“Ninguém em Portugal viu o vídeo da morte do jornalista saudita”

“Ninguém em Portugal viu o vídeo da morte do jornalista saudita”


Marcelo Rebelo de Sousa conta que haverá um vídeo da morte do jornalista saudita a circular entre chefes de Estado. Presidente garante ao i que filme não passou pelas mãos de nenhum político português 


O alegado vídeo com imagens da morte do jornalista saudita não chegou a Portugal. Ao i, o Presidente da República garante que o vídeo não lhe chegou e que também não passou pelas mãos de nenhum político português. 

Durante uma reunião de chefes de Estado que decorreu no estrangeiro, “um político importante” disse a Marcelo Rebelo de Sousa “que tinha conhecimento da gravação mas que lhe tinham dito que era violenta e horrorosa e, portanto, nem quis vê-la”, contou ao i Marcelo Rebelo de Sousa.

O alegado filme, que mostra os últimos minutos de vida do jornalista saudita Jamal Khashoggi – que a 2 de outubro foi desmembrado dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul -, andará a circular “a nível de Estados”, referiu Marcelo Rebelo de Sousa. 

No entanto, “ninguém em Portugal teve acesso ao vídeo ou o viu” e, continua o Presidente da República, “nem mesmo o meu interlocutor teve acesso às imagens”. 

Por isso, “não sei se existe o vídeo”, mas “quem põe áudio a gravar pode pôr o vídeo”, salienta ao i o chefe de Estado. 

As declarações de Marcelo Rebelo de Sousa foram feitas esta terça-feira durante um encontro, em Belém, com o jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho e dezenas de alunos do 9.o ao 12.o ano. 

Para o embaixador Francisco Seixas da Costa, as declarações do Presidente da República “não têm qualquer tipo de consequência nas relações bilaterais” entre Portugal e a Arábia Saudita. Além disso, acrescenta ainda o embaixador, a Arábia Saudita percebe que “está sob forte polémica” que está “instalada dentro do próprio regime saudita”. Isto é, no momento, “a força do príncipe herdeiro é altamente frágil e é um embaraço para o governo saudita no geral”. 

Por isso, Seixas da Costa não acredita que “as declarações de um político português tenham minimamente consequências” a nível diplomático. 

Dúvidas sobre existência do vídeo Até hoje, há versões contraditórias sobre a existência de um vídeo. 

Dez dias depois da morte do jornalista, a 12 de outubro, o jornal americano “Washington Post” revelou que as autoridades turcas informaram os EUA de que existem gravações – imagem e som – que mostram que Jamal Khashoggi foi torturado e o seu corpo desmembrado, durante sete minutos. Além dos EUA, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse ter fornecido gravações “à Arábia Saudita, aos alemães, franceses, britânicos, a todos eles”. 

Também o primeiro-ministro canadiano, JustinTrudeau, já disse que os serviços de informações do seu país escutaram a gravação áudio, sem adiantar detalhes. 

A CIA apenas confirmou oficialmente a existência de registos áudio, entre os quais um telefonema, divulgado pelo jornal turco “Hurriyet Daily News”, no qual o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, teria dado instruções para “silenciar o mais rápido possível” Jamal Kashoggi. 

 O jornalista saudita, de 60 anos, entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, no dia 2 de outubro, para obter um documento para se casar com uma cidadã turca e nunca mais foi visto. Era um forte crítico do regime e tinha fugido em 2017 da Arábia Saudita para os EUA, onde trabalhou como colunista do jornal “The Washington Post”. 

Só depois de uma investigação das autoridades turcas os sauditas admitiram a morte do jornalista, que foi drogado e só depois assassinado. Os registos revelam que, enquanto o jornalista estava vivo, foram-lhe cortados os dedos da mão. Posteriormente foi decapitado e desmembrado, antes de ser mergulhado em ácido.