A pergunta do viaduto


O ano aproxima-se do fim e começam os balanços – os do sucesso e insucesso do país e os pessoais e familiares – e o tempo do Natal, pequena pausa para muitos, costuma ser propício à reflexão. A fraca mobilização do protesto dos ‘coletes amarelos’ na última sexta-feira deixou no ar alguma serenidade depois de…


O ano aproxima-se do fim e começam os balanços – os do sucesso e insucesso do país e os pessoais e familiares – e o tempo do Natal, pequena pausa para muitos, costuma ser propício à reflexão.

A fraca mobilização do protesto dos ‘coletes amarelos’ na última sexta-feira deixou no ar alguma serenidade depois de um pico de excitação mediática em torno do que aí podia estar para vir, mas há uma revolta latente em grupos da sociedade com um papel central num Estado social forte: os professores, que não desistem de contabilizar todo o tempo de trabalho “perdido” nos últimos anos; os enfermeiros, fartos de esperar por uma valorização da carreira e que não pretendem desmobilizar de uma greve inédita que já adiou mais de 7 mil cirurgias no Serviço Nacional de Saúde; os bombeiros, que suspenderam o protesto com que barravam informações à Proteção Civil, mas apenas até dia 29. Se a paz social tem tendência a ser menor à medida que avança o tempo eleitoral, há um sentimento de alguma intranquilidade que é novo (veio de 2017 e cresceu este ano) e que não tem propriamente uma voz no espaço público, a não ser quando serve de arma de arremesso político, o que é pouco. Numa entrevista ao semanário “Sol” publicada no último fim de semana, o cirurgião cardíaco José Fragata retrata o sentimento de uma forma simples quando fala da “pergunta do viaduto”.

Na manhã da entrevista, vinha no carro com a mulher e, ao passarem sobre o Viaduto Duarte Pacheco – uma das principais entradas em Lisboa – falaram da hipótese de passarem a fazer o caminho pela Praça de Espanha, por parecer, à primeira vista, mais seguro. Ali, numa conversa banal de uma manhã de semana, questionavam um trajeto habitual por terem deixado de ter a certeza de que o Estado, que nos últimos anos reduziu o investimento, zele o suficiente pelas suas infra-estruturas. Não terão sido os primeiros lisboetas a fazer a pergunta, como se faz noutros pontos do país. É o anseio que importa para o caso e não o viaduto e a resposta tem de ser franca e coletiva. 
 


A pergunta do viaduto


O ano aproxima-se do fim e começam os balanços – os do sucesso e insucesso do país e os pessoais e familiares – e o tempo do Natal, pequena pausa para muitos, costuma ser propício à reflexão. A fraca mobilização do protesto dos ‘coletes amarelos’ na última sexta-feira deixou no ar alguma serenidade depois de…


O ano aproxima-se do fim e começam os balanços – os do sucesso e insucesso do país e os pessoais e familiares – e o tempo do Natal, pequena pausa para muitos, costuma ser propício à reflexão.

A fraca mobilização do protesto dos ‘coletes amarelos’ na última sexta-feira deixou no ar alguma serenidade depois de um pico de excitação mediática em torno do que aí podia estar para vir, mas há uma revolta latente em grupos da sociedade com um papel central num Estado social forte: os professores, que não desistem de contabilizar todo o tempo de trabalho “perdido” nos últimos anos; os enfermeiros, fartos de esperar por uma valorização da carreira e que não pretendem desmobilizar de uma greve inédita que já adiou mais de 7 mil cirurgias no Serviço Nacional de Saúde; os bombeiros, que suspenderam o protesto com que barravam informações à Proteção Civil, mas apenas até dia 29. Se a paz social tem tendência a ser menor à medida que avança o tempo eleitoral, há um sentimento de alguma intranquilidade que é novo (veio de 2017 e cresceu este ano) e que não tem propriamente uma voz no espaço público, a não ser quando serve de arma de arremesso político, o que é pouco. Numa entrevista ao semanário “Sol” publicada no último fim de semana, o cirurgião cardíaco José Fragata retrata o sentimento de uma forma simples quando fala da “pergunta do viaduto”.

Na manhã da entrevista, vinha no carro com a mulher e, ao passarem sobre o Viaduto Duarte Pacheco – uma das principais entradas em Lisboa – falaram da hipótese de passarem a fazer o caminho pela Praça de Espanha, por parecer, à primeira vista, mais seguro. Ali, numa conversa banal de uma manhã de semana, questionavam um trajeto habitual por terem deixado de ter a certeza de que o Estado, que nos últimos anos reduziu o investimento, zele o suficiente pelas suas infra-estruturas. Não terão sido os primeiros lisboetas a fazer a pergunta, como se faz noutros pontos do país. É o anseio que importa para o caso e não o viaduto e a resposta tem de ser franca e coletiva.