Há uma semana deu-se um sorteio eletrónico mais insólito do mundo: o computador tinha de escolher um de dois nomes. Depois de toda a polémica sobre o afastamento da procuradora-geral da República que tinha dado luz verde ao Ministério Público para investigar José Sócrates e Ricardo Salgado, entre outros – coisa rara em Portugal -, o juiz que dirigia a investigação da Operação Marquês, Carlos Alexandre, era um dos nomes que estava no tal “pote” informático. E não é que durante o processo de escolha o computador deu erro três vezes? Só à quarta é que saiu o nome de Ivo Rosa, um magistrado com poucos amigos no Ministério Público, atendendo a que não deu seguimento a vários processos, alegando que os mesmos não recolhiam provas suficientes para condenar alguns dos intervenientes.
Não está em causa a idoneidade de Ivo Rosa, mas tudo o que a justiça não precisava era de mais uma confusão destas. Desde o dia desse sorteio que não param nas redes sociais as mais variadas teorias da conspiração. Não seria tudo evitável? Mas por que carga de água é preciso transportar todo o processo para um computador onde se vai escolher um de dois nomes?
Afastando Joana Marques Vidal da Procuradoria-Geral da República e calhando a sorte de um sorteio eletrónico, que falha três vezes, dar o nome de Ivo Rosa para assumir a Operação Marquês, tudo se conjuga para um período bem quente na justiça.
P. S. Nesta edição, o arquiteto Tomás Taveira fala abertamente do que lhe disse um embaixador venezuelano: Sócrates é que decidia quem podia fazer obra no país do seu amigo Hugo Chávez. Taveira fala também da polémica da Torre de Picoas e dos meandros da Câmara de Lisboa. Neste país, ainda vai havendo liberdade para denunciar casos bastante obscuros. Esperemos que não se regresse ao tempo de Pinto Monteiro e de Noronha do Nascimento.