Quando a pedreira se transformou em sepultura


As pedreiras encontram-se ali há perto de cem anos e nunca tinha acontecido nada do género. O que mudou então? 


Na noite de 28 de fevereiro de 2013 Jeff Bush (que não tem qualquer relação com a dinastia de presidentes americanos), de 37 anos, estava a dormir descansado na sua cama quando uma enorme cratera se abriu no chão. Parte da casa onde vivia, em Seffner, no estado da Florida, foi literalmente engolida pela terra – cama, móveis, paredes e o próprio Jeff Bush desapareceram de um momento para o outro. O irmão, que ouviu o estrondo, tentou acudir, mas já nada havia a fazer.

Estes estranhos fenómenos, a que os anglo-saxónicos chamam sinkholes, são relativamente comuns em certas zonas do mundo. A Florida é uma delas, outra é a Guatemala, onde em 2007 se abriu um buraco com a forma de uma circunferência perfeita e uma profundidade de 30 andares abaixo da superfície do chão. Apesar da escala impressionante, o colapso matou apenas três pessoas, o que significa que o abatimento ontem de uma estrada junto a uma pedreira entre Borba e Vila Viçosa, apesar da menor dimensão, teve consequências bem mais graves

O mármore de Estremoz-Vila Viçosa tem fama e tradição: a sua qualidade é de tal modo reconhecida que em tempos era vendido para o estrangeiro com o selo de Carrara, o mais famoso mármore do mundo. As pedreiras encontram-se ali há perto de cem anos e nunca tinha acontecido nada do género. O que mudou então? Com as alterações climáticas e fenómenos meteorológicos extremos – houve fortes chuvadas naquela região do Alentejo nos últimos dias – é provável que os riscos de acidentes deste género se agravem. Neste caso, está por confirmar se o risco tinha sido ou não assinalado – seja como for, estes acidentes acontecem quase sempre sem aviso prévio.

Significa isto que não há nada a fazer? Pelo contrário, significa que todos, e as autoridades em particular, temos de estar mais atentos. Se não houver um acompanhamento redobrado e uma atenção a condizer, podem deixar de ser acidentes para se tornarem a norma. E isso é tudo o que nós não queremos.