Rui Rio voltou ontem a falar da derrota do PSD nas eleições europeias para assumir as suas responsabilidades, mas rejeita que a culpa seja só do líder. “Não sou hipócrita ao ponto de dizer que a culpa é toda minha. Fica bem dizer, mas não é, é repartida e a minha também lá está”, disse o presidente do PSD, após a audiência com o Presidente da República.
Rui Rio reuniu-se esta semana com as distritais do partido e as notícias publicadas sobre o encontro davam conta de que o líder do partido tinha atirado as culpas para os críticos internos, a comunicação social e o cabeça-de-lista do PSD, Paulo Rangel, por ter feito uma campanha agressiva. Confrontado com estas notícias, Rui Rio garantiu que não descarta as suas responsabilidades. “É evidente que sou líder do partido e, se o partido vai a eleições e tem um dado resultado, bom ou mau, eu tenho uma quota de responsabilidade grande, só se eu tivesse perdido o juízo é que não dizia uma coisa destas”.
Rui Rio assume que o resultado não foi bom para o PSD, mas desvalorizou a vitória dos socialistas. “Uma coisa é não ser bom para o PSD, outra é fazer da vitória do PS uma grande vitória. Não foi, 33% não é uma grande vitória, é também uma vitória por poucochinho”, disse.
Rio mais perto de Marcelo
O PSD não conseguiu atingir os 22% nas europeias e teve o pior resultado de sempre. Após a derrota do PSD, o Presidente da República admitiu que existe “uma forte possibilidade de haver uma crise na direita portuguesa nos próximos anos”.
O PSD não gostou de ouvir Marcelo Rebelo de Sousa antecipar uma vitória do PS nas eleições legislativas, mas Rio Rio, que já tinha classificado como “superficial” o comentário do chefe de Estado, suavizou o discurso e garantiu que “a nossa leitura não é assim tão distante daquilo que é a leitura do Presidente da República”.
Rui Rio voltou, porém, a negar que exista o risco de uma crise na direita, porque aquilo que existe é “uma crise no sistema político”.
Apesar da pesada derrota do PSD, Rui Rio praticamente não foi alvo, desta vez, de contestação interna. Só faltam quatro meses para as legislativas e os críticos da atual liderança preferem esperar para não provocarem uma crise interna em cima das eleições. Jorge Moreira da Silva, ex-vice-presidente do PSD, foi dos poucos a defender que Rui Rio devia ter abandonado a liderança.
Degradação brutal À saída de Belém, o presidente do PSD, acompanhado por Fernando Negrão, David Justino e Elina Fraga, atacou o Governo por causa da degradação dos serviços públicos. “Aquilo que mais nos preocupa é a situação em que se encontram os serviços públicos. Desde que este Governo entrou em funções, os serviços públicos tiveram uma degradação brutal”. Exemplos disso são o Serviço Nacional de Saúde, os atrasos na atribuição de reformas pela Segurança Social ou a degradação nos transportes públicos.
Rui Rio defendeu que existem “problemas claros no presente”, mas também no futuro, por causa das “políticas que estão a ser seguidas”. Para o presidente do PSD, existem sinais “preocupantes” na balança de pagamentos com as importações a crescerem mais do que as exportações.
No debate quinzenal, o PSD concentrou as críticas ao Governo nos problemas com os transportes públicos. “Aconselho vivamente o primeiro-ministro a ir fazer uma viagem [de barco] do Barreiro para Lisboa de manhã ou de Lisboa para o Barreiro ao fim da tarde, juntamente com os portugueses que não têm condições”, afirmou Fernando Negrão. O líder parlamentar do PSD vai reunir-se amanhã com a administração da Soflusa e com os sindicatos.