Quando a corrupção chega onde não esperávamos


Enquanto muitos se esfalfam no dia-a-dia para garantir uma sobrevivência digna e cumprir com as suas obrigações, uma minoria privilegiada que ocupa cargos de decisão – e por isso tem responsabilidades acrescidas – dedica-se a esquemas e negociatas que movimentam muito dinheiro, numa espécie de realidade que corre à margem da lei e paralelamente à…


Banca, desporto, poder local, organismos públicos, turismo, instituições de solidariedade social e agora até a saúde… para onde quer que olhemos, encontramos graves suspeitas de corrupção que vão corroendo a sociedade e minando a credibilidade do próprio sistema democrático.

Enquanto muitos se esfalfam no dia-a-dia para garantir uma sobrevivência digna e cumprir com as suas obrigações, uma minoria privilegiada que ocupa cargos de decisão – e por isso tem responsabilidades acrescidas – dedica-se a esquemas e negociatas que movimentam muito dinheiro, numa espécie de realidade que corre à margem da lei e paralelamente à vida do cidadão comum. Anteontem foi noticiado um caso de recebimento de subornos para facilitar a obtenção de licenças para os motoristas da Uber, Cabify e outras plataformas de transporte.

Ontem ficámos a saber da detenção de dois autarcas do PS e do diretor do IPO do Porto, suspeitos de “viciação fraudulenta de procedimentos concursais e de ajuste direto com o objetivo de favorecer primacialmente grupos de empresas, contratação de recursos humanos e utilização de meios públicos com vista à satisfação de interesses de natureza particular”, segundo um comunicado da PJ. Que haja corrupção no futebol ou nos negócios não temos dificuldade em compreender. Mas quando a desonestidade alastra a instituições de solidariedade – como a Raríssimas –, se apropria de donativos feitos de boa fé para ajudar os afetados – como em Pedrógão Grande – ou atinge uma instituição que devia estar acima de qualquer suspeita, como o IPO do Porto, gera-se um sentimento de desilusão e desconfiança generalizado.

Este fenómeno tem ainda outra consequência perversa. É que, para evitar os tais abusos, criam-se regras ainda mais apertadas, que dificultam a vida aos serviços, aos seus utilizadores e às empresas. Tão apertadas, às tantas, que só com um “incentivo” ou um “subornozinho” se consegue desbloquear a situação e fazer alguma coisa…