Ex aequo com Augusto Santos Silva, lidera o ranking dos políticos com mais tempo em funções governativas (secretário de Estado e ministro) desde o 25 de abril de 1974. Mas tem sobre o atual ministro dos Negócios Estrangeiros duas significativas vantagens nesta matéria curricular: a primeira é que, enquanto Santos Silva passou por várias pastas muito diferentes (Educação, Cultura, Assuntos Parlamentares, Defesa, Negócios Estrangeiros), Vieira da Silva, tirando uma passagem pelas Obras Públicas enquanto secretário de Estado de Ferro Rodrigues no segundo Governo de António Guterres, esteve sempre ligado à Segurança Social, ao Emprego e à Economia; a segunda, é que já tem descendência também com experiência ministerial (a ex-secretária de Estado recém-promovida a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Mariana Vieira da Silva) e na linha de sucessão ao atual líder do partido também já conta com dois discípulos seus: Pedro Marques (cabeça de lista ao Parlamento Europeu) e Fernando Medina (presidente da Câmara de Lisboa) – ambos debutantes na política pela mão de Vieira da Silva, de quem, enquanto ministro, foram secretários de Estado.
Sampaísta repescado. O facto de estar associado à tutela da Segurança Social e do Emprego há já duas décadas – sendo, por isso, responsável pelas Misericórdias espalhadas pelo país, por inúmeras IPSS, pelos centros de emprego e formação profissional – é, naturalmente, um dos fatores apontados nas hostes socialistas para explicar a sua importância e a sua influência cada vez maior no seio do PS, quer junto das bases, quer nas cúpulas do partido. Mas já lá vamos.
Antes, importa lembrar que José António Vieira da Silva, atual ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, nasceu na Marinha Grande, no distrito de Leiria, no início da segunda metade do século passado (1953) e é, desde há quase três décadas, um dos homens da estrita confiança dos sucessivos líderes do PS. Do círculo mais chegado a Ferro Rodrigues, começou por ser da família socialista identificada com Jorge Sampaio e foi, com António Costa, dos poucos sampaístas ‘repescados’ pelo guterrismo. É, aliás, no primeiro Governo de António Guterres que chega a secretário de Estado.
Homem obviamente da confiança do líder que sucedeu a Guterres quando este abandonou a liderança do partido na sequência da derrocada do PS nas autárquicas de 2001, Ferro Rodrigues, saiu incólume do escândalo da Casa Pia e transitou para a direção de José Sócrates com peso político redobrado.
Discreto e consensual. Do inner circle socrático, volta a destacar-se como um dos mais influentes ministros do Governo da ‘geringonça’ de António Costa e ganha cada vez mais peso no partido, ao ponto de não faltarem socialistas que o consideram o verdadeiro sucessor de… Jorge Coelho.
Quem o conhece explica a sua sobrevivência nas sucessivas lideranças pelo facto de nunca ter ambicionado ser… líder. “Os líderes nunca o viram como uma ameaça, porque ele nunca quis ser líder nem disputar-lhes o poder”, confidencia ao i um histórico socialista. Que acrescenta que a forma discreta como Vieira da Silva sempre se impôs no partido e nos governos de que fez parte, a sua extrema competência e a capacidade de organização foram determinantes para que os vários líderes o tenham querido ter por perto. “Além disso, é uma pessoa com muito bom senso, serenidade e racionalidade”, acrescenta a mesma a fonte.
Claro que não falta também quem realce a importância da “rede” de nomeações para cargos intermédios mas de grande importância local e regional que durante anos Vieira da Silva foi criando tanto na área da Segurança Social como na do Emprego – “Ele tem mesmo poder e soube usá-lo para criar essa rede”, garante ao i um outro socialista de longa data.
Patrões e sindicalistas. A verdade é que em áreas sociais e sempre sensíveis, como a da Segurança Social e a do Trabalho, Vieira da Silva conseguiu passar por vários governos sem nunca ser dos ministros mais contestados, bem pelo contrário. E tanto as organizações patronais como as sindicais nunca levantaram muito a voz para o tentar derrubar. Pode até dizer-se que Vieira da Silva é dos ministros mais consensuais nesta área desde o 25 de abril, e daí talvez também a explicação para a sua longevidade em funções governativas.
O peso político de Vieira da Silva revelou-se com particular acuidade nas últimas semanas, com a divulgação das escolhas de António Costa, não só no Governo, com a promoção de Mariana Vieira da Silva, mas especialmente na formação da lista de candidatos do PS para o Parlamento Europeu.
A Lista para as Europeias. Além do cabeça de lista e ex-ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, como já se disse, ser um dos discípulos de Vieira da Silva (foi com ele que se estreou no Governo, como secretário de Estado da Segurança Social, no primeiro e no segundo governos de José Sócrates, entre 2005 e 2011), também Sónia Fertuzinhos, mulher de Vieira da Silva, está em lugar elegível.
Como diz com graça um dos históricos socialistas citados, “pode não se dar muito por ele [Vieira da Silva], mas ele está em todo o lado ou, pelo menos, tem lá alguém dele”.