Tancos. Ministro quis desresponsabilizar-se da escolha do diretor da Polícia Judiciária Militar

Tancos. Ministro quis desresponsabilizar-se da escolha do diretor da Polícia Judiciária Militar


Azeredo Lopes empossou Paulo Isabel “mediante proposta” do chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, mas o CEMGFA diz que só foi ouvido


O ministro da Defesa, Azeredo Lopes, deu ontem posse ao novo diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), o capitão de mar-e-guerra, Paulo Isabel, reconhecendo que “está consolidada a normalidade e a estabilidade” na PJM. Ou seja, Azeredo Lopes tentou colocar um ponto final no caso que decapitou a PJM, com o anterior diretor Luís Vieira detido, num dos processos sobre a recuperação do material de guerra roubado em Tancos.

Na véspera o ministro explicou, em comunicado, que a escolha de Paulo Isabel  foi feita“mediante proposta do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA)”, mas o porta-voz das Forças Armadas, Pedro Coelho Dias, explicou ao i que “o CEMGFA foi ouvido como o principal conselheiro militar do senhor ministro da Defesa”. A diferença pode parecer meramente semântica,  mas a lei não especifica que a nomeação seja feita sob proposta do CEMGFA, porque a PJM está sob a alçada do  Ministro da Defesa.

 Questionado pelo i sobre se o comunicado do ministro serviria para corresponsabilizar o CEMGFA  almirante Silva Ribeiro, o porta-voz das Forças Armadas não quis tecer comentários. O Ministério da Defesa nada quis acrescentar, além do comunicado, exceto que o CEMGFA “é o principal conselheiro militar” de ministro, ao abrigo da lei.

Do ponto de vista político, o caso de Tancos está longe de estar encerrado. Hoje o CDS entrega um projeto de resolução para a criação de uma comissão de inquérito onde pede que se apurem os “factos, os atos e as omissões” do governo, bem como “as responsabilidades políticas daí decorrentes” desde o roubo do material de guerra- em junho de 2017- até aos dias de hoje. A proposta terá de ir a conferência de líderes para ser agendada e votada, no Parlamento, mas os centristas estão dispostos a falar com todos os grupos parlamentares e acolher alguma alteração desde que não desvirtue o texto”, conforme disse ao i, o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães.

No texto do inquérito, o CDS acusa o governo de ter procurado “numa primeira fase, desvalorizar o sucedido, depois alegou desconhecimento e, por fim, tentou precipitadamente encerrar o problema, sem retirar as devidas consequências”.Os centristas querem  também que se reflita sobre o funcionamento do Ministério da Defesa  e a articulação das “Forças Armadas e as diversas forças e serviços de segurança e órgãos de polícia criminal, com tutelas dispersas em vários Ministérios”.