Há mortos por todo o lado


“Tenho três por cento de bateria, dois cigarros e umas barras energéticas que trouxe de Maputo que vou gerindo. Já não tenho água para beber e tão-pouco para tomar banho”, confessava-me Vítor Gonçalves, responsável pelo jornal Sol do Índico e que fez um texto para o i. A chamada caiu, mas ainda conseguiu enviar-me mais…


“Tenho três por cento de bateria, dois cigarros e umas barras energéticas que trouxe de Maputo que vou gerindo. Já não tenho água para beber e tão-pouco para tomar banho”, confessava-me Vítor Gonçalves, responsável pelo jornal Sol do Índico e que fez um texto para o i. A chamada caiu, mas ainda conseguiu enviar-me mais um sms com o seu estado de espírito: “Subi às escuras até ao 11.o andar. Do 4.o ao 10.o está tudo destruído. Aí no 8.o tropecei num gato morto. Só que havia uma mão agarrada ao gato e o resto do corpo também. Deve ter levado com dois andares em cima e está aqui esquecido”.

Moçambique está a viver uma das maiores tragédias naturais e o futuro de milhares de pessoas permanece uma incógnita. Há regiões onde estão milhares de pessoas em cima do que resta das casas ou pendurados nas árvores mais altas. Não comem desde sábado e a ajuda internacional será decisiva, e aqui Portugal tem estado bem ao enviar fuzileiros especialistas em salvamento, mas é preciso muito mais. A sociedade civil tem de ajudar, enviando alimentos, medicamentos e roupa.

Nos rios que transbordaram as margens há muitas dezenas de corpos a boiar e é provável que os crocodilos façam desaparecer muitos deles. Quando há uns anos estive em Tete, a ver a construção da nova ponte, a população local contava que era muito frequente haver ataques de crocodilos a quem lavava a roupa nas margens ou ia buscar água. Conheço o Vítor Gonçalves há uns anos e nunca o vi tão desanimado, sendo ele um homem habituado a vários combates e privações.

E há razões para o desânimo. Há corpos por todo o lado e, nas zonas rurais, o cenário é dantesco. Se quem está na cidade da Beira já não tem que se preocupar com as cheias – embora não tenham eletricidade, água e comida -, já o mesmo não podem dizer os largos milhares de pessoas que ainda esperam por um milagre. O mundo não pode ficar indiferente à tragédia moçambicana e deixar que tantos morram, vítimas das mudanças climáticas.
 


Há mortos por todo o lado


“Tenho três por cento de bateria, dois cigarros e umas barras energéticas que trouxe de Maputo que vou gerindo. Já não tenho água para beber e tão-pouco para tomar banho”, confessava-me Vítor Gonçalves, responsável pelo jornal Sol do Índico e que fez um texto para o i. A chamada caiu, mas ainda conseguiu enviar-me mais…


“Tenho três por cento de bateria, dois cigarros e umas barras energéticas que trouxe de Maputo que vou gerindo. Já não tenho água para beber e tão-pouco para tomar banho”, confessava-me Vítor Gonçalves, responsável pelo jornal Sol do Índico e que fez um texto para o i. A chamada caiu, mas ainda conseguiu enviar-me mais um sms com o seu estado de espírito: “Subi às escuras até ao 11.o andar. Do 4.o ao 10.o está tudo destruído. Aí no 8.o tropecei num gato morto. Só que havia uma mão agarrada ao gato e o resto do corpo também. Deve ter levado com dois andares em cima e está aqui esquecido”.

Moçambique está a viver uma das maiores tragédias naturais e o futuro de milhares de pessoas permanece uma incógnita. Há regiões onde estão milhares de pessoas em cima do que resta das casas ou pendurados nas árvores mais altas. Não comem desde sábado e a ajuda internacional será decisiva, e aqui Portugal tem estado bem ao enviar fuzileiros especialistas em salvamento, mas é preciso muito mais. A sociedade civil tem de ajudar, enviando alimentos, medicamentos e roupa.

Nos rios que transbordaram as margens há muitas dezenas de corpos a boiar e é provável que os crocodilos façam desaparecer muitos deles. Quando há uns anos estive em Tete, a ver a construção da nova ponte, a população local contava que era muito frequente haver ataques de crocodilos a quem lavava a roupa nas margens ou ia buscar água. Conheço o Vítor Gonçalves há uns anos e nunca o vi tão desanimado, sendo ele um homem habituado a vários combates e privações.

E há razões para o desânimo. Há corpos por todo o lado e, nas zonas rurais, o cenário é dantesco. Se quem está na cidade da Beira já não tem que se preocupar com as cheias – embora não tenham eletricidade, água e comida -, já o mesmo não podem dizer os largos milhares de pessoas que ainda esperam por um milagre. O mundo não pode ficar indiferente à tragédia moçambicana e deixar que tantos morram, vítimas das mudanças climáticas.