Porto/Post/Doc. Reis, Cordeiro e as ficções do real

Porto/Post/Doc. Reis, Cordeiro e as ficções do real


Concertos, conferências, festas, programas para famílias e exposições. Provado está que nem só de filmes se faz a programação do Porto/Post/Doc. O festival de cinema do real que, à sua quinta edição, dedica uma retrospetiva integral à obra de António Reis e Margarida Cordeiro


António Reis e Margarida Cordeiro. À obra da dupla de realizadores que marcaram de forma definitiva não só um momento, também o que estava por vir no cinema português, vem à sua quinta edição o Porto/Post/Doc dedicar uma retrospetiva integral que, à quinta edição, a pecar, só se for por tardia. Depois de um arranque feito no Cinema Trindade, que se junta nesta edição aos espaços que acolhem o festival, com “Kaiser: The Greatest Footballer Never to Play Football”, de Louis Myles, que repete sábado no Passos Manuel, a programação prolonga-se até dia 2 de dezembro. Com a projeção de filmes, claro, aos quais se junta toda uma programação de concertos, conferências, festas, exposições numa programação que se desdobra por vários pontos da cidade: o Rivoli, o Cinema Passos Manuel, a Faculdade de Belas Artes, o Planetário, a Universidade Católica, o Maus Hábitos e o  Trindade. 

Tudo isto numa edição em torno do tema “Ficções do Real”, como só podia. Seriam António Reis e Margarida Cordeiro, afinal, os seus precursores no cinema português. E do casal que se fez dupla também atrás da câmara recupera o festival “Jaime” (1974), a primeira curta-metragem, assinada ainda apenas por Reis – documentário de 35 minutos a acompanhar a história de Jaime Fernandes, um paciente esquizofrénico do hospital psiquiátrico Miguel Bombarda, em Lisboa, onde a sua mulher, Margarida Cordeiro, trabalhava na altura, os anos do Estado Novo – e que César Monteiro viria a descrever como “um dos mais belos filmes da história do cinema”. 

Além dessa curta seminal, o Porto/Post/Doc deste ano dará ainda ao seu público a oportunidade de recordar “Trás-os-Montes”, de 1976, a obra seguinte e considerada obra maior de António Reis, assinada já em conjunto com Margarida Cordeiro, de quem não haveria de se separar em nenhum dos seguintes, com lugar também na programação do festival de cinema do real portuense: “Ana” (1985) e “Rosa de Areia” (1989). Oportunidade de rever, mas de ver também. Apesar de fundamentais para a história do cinema português, nenhum deles, exibidos apenas pontualmente, foi alguma vez editado em DVD. A acompanhar as sessões, um programa de conversas  e uma exposição: “Como o sol/Como a noite”, para visitar na Faculdade de Belas Artes. 

Entre os filmes selecionados para a competição internacional, o festival apresenta nesta edição em que comemora o seu quinto aniversário 14 filmes em estreia nacional. Entre a secção oficial, dois documentários portugueses, “Sobre Tudo e Sobre Nada”, que Dídio Pestana levou ao festival de Locarno, e “Hálito Azul”, que no festival portuense Rodrigo Areias apresenta em estreia internacional. Ao todo, são 130 os filmes exibidos ao longo dos nove dias pelos quais se estende a programação do festival. 

A Chris Petit, realizador britânico que em 1979 se estreou com “Radio On”, road movie ao som de nomes como David Bowie e Kraftwerk, que o festival coloca em foco, junta-se nessa mesma secção o argentino Matías Piñeiro, que tem trabalhado sobre a adaptação de Shakespeare ao cinema. Ambos os realizadores visitam ao longo destes dias o Porto, para acompanhar as sessões em que são exibidos os seus filmes.

Como parte do ciclo “Transmission’”, a secção que o festival reserva em especial aos melómanos com uma programação que se desdobra entre filmes e concertos, o festival programa títulos “Ainda Tenho um Sonho ou Dois – A História dos Pop Dell’Arte”, de Nuno Galopim e Nuno Duarte, que acaba de ser exibido no Leffest – Lisbon & Sintra Film Festival, “Escola do Rock”, de Amadeu Pena da Silva, “Abrantes 2”, de Miguel A. Trudu, ou “Matangi / Maya / M.I.A”. Guardado para as 22h de domingo, último dia de festival, para o Passos Manuel. Documentário de 95 minutos que Steve Loveridge dedica à artista e cantora do Sri Lanka. Um olhar sobre a vida de “uma das mais distintas vozes da sua geração”, sempre “na vanguarda na forma como se afirma igualmente artista e ativista”.