Em defesa de Fátima Bonifácio


Ao contrário de muito boa gente, não penso que a sociedade portuguesa seja racista. Há, sim, palermas que acham que a cor ou a religião determinam o grau de superioridade de umas raças em relação às outras. Vivi em África e não foi por ter sido vítima de algumas atitudes racistas, poucas, que fiquei a…


O artigo de OPINIÃO de Maria de Fátima Bonifácio publicado no Público do último sábado provocou um pequeno terramoto cá no burgo, com muito boa gente a pedir a cabeça da historiadora, levando mesmo o jornal a pedir desculpa, no dia seguinte, pela publicação do referido artigo, alegando que o conteúdo do mesmo põe em causa “ideias, apologias e valores que o Público contraria todos os dias”, escreveu Manuel Carvalho, diretor do jornal. Sem querer pôr estopa onde não sou chamado, sempre tive a ideia de que o jornal era um espaço aberto onde as pessoas podem expor as suas ideias, independentemente de se concordar com elas ou não. Mas enfim.

Fátima Bonifácio escreveu que a proposta do PS de elaborar quotas para negros e ciganos “não passa de uma farsa multicultural igualitarista. Não, não podemos integrar por decreto”, disse. A parte mais polémica do artigo dizia que os negros e os ciganos “não descendem dos Direitos Universais do Homem”, mas basta uma rápida leitura desses direitos para se perceber ao que a historiadora se referia. Olhemos para o artigo 3.o: “Todas as pessoas têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”; artigo 5.o: “Ninguém será submetido a tortura nem a punição ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes”. Depois, a historiadora dava exemplos de crianças ciganas que não têm o direito de escolher com quem casam, de frequentarem a escola, etc. Escrevia também sobre a excisão genital feminina praticada em comunidades muçulmanas.

Parece-me que isto é líquido, embora a formulação do texto seja um pouco incendiária.

Ao contrário de muito boa gente, não penso que a sociedade portuguesa seja racista. Há, sim, palermas que acham que a cor ou a religião determinam o grau de superioridade de umas raças em relação às outras. Vivi em África e não foi por ter sido vítima de algumas atitudes racistas, poucas, que fiquei a achar que o povo é todo racista. Não é, e o mesmo se passa em Portugal.

Mas o mais grave desta história toda é a defesa da censura que muitos fizeram. Fátima Bonifácio não pode pensar como quer? Onde é que há incitação à violência no seu texto? Pode discordar-se, e eu discordo de algumas passagens – é óbvio que se os negros estão em guetos é porque são enviados para lá, por exemplo –, mas isso não pode servir para usarmos o lápis azul para aquilo com que não concordamos.


Em defesa de Fátima Bonifácio


Ao contrário de muito boa gente, não penso que a sociedade portuguesa seja racista. Há, sim, palermas que acham que a cor ou a religião determinam o grau de superioridade de umas raças em relação às outras. Vivi em África e não foi por ter sido vítima de algumas atitudes racistas, poucas, que fiquei a…


O artigo de OPINIÃO de Maria de Fátima Bonifácio publicado no Público do último sábado provocou um pequeno terramoto cá no burgo, com muito boa gente a pedir a cabeça da historiadora, levando mesmo o jornal a pedir desculpa, no dia seguinte, pela publicação do referido artigo, alegando que o conteúdo do mesmo põe em causa “ideias, apologias e valores que o Público contraria todos os dias”, escreveu Manuel Carvalho, diretor do jornal. Sem querer pôr estopa onde não sou chamado, sempre tive a ideia de que o jornal era um espaço aberto onde as pessoas podem expor as suas ideias, independentemente de se concordar com elas ou não. Mas enfim.

Fátima Bonifácio escreveu que a proposta do PS de elaborar quotas para negros e ciganos “não passa de uma farsa multicultural igualitarista. Não, não podemos integrar por decreto”, disse. A parte mais polémica do artigo dizia que os negros e os ciganos “não descendem dos Direitos Universais do Homem”, mas basta uma rápida leitura desses direitos para se perceber ao que a historiadora se referia. Olhemos para o artigo 3.o: “Todas as pessoas têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”; artigo 5.o: “Ninguém será submetido a tortura nem a punição ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes”. Depois, a historiadora dava exemplos de crianças ciganas que não têm o direito de escolher com quem casam, de frequentarem a escola, etc. Escrevia também sobre a excisão genital feminina praticada em comunidades muçulmanas.

Parece-me que isto é líquido, embora a formulação do texto seja um pouco incendiária.

Ao contrário de muito boa gente, não penso que a sociedade portuguesa seja racista. Há, sim, palermas que acham que a cor ou a religião determinam o grau de superioridade de umas raças em relação às outras. Vivi em África e não foi por ter sido vítima de algumas atitudes racistas, poucas, que fiquei a achar que o povo é todo racista. Não é, e o mesmo se passa em Portugal.

Mas o mais grave desta história toda é a defesa da censura que muitos fizeram. Fátima Bonifácio não pode pensar como quer? Onde é que há incitação à violência no seu texto? Pode discordar-se, e eu discordo de algumas passagens – é óbvio que se os negros estão em guetos é porque são enviados para lá, por exemplo –, mas isso não pode servir para usarmos o lápis azul para aquilo com que não concordamos.