Vende-se, vende-se, vende-se


Até pode ser só fachada, mas as cidades estão a ficar mais bonitas


Nos últimos tempos já me apeteceu ter casa em Setúbal, Alcochete, Chaves, e o último devaneio foi nas Caldas da Rainha. Que bem que se está no Parque D. Carlos i, com tudo arranjado e uma cafetaria confortável, com um grande sofá/colchão para os miúdos rebolarem enquanto tomamos um café (não sei se era essa a ideia, mas está aprovada).

O parque infantil está aberto até o sol se pôr e começarmos a ser atacados por mosquitos (os mosquitos chateiam um bocado, mas esta fase de transição em que os horários de inverno já não estão alinhados com o comprimento do dia chateia mais – no passado fim de semana fomos ao parque na Amadora ainda nem eram 18h e já não dava para andar nos escorregas…).

De volta às Caldas, num saltinho está-se na Foz do Arelho, com o sol de quase primavera a permitir as primeiras chapinhadelas, enquanto se apanham pedrinhas de todas as cores e formatos para trazer para casa. Há que dizer que está tudo um bocado caro para passeios: num almoço perfeitamente normal, de repente a conta para dois adultos e uma criança passa os 50 euros. Mais o combustível e portagens (e uma tacita Bordallo Pinheiro de souvenir, vá), passar uma tarde a uma hora de casa, sem fazer nada de especial, dá hoje uma despesa que há uns anos quase chegava para passar todo o fim de semana fora. Mas o que salta à vista dos passeios de fim de semana que vamos fazendo aqui e ali é a quantidade de casas à venda, paredes-meias com outras já remodeladas ou, pelo menos, de cara lavada.

Até pode ser só fachada, mas vai ficando tudo com outra graça e damos connosco a pensar que aquele prediozinho estreito naquela ruela das Caldas, com a placa “vende-se” mesmo a olhar para nós, é que era. Como há tempos tinha sido uma casita na zona velha de Setúbal e depois outra no centro sossegado de Alcochete, de preferência uma daquelas antigas com fachada de azulejo.

Depois uma pessoa vai a ver os preços e até por ruínas se pedem por vezes preços exorbitantes, mas compra quem pode. Mas já fiz aquele exercício de procurar ao calhas nas imobiliárias casas até 5 ou 10 mil euros, para ver o que se apanha, e até vão aparecendo umas ideias, mesmo que não passem disso – porque não uma casita de fim de semana em Benquerenças, Penedono, Caia, Salgueiro do Campo ou Vila Nova da Barquinha?

À boleia deste boom imobiliário, que teve e tem os seus exageros e insensibilidades, há este lado bom de as cidades e vilas por aí fora irem ficando mais bonitas. Até nos subúrbios de Lisboa, uma pessoa olha de repente e que bem que ficou o prédio da esquina pintado de rosa – repara-se em pormenores que durante anos estiveram escondidos nas paredes estragadas pelo tempo e pela humidade, nos estores carregados de lixo. Não faltam tabuletas de vende-se na Amadora ou em Queluz. Claro que há sempre aquele sentimento que tão bem cantava António Variações, parece que só estamos bem onde não estamos, mas até que também se vai estando melhor por aqui.

Jornalista, Escreve à sexta-feira