O que é o Arquivo? A cidade em questão

O que é o Arquivo? A cidade em questão


Entre hoje e sexta, artistas e investigadores juntam-se na Biblioteca de Marvila e tomam a cidade com tema a partir desta zona de Lisboa que, nos últimos anos, tem assistido a uma modificação sem precedentes na sua história.


Decorre, de 15 a 17 de maio na Biblioteca de Marvila, o terceiro laboratório do ciclo “O que é o Arquivo?”. Organizado pelo Arquivo Municipal de Lisboa – Videoteca, em parceria com o projeto “Fragmentação e Reconfiguração: a experiência da cidade entre arte e filosofia”, com curadoria de Inês Sapeta Dias, Joana Ascensão, Maria do Mar Fazenda, Nélio Conceição e Susana Nascimento Duarte, este terceiro laboratório tem como tema um problema que, nos últimos anos, tem vindo a ganhar uma visibilidade crescente: o problema da cidade. 

Ao longo de três dias, um conjunto bastante diversificado de investigadores e artistas irá encontrar-se na Biblioteca de Marvila, uma zona particularmente interessante tendo em conta que se encontra em processo de modificação acelerada, para discutir, em 3 mesas de trabalho, um conjunto alargado de questões que, do urbanismo à arte, passando pela filosofia ou pela arquitetura, são hoje levantadas por esse objeto relativamente recente na história, as megápolis onde uma parcela cada vez maior da população mundial vive.

Em declarações a este jornal, Maria do Mar Fazenda, uma das organizadoras, explica que a decisão de organizar o último laboratório se prendeu a diversos fatores: “apesar de organizados pelo Arquivo Municipal, os dois primeiros laboratórios tiveram lugar em espaços não camarários: a Fundação Calouste Gulbenkian e a Cinemateca Portuguesa; e como se tratava de um espaço camarário, para mais numa zona que tem tido bastante atenção por parte da Câmara Municipal de Lisboa, foi tomada a decisão de organizar aqui o último laboratório.” Acrescenta, no entanto, que “não se quiseram restringir aos problemas que digam apenas respeito a Marvila, mas sim aqueles que, dizendo também respeito a Marvila, consigam extravasar esta localização”. 

“Espaço Expectante”, terceiro e último laboratório – o primeiro, dedicado às relações entre arte e arquivo, decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em 2017, o segundo, sobre cinema, teve como parceiro a Cinemateca -, conta com a artista Alexandra Carmo, o antropólogo Eduardo Ascensão a investigadora e arquiteta Joana Braga e o fotógrafo Paulo Catrica na primeira mesa de trabalho. Nesta, que tem por título “Território. Desenho e planeamento”, serão discutidos os problemas decorrentes deste, principalmente aquele que hoje é, em Lisboa, um dos problemas mais importante para a política municipal: a habitação.

Se a primeira mesa terá por âmbito pensar o território urbano, a segunda, que começa às 10:00 de dia 16, encara a cidade a partir de uma multiplicidade de camadas temporais diferentes, que interagem entre si. Tendo como título “Estratos: tempo”, junta Ana Alcântara, historiadora especialista em História Urbana, da Indústria e dos Transportes Portugueses entre o século XIX e XX, Luís Santiago Batista, arquiteto e crítico de arquitetura e Maria Filomena Molder, conhecida pensadora e uma das autoras de um programa recente da Antena 2, “Ruas de Sentido Único”, também ele vocacionado para pensar a cidade. 

A terceira mesa, na parte da tarde de dia 16, aproxima-se da temática do primeiro dia. Tendo por título “Terreno: ocupação”, junta a artista Carla Filipe, a realizadora e antropóloga Catarina Alves Costa, o professor universitário José Bragança de Miranda e Susana Ventura, investigadora no Centro de Estudos Arquitectura e Urbanismo. Nesta mesa de trabalho já não serão os problemas relativos ao território que estarão em causa – problemas com um foco mais politico como a habitação e as relações sociais que decorrem do urbanismo -, mas as possibilidades inscritas num espaço afirmado como improdutivo, subtraído a lógicas comerciais e com capacidade de criação comunitária. 

Por fim, o último dia será ocupado com uma sessão de cinema ao ar livre nas imediações da Biblioteca de Marvila, com começo às 21:30, onde serão visionados uma reportagem da RTP de 1974, com o título “A Primeira Árvore no Parque de Chelas”, um documentário de 1967 do realizador brasileiro Joaquim Pedro de Andrade, intitulado “Brasília: contradições de uma cidade nova”, uma curta-metragem de 2004, do realizador português João Vladimiro, que tem por título “Pé na Terra” e, por último, “Fire Child”, do artista americano Gordon Matta-Clark.