Está tudo Verde?


A construção de uma visão credível e desmultiplicada em medidas concretas é mais fácil de enunciar que de fazer


As eleições recentes realizadas no Luxemburgo, no estado alemão da Baviera e na Bélgica tiveram um padrão comum que, desta vez, não foi a progressão desmesurada do populismo radical antieuropeu, mas antes o crescimento sustentável dos partidos ecologistas, com uma agenda europeísta moderna, progressista e focada na qualidade de vida e na transformação dos modelos de organização da vida em sociedade. Um padrão colateral foi a descida das votações nos partidos de centro-direita e nos sociais-democratas, que se veem cada vez mais confinados aos segmentos de eleitorado urbano menos jovem e com perfis tradicionais de vida.

Os Verdes subiram sobretudo no eleitorado urbano e jovem, e a sua subida, além de abrir veredas de esperança para uma reinvenção política no quadro das regras da democracia liberal, aberta e, por natureza, plural no espaço europeu, deve ser uma fonte de aprendizagem para as forças políticas que, tendo sido os pilares da criação e da afirmação do projeto europeu, demonstram agora dificuldades em libertar-se das redes de compromissos que, tendo sido necessários para escorar esse projeto, precisam de ser substituídos por uma visão inspiradora, moderna e adequada aos novos tempos, capaz de responder aos anseios dos mais velhos e às expetativas das novas gerações.

A construção de uma visão credível e desmultiplicada em medidas concretas é mais fácil de enunciar que de fazer. Deste ponto de vista, a experiência portuguesa de governo é um exemplo que pode ajudar os partidos europeístas e progressistas, em particular os partidos socialistas e sociais-democratas, a adaptar a sua agenda e a sua prática para dar resposta aos desafios dos novos tempos.

Em Portugal, uma base política alargada tem posto em prática uma agenda progressista, com uma governação que beneficia no dia-a-dia a maioria dos portugueses, em particular aqueles que mais precisam das políticas públicas para acederem a uma vida decente.

Nessa base política alargada estão representados os vários movimentos defensores de causas que constituem a textura das sociedades modernas no plano dos direitos, do desenvolvimento sustentável e da reconfiguração tecnológica.

A agenda verde é também muito relevante para Portugal e só não se refletiu na emergência de uma força ecologista alternativa porque o governo e a plataforma política que o apoia têm vindo a adotar essa agenda nas suas políticas concretas.

De facto, a agenda verde que tem vindo a seduzir cada vez mais eleitores europeus, em particular urbanos e jovens, é uma agenda europeísta e progressista que em Portugal, o governo do Partido Socialista tem assumido na sua ação concreta, colocando-a na vida quotidiana das pessoas. A recente criação de uma Secretaria de Estado para a Transição Energética é apenas um exemplo desta prioridade.

A lição a tirar é clara. As ideologias têm de se adaptar aos novos desafios, mas a modernização ideológica não pode estar dissociada da capacidade de responder às necessidades quotidianas dos povos. Ideologia e prática têm de progredir de mãos dadas. O europeísmo progressista e ecologista é um trilho de esperança para o nosso país, para a Europa e para o mundo.

Eurodeputado