Para quem não é capaz de levar muito a sério o que se passa nas redes sociais e em fóruns como a Web Summit, faz alguma confusão o protagonismo que as fake news estão a assumir no debate atual. Não contesto que se discuta o assunto, que se averigue o que for preciso, mas dá ideia de haver uma campanha orquestrada para chamar a atenção para o fenómeno.
A verdade é que boatos sempre os houve, notícias erradas também, notícias plantadas idem. E de propaganda nem se fala… Qual é, então, a novidade? Porquê toda esta comoção súbita por causa das fake news?
Procurando uma resposta, ocorre-me que tanto barulho talvez tenha que ver com a recente eleição de figuras controversas como Trump ou Bolsonaro, ou a vitória do Brexit.
Fica a sensação de que estas votações puseram em movimento poderosas forças de contestação que tentam por todos os meios deslegitimar os resultados. No caso de Trump falou-se na influência russa – uma espécie de sabotagem eletrónica que teria plantado informações falsas que beneficiaram o candidato republicano. No caso do Brasil, falou-se de perfis fantasma nas redes sociais para promover Bolsonaro. No caso do Brexit, disse-se que também as redes sociais tinham posto a circular dados, números e notícias deliberadamente falseados para levar os britânicos a desconfiar da Europa.
Os mesmos que há dez anos exultaram por Obama ter usado as redes sociais para fazer campanha, hoje mostram-se escandalizados com a influência que estas podem ter numa eleição.
Ora, não me agrada nada o estilo de Trump, mas parece-me que atribuir a sua vitória às fake news é uma forma velada de dizer que ele é, por inerência, um fake president. Isso não apenas me parece intelectualmente desonesto como demasiado simplista. É partir do princípio que quem vê essas pretensas notícias, acredita nelas e vota de acordo com elas não tem o mínimo sentido crítico. Porque se tivesse estranharia que essas notícias não apareçam nos órgãos de comunicação de referência. Claro que há pessoas sem qualquer sentido crítico, claro que sim. Mas chamam-se fanáticos – e esses, que eu saiba, não precisam de ser convencidos.