O dinheiro do combate aos fogos anda a ser gasto em folclore


O ministro da Administração Interna tem andado irritadiço e compreende-se porquê. A época dos fogos deve ser extenuante para alguém com as suas responsabilidades – e em ano de eleições ainda pior.


O ministro da Administração Interna tem andado irritadiço e compreende-se porquê. A época dos fogos deve ser extenuante para alguém com as suas responsabilidades – e em ano de eleições ainda pior.

A propósito da barracada em torno das 70 mil golas inflamáveis distribuídas pela Proteção Civil nas aldeias mais vulneráveis ao fogo, Eduardo Cabrita disse que não se deve perder tempo com uma “controvérsia estéril”. O ministro está cheio de razão. Só que a questão, embora tenha qualquer coisa de anedótico, não é estéril. Bem pelo contrário, merece um escrutínio atento.

Já antes, face às dúvidas que se haviam instalado, a Autoridade da Proteção Civil esclarecera que os “kits de proteção” distribuídos nas aldeias afinal não servem para proteger ninguém nem coisa nenhuma, mas apenas para “sensibilizar” as populações. Um responsável da empresa que vendeu as golas deu uma explicação parecida: elas enquadram-se numa lógica de “merchandising” e “propaganda”. Por outras palavras, o Estado gastou cerca de 125 mil euros (se contarmos só com as golas) em folclore – ou, se quisermos ser ainda mais acutilantes, em lixo, que é o nome que merece aquilo que não tem utilidade e só serve para poluir. Mas o pior ainda estava para vir, quando se soube que a empresa que vendeu as golas, ainda por cima ao dobro do preço de mercado, pertence ao marido de uma autarca do PS, numa situação clara de promiscuidade entre o poder político e os negócios.

O Governo ordenou a abertura imediata de um inquérito para apurar o sucedido. Mas na verdade nem era preciso inquérito, porque não há mistério nenhum. O que se passou é bastante claro: mais uma vez, alguém andou a ganhar umas coroas à custa dos incêndios e da desgraça dos outros; mais uma vez, houve um conluio para favorecer pessoas ligadas ao PS; e mais uma vez os contribuintes pagam a fatura. Não podia ser mais simples.

P.S. A atribuição do nome da ativista brasileira Marielle Franco a uma rua de Lisboa parece bizarra e aponta para a existência de grupos de pressão que são muito eficazes a divulgar as suas causas e a obter aquilo que pretendem.