a algumas das mais importantes realizações das últimas décadas. Do CCB à polémica torre de Picoas, aqui recordamos dez delas:


Arquiteto

Centro Cultural de Belém, 1993 

Implantado no local de uma fábrica de pneus abandonada, o projeto imaginado pelo italiano Vittorio Gregotti e Manuel Salgado para o CCB apresenta reminiscências do edifício que foi erguido naquele local para a exposição do Mundo Português, em 1940. O CCB, cuja construção se iniciou em 1988, foi considerado o “elefante branco” do cavaquismo e gerou controvérsia, tendo-se dito, na altura, que a construção iria tapar a vista do Mosteiro dos Jerónimos. Ficou pronto, como previsto, para Lisboa Capital da Cultura (1994) e desde então as críticas foram esmorecendo e tornou-se um projeto praticamente consensual.

Espaços públicos da Expo 98 

“Se à Exposição de Lisboa pudesse ser atribuída autoria […] o nome de Manuel Salgado figuraria na primeira linha”, escreveu o comissário António Mega Ferreira. Salgado ficou encarregado da definição e articulação dos espaços públicos, dando coerência urbanística aos edifícios projetados por diferentes arquitetos. Da definição de zonas para peões e zonas para carros à iluminação, pavimentos, alinhamentos de árvores e até à escolha das tampas para esgotos, tudo passou pelo crivo do arquiteto. 

Estádio do Dragão, 2003

Construído para o Euro 2004, acolheu a cerimónia de abertura do torneio a 12 de julho daquele ano, embora tenha sido inaugurado ainda no ano anterior. A sua edificação ficou marcada por conflitos entre o FC Porto, proprietário do estádio, e a Câmara do Porto, à época liderada por Rui Rio, o que provocou atrasos na concretização da obra. Custou cerca de 100 milhões de euros. Moderno e elegante, hoje é visto como um dos mais bem conseguidos estádios da “fornada” do Euro 2004. 

Hospital da Luz, 2007

Com instalações modernas e arejadas, a unidade, situada na zona de Benfica, perto do Estádio da Luz, deu o mote para uma nova geração de hospitais em Portugal. O projeto, que originalmente pertencia ao grupo Espírito Santo (liderado por Ricardo Salgado, primo do arquiteto), foi distinguido com o Prémio Valmor em 2007.

Altis Belém, 2009
Situado na doca de Belém, tem uma planta em forma de T composta por uma ala de três pisos discreta e um volume perpendicular. No topo, do lado do rio, há um terraço com piscina. O exterior é revestido com um sistema de persianas que podem ser ajustadas consoante a luminosidade. Tem 50 quartos e custou 12 milhões de euros. Não muito longe dali, encontra-se o Vila Galé Ópera, um projeto também de Salgado mas completamente diferente, tratando-se de uma construção em altura revestida a tijolo.

Vereador

Ribeira das Naus, 2014

O mandato de Salgado como vereador do urbanismo e vice-presidente da Câmara de Lisboa ficará para sempre associado à requalificação da Ribeira das Naus, a zona ribeirinha que liga o Cais do Sodré ao Terreiro do Paço. O projeto de João Nunes, Carlos Ribas e João Gomes da Silva, iniciado em 2009 e concluído em 2014, não esteve isento de percalços, mas o conceito de praia urbana resultou em pleno. A ligação entre a cidade e o rio saiu reforçada e, com a reconstituição da Doca Seca e da Doca da Caldeirinha, foi recuperado um pedaço de história.

Torre de Picoas, 2018

A torre de escritórios da autoria de Patrícia Barbas tem estado sob fogo pela sua volumetria imponente. Mas há quem também considere todo o processo de licenciamento suspeito. O lote onde se encontra o edifício pertenceu durante 20 anos ao engenheiro e promotor imobiliário Armando Martins, que viu serem rejeitados sucessivos projetos para ali. Até que, pressionado, teve de entregar o terreno ao BES de Ricardo Salgado. Segundo o antigo vereador Nunes da Silva, a partir daí a posição da Câmara mudou, tendo sido rapidamente aprovado um projeto com uma área superior à que Armando Martins pretendia.

Hotel em Santa Apolónia, 2021

Depois do anúncio da reconversão da histórica estação lisboeta, em janeiro deste ano foi noticiado que a Sonae Capital venceu o concurso para a concessão do espaço. O projeto inclui um hotel de quatro estrelas, numa área total de nove mil metros quadrados, que está previsto abrir no primeiro semestre de 2021. A concessão dura 35 anos e a estação de caminho-de-ferro continuará a funcionar.

Portugália Plaza, 2021

A nova torre de 16 andares que está previsto nascer no quarteirão da emblemática cervejaria Portugália suscitou uma enorme controvérsia entre os lisboetas e é dada como um exemplo da cedência da Câmara municipal à força dos interesses imobiliários. O projeto inicial, com 60 metros de altura, destaca-se dos edifícios circundantes, com cerca de metade – ou menos – da altura, mas uma segunda versão prevê um corte de 11 metros, ficando assim a torre com 49.

Linha circular do Metro, 2023

Um dos legados de Salgado como vereador do Urbanismo da CML será a linha circular do Metro de Lisboa. O concurso para a ligação subterrânea do Rato ao Cais do Sodré, que inclui duas novas estações, foi lançado em janeiro deste ano. Esta extensão deverá representar mais nove milhões de passageiros por ano, mas tem sido alvo de contestação. Para Nunes da Silva, antigo vereador da Mobilidade, a linha circular, que só serve o centro de Lisboa, “mostra bem o que é a visão da cidade” de Salgado, “que é apenas a do turismo e dos grandes negócios imobiliários”. A extensão deverá ficar pronta em 2023.