O que se tem assistido nos últimos tempos na televisão portuguesa, nomeadamente nos programas de entretenimento, não é novo no mundo. Falo de os temas sérios serem tratados com uma insustentável leveza, acabando por, de certa forma, branquear os seus intervenientes. A aposta da TVI e da SIC, nos seus canais generalistas, de jogarem forte no horário da manhã, altura em que um povo mais envelhecido e menos instruído vê televisão, tem a sua razão de ser. Os políticos e demais atores da vida portuguesa preferem responder nesses programas a perguntas inócuas a serem questionados por jornalistas devidamente preparados para o efeito, até porque na televisão quem os entrevista são comunicadores e não profissionais dos média.
A ida de Luís Filipe Vieira ao programa de Cristina Ferreira ou de Marcelo Rebelo de Sousa ao de Manuel Luís Goucha insere-se perfeitamente no que disse acima. Muita emoção, muita cumplicidade, só faltando mesmo darem as mãos e chorarem em conjunto. As televisões fazem o seu papel, sem audiências não existem, e figuras como Cristina Ferreira e Goucha são mais valias de peso. Com um palco tão cordial e amistoso é pois natural que os jornalistas comecem a perder terreno para o entretenimento, havendo mesmo casos de total promiscuidade entre os dois campos.
Da mesma forma que as revistas de moda e de lifestyle perderam imenso com as redes sociais, já que atores, modelos e outros intervenientes do show bizz preferem ser eles a dar as suas próprias notícias no Instagram ou Facebook, tendo as revistas por isso necessidade de ir em busca de outras notícias dessas figuras, também a imprensa dita séria terá de fazer muito mais trabalho de investigação para não ser fuzilada pelo entretenimento. Dito de uma forma mais crua, se os políticos, empresários, jogadores e afins se “escondem” nos programas de entretenimento, cabe aos jornalistas mostrarem aquilo que essas figuras não querem revelar: desde as polémicas em que estão envolvidas até aos seus pensamentos mais profundos e que interferem com as vidas de todos nós.