Durante as férias há quem goste de visitar monumentos, de relaxar em praias paradisíacas ou simplesmente de aprender um novo hobby. Mas há também quem aposte na diferença e procure o mistério e a História, espelhados de forma invulgar nos sítios mais improváveis. O “turismo sombrio” tem ganho força um pouco por todo o mundo e em Portugal é um fenómeno em crescimento.
O Porto, por exemplo, tem apostado neste tipo de turismo: todos conhecemos a Invicta pelo vinho, pelo rio Douro e pela simpatia de quem por lá habita, mas poucos imaginam as lendas e os sítios mais sombrios que a cidade esconde. O projeto “Porto Assombrado” oferece um roteiro que promete assustar até os mais fortes. Ao i, Pedro Gil Vasconcelos, um dos organizadores, conta que tudo começou com base numa pesquisa assente em “lendas, em histórias que pessoas viveram e em locais misteriosos” que foram ganhando força ao longo dos anos.
Cada percurso pode demorar entre seis a oito horas e inclui mais de uma dezena de paragens. Cada grupo pode ter até dez pessoas e são “dispensados autocarros” – todo o percurso é feito através de veículos todo-o-terreno. Os aventureiros passam pelos locais “assombrados”, os que estão ligados à “bruxaria” e os mais históricos. E é preciso coragem para entrar nesta tour: alguns do participantes não conseguem terminar o percurso e “há mesmo quem desista a meio”, explica Pedro Vasconcelos.
O organizador do “Porto Assombrado” garante que os perigos estão controlados, mas se lhe perguntarmos se existe algum episódio que o tenha deixado perplexo, a resposta surge rapidamente: “Depois de ouvirmos um testemunho de uma pessoa que tinha estado numa casa dita assombrada, decidimos incluir esse espaço no percurso. Enquanto lá estávamos a contar histórias, ouviu-se um gemido e todos ficámos em silêncio. Começámos a rir nervosamente e fomos embora depois de alguns participantes demonstrarem vontade de sair dali. Já no jipe, houve alguém que disse ‘aquela rapariga da vossa equipa queria mesmo assustar–nos’, mas a única pessoa da organização presente era eu, o que acabou por deixar todos desconfortáveis”, contou ao i.
Mas esta atividade não fica só pelos sustos: também pode, por exemplo, comer as famosas tripas à moda do Porto enquanto ouve as lendas que estão por detrás da sua origem e deliciar-se com a variada “gastronomia portuguesa” num jantar devidamente planeado.
De acordo com Pedro Vasconcelos, existem três tipos de pessoas que procuram esta experiência: os que acreditam em espiritismo, os que querem aprender mais e os que pretendem ter uma perspetiva diferente da cidade. São vários os portugueses que procuram esta experiência, mas também cidadãos de outras nacionalidades como norte-americanos e brasileiros. Para participar no “Porto Assombrado” pode fazer a reserva pela internet. O preço, que inclui o transporte, o jantar e o passeio, é de 70 euros por pessoa.
Uma visita pelos cemitérios
Também em Lisboa existem tours diferentes do típico sightseeing. A City Guru Lisbon organiza várias visitas, mas uma das que mais chamam a atenção é a “Walking Tour – Lisbon Cemeteries”, que promete um dia passado… no meio das campas de um cemitério.
João Moedas, fundador da empresa, conta ao i que as pessoas procuram as visitas pelo lado assustador. Contudo, o responsável explica que, apesar de a visita poder ser feita por esta perspetiva, acaba por estar mais ligada à história dos cemitérios e, sobretudo, à arte.
Esta visita é “procurada maioritariamente por estrangeiros” e, segundo João Moedas, o percurso e as histórias contadas “dependem da nacionalidade” de quem participa, uma vez que muitas dessas narrativas se baseiam em personalidades internacionais. A isto juntam-se as crenças da população local.
O percurso, que passa por vários cemitérios da capital portuguesa, demora em média três horas. Por mês são realizadas cerca de 150 visitas. Os grupos podem ter no máximo oito pessoas e, em média, o preço ronda os 30 euros por pessoa.
Fantasmas escondidos na Serra?
A serra de Sintra é uma protagonista constante nas histórias de mistério e um destino comum para os que gostam de sensações fortes. Miguel Boim, conhecido como o Caminheiro de Sintra, reuniu pontos de interesse e da fantasia da história de Sintra e criou um dos passeios mais badalados na internet. Ao i, garante que estas caminhadas vão muito além do chamado “turismo sombrio” e ajudam a conhecer um novo lado deste monumento natural, que é muitas vezes associado a histórias assustadoras e a rituais espíritas.
Tendo como base a “investigação na área da História”, o Caminheiro de Sintra juntou os temas que sabia que teriam “bastante a transmitir”, bem como aqueles que iriam sensibilizar “para comportamentos mais adequados” a ter no Parque Natural de Sintra-Cascais. Assim, temas como “O Reino dos Amores de Sintra”, “Dos Fantasmas do Castelo às Aparições da Serra” ou “Sintra, Magia, Sonhos e Feitiçaria” são retratados num percurso que contam “relatos do passado” numa “linguagem acessível à compreensão das pessoas do nosso tempo”.
“Em cada noite vou contando detalhes diferentes consoante a forma como a noite corre, conforme o interesse das pessoas que participam”, explicou ao i. Miguel conta que o público varia consoante o tema. A maior diversidade de público surge no passeio “Dos Fantasmas do Castelo às Aparições da Serra”. Aí, “aqueles que vinham à procura de lençóis e uivos não voltam e aqueles que tinham o peito preparado para se apaixonarem pelos nossos antepassados e pelas suas vivências acabam por iniciar uma ligação especial com a História e com Sintra”, afirmou.
Qual o passeio perfeito? Tudo depende do ambiente e, acima de tudo, dos caminheiros: “Há certas alturas em que a própria noite e o grupo se conjugam de forma perfeita e faz-se uma viagem lindíssima até ao passado, através das bizarrias que os nossos antepassados em palavras nos deixaram”, diz Miguel Boim, deixando o mistério no ar. Para participar nesta aventura, pode consultar a programação mensal em www.miguelboim.com ou consultar a página de Facebook “O Caminheiro de Sintra” e, posteriormente, enviar um email a pedir mais dados sobre esta aventura.