Os adolescentes e o álcool


Como explicar a um adolescente os efeitos do álcool no seu desenvolvimento?


As histórias repetem-se, mesmo ao nosso lado, contadas pelos filhos, pelos amigos dos nossos filhos, por pessoas que conhecemos, ou até presenciadas por pais que acabam por estar no sítio certo, à hora errada. Rapazes e raparigas que acabam a noite a serem assistidos por equipas médicas, depois de terem consumido quantidades exageradas de bebidas alcoólicas. Até já têm um nome para esta prática: “binge drinking”. Escrito assim, até parece um desafio com “pinta” e, na verdade, é assim que os adolescentes adotam esta forma de comportamento. Ingerem uma quantidade excessiva de álcool, num curto espaço de tempo e consecutivamente. De um momento para o outro, bebem vários copos sem parar, negando ao corpo o tempo necessário para assimilar e processar a quantidade de álcool ingerida e, posteriormente, manifestar as consequências do impacto deste excesso. Quando, finalmente, o corpo processa esta ingestão acelerada e abusiva de álcool, ocorrem os sintomas indesejados, chegando, nos casos mais graves, ao coma alcoólico.

A definição de “binge drinking” remete-nos para um consumo ocasional excessivo, algo que acontece, por exemplo, quando os adolescentes saem à noite. Partindo do princípio que estamos perante uma média de uma saída noturna mensal, ou mesmo quinzenal, em rapazes e raparigas abaixo dos 18 anos e acima dos 14 anos, o cenário é preocupante e é nosso dever, enquanto pais e cidadãos, refletir sobre as medidas que possam impedir que estes adolescentes, imaturos e desconhecedores dos efeitos nocivos do álcool sobre o seu comportamento e desenvolvimento, continuem a reincidir numa prática que lhes é prejudicial.

O problema é que, como muitos pais devem ter conhecimento, a média das saídas noturnas, pelo menos nos grandes centros urbanos, não é a acima descrita, nem tão pouco é possível dizer que não há crianças com menos de 14 anos a frequentar bares e a consumir bebidas alcoólicas, compradas por interpostos amigos, em estabelecimentos que só estão autorizados a vender estas bebidas a indivíduos maiores de 18 anos. Mas o cenário agrava-se quando – e não vale a pena fingir que isto não se passa! – encontramos grupos de adolescentes, durante a tarde, concentrados na rua, em frente a certos estabelecimentos de venda de bebidas alcoólicas, com copos na mão e, mesmo de passagem, conseguimos perceber que já não se encontram no seu melhor estado, avançando para um estado de embriaguez.

Os números não mentem e são indicadores dos riscos que esta geração incorre. O consumo de álcool aumentou nos últimos anos, bem como diminuiu a média da idade em que se consumiu pela primeira vez – 17 anos! (O que significa que muitos houve que nem sequer 17 anos tinham! Há registos de internamentos com intoxicações ou comas alcoólicos de crianças que ainda não completaram os 13 anos.)

Além dos riscos imediatos a que se sujeitam, segundo um estudo da Universidade de Boston, um adolescente que inicie precocemente o consumo de bebidas alcoólicas tem 50% de probabilidades de vir a ficar dependente deste tipo de consumo, mais tarde.

O problema não se centra somente nos consumidores precoces, mas também nas suas famílias que, derivado da nossa cultura e hábitos, muitas consideram normal que os filhos consumam álcool quando começam a sair à noite ou ocasionalmente. Puro desconhecimento dos efeitos de uma bebida alcoólica no cérebro de um adolescente que ainda não completou os 18 anos e que se encontra em pleno desenvolvimento físico e cognitivo.

A revista científica “The Lancet” publicou recentemente um estudo, realizado em indivíduos com idades compreendidas entre os 15 e os 95 anos, e no qual se conclui que não existe um nível seguro para o consumo de álcool. As implicações são vastas, mas no caso dos adolescentes são muito concretas e a falta de uma avaliação correta dos riscos que correm é um dos fatores do consumo excessivo. Tomariam a mesma decisão caso soubessem que o álcool atinge o sistema nervoso central, potenciando comportamentos que colocam as suas vidas em risco, como a agressividade, a depressão e até mesmo a automutilação?

Perdem a noção dos seus comportamentos e as suas emoções são alteradas pelo efeito do álcool, levando a condutas que no dia seguinte, eles próprios têm dificuldade em se identificar, quando confrontados com as publicações nas redes sociais, registos de momentos dos quais não têm memória, mas que ficaram no “Instagram”, no “Facebook” para consulta futura.

Beber aos 18 anos não é o mesmo que beber antes desta idade. O desempenho escolar é diretamente afetado, consequência dos défices cognitivos e de memória, conduzindo a limitações ao nível da aprendizagem. Tudo isto provocado pelo facto de o cérebro ainda não estar totalmente desenvolvido e, por essa razão, ser mais permeável ao álcool. O consumo de bebidas alcoólicas está associado à diminuição da massa cinzenta em determinadas áreas do cérebro e é responsável por impedir o desenvolvimento da matéria branca, refletindo-se nos níveis de atenção, na velocidade do processamento, na memória e no controlo da impulsividade.

Nas escolas não se fala deste problema. Logo, se não se fala, é porque ainda não é considerado um problema. Em 2015, procedeu-se à alteração da lei para fixar a idade mínima para consumo de álcool nos 18 anos, o que também não veio modificar nada neste cenário que se agrava de ano para ano. As famílias não têm a informação suficiente para compreender as consequências graves que os seus filhos podem vir a ter, somente por beberem um copo quando vão sair à noite, não tendo ainda 18 anos. Eu começaria por enfatizar que há uma diferença primordial entre um jovem com mais de 18 anos que consome bebidas alcoólicas e entre os mais novos que sofrem de uma forma mais permanente os estragos que o álcool provoca no seu desenvolvimento.

Dizem que beber um copo não faz mal, mas os nossos jovens não bebem só um e, infelizmente, os números são preocupantes. Afinal, são os nossos filhos, os amigos dos nossos filhos, aqueles jovens que com a voracidade própria de desfrutarem os dias e as noites, muitas vezes se esquecem do que é melhor para eles.

 

Escreve quinzenalmente


Os adolescentes e o álcool


Como explicar a um adolescente os efeitos do álcool no seu desenvolvimento?


As histórias repetem-se, mesmo ao nosso lado, contadas pelos filhos, pelos amigos dos nossos filhos, por pessoas que conhecemos, ou até presenciadas por pais que acabam por estar no sítio certo, à hora errada. Rapazes e raparigas que acabam a noite a serem assistidos por equipas médicas, depois de terem consumido quantidades exageradas de bebidas alcoólicas. Até já têm um nome para esta prática: “binge drinking”. Escrito assim, até parece um desafio com “pinta” e, na verdade, é assim que os adolescentes adotam esta forma de comportamento. Ingerem uma quantidade excessiva de álcool, num curto espaço de tempo e consecutivamente. De um momento para o outro, bebem vários copos sem parar, negando ao corpo o tempo necessário para assimilar e processar a quantidade de álcool ingerida e, posteriormente, manifestar as consequências do impacto deste excesso. Quando, finalmente, o corpo processa esta ingestão acelerada e abusiva de álcool, ocorrem os sintomas indesejados, chegando, nos casos mais graves, ao coma alcoólico.

A definição de “binge drinking” remete-nos para um consumo ocasional excessivo, algo que acontece, por exemplo, quando os adolescentes saem à noite. Partindo do princípio que estamos perante uma média de uma saída noturna mensal, ou mesmo quinzenal, em rapazes e raparigas abaixo dos 18 anos e acima dos 14 anos, o cenário é preocupante e é nosso dever, enquanto pais e cidadãos, refletir sobre as medidas que possam impedir que estes adolescentes, imaturos e desconhecedores dos efeitos nocivos do álcool sobre o seu comportamento e desenvolvimento, continuem a reincidir numa prática que lhes é prejudicial.

O problema é que, como muitos pais devem ter conhecimento, a média das saídas noturnas, pelo menos nos grandes centros urbanos, não é a acima descrita, nem tão pouco é possível dizer que não há crianças com menos de 14 anos a frequentar bares e a consumir bebidas alcoólicas, compradas por interpostos amigos, em estabelecimentos que só estão autorizados a vender estas bebidas a indivíduos maiores de 18 anos. Mas o cenário agrava-se quando – e não vale a pena fingir que isto não se passa! – encontramos grupos de adolescentes, durante a tarde, concentrados na rua, em frente a certos estabelecimentos de venda de bebidas alcoólicas, com copos na mão e, mesmo de passagem, conseguimos perceber que já não se encontram no seu melhor estado, avançando para um estado de embriaguez.

Os números não mentem e são indicadores dos riscos que esta geração incorre. O consumo de álcool aumentou nos últimos anos, bem como diminuiu a média da idade em que se consumiu pela primeira vez – 17 anos! (O que significa que muitos houve que nem sequer 17 anos tinham! Há registos de internamentos com intoxicações ou comas alcoólicos de crianças que ainda não completaram os 13 anos.)

Além dos riscos imediatos a que se sujeitam, segundo um estudo da Universidade de Boston, um adolescente que inicie precocemente o consumo de bebidas alcoólicas tem 50% de probabilidades de vir a ficar dependente deste tipo de consumo, mais tarde.

O problema não se centra somente nos consumidores precoces, mas também nas suas famílias que, derivado da nossa cultura e hábitos, muitas consideram normal que os filhos consumam álcool quando começam a sair à noite ou ocasionalmente. Puro desconhecimento dos efeitos de uma bebida alcoólica no cérebro de um adolescente que ainda não completou os 18 anos e que se encontra em pleno desenvolvimento físico e cognitivo.

A revista científica “The Lancet” publicou recentemente um estudo, realizado em indivíduos com idades compreendidas entre os 15 e os 95 anos, e no qual se conclui que não existe um nível seguro para o consumo de álcool. As implicações são vastas, mas no caso dos adolescentes são muito concretas e a falta de uma avaliação correta dos riscos que correm é um dos fatores do consumo excessivo. Tomariam a mesma decisão caso soubessem que o álcool atinge o sistema nervoso central, potenciando comportamentos que colocam as suas vidas em risco, como a agressividade, a depressão e até mesmo a automutilação?

Perdem a noção dos seus comportamentos e as suas emoções são alteradas pelo efeito do álcool, levando a condutas que no dia seguinte, eles próprios têm dificuldade em se identificar, quando confrontados com as publicações nas redes sociais, registos de momentos dos quais não têm memória, mas que ficaram no “Instagram”, no “Facebook” para consulta futura.

Beber aos 18 anos não é o mesmo que beber antes desta idade. O desempenho escolar é diretamente afetado, consequência dos défices cognitivos e de memória, conduzindo a limitações ao nível da aprendizagem. Tudo isto provocado pelo facto de o cérebro ainda não estar totalmente desenvolvido e, por essa razão, ser mais permeável ao álcool. O consumo de bebidas alcoólicas está associado à diminuição da massa cinzenta em determinadas áreas do cérebro e é responsável por impedir o desenvolvimento da matéria branca, refletindo-se nos níveis de atenção, na velocidade do processamento, na memória e no controlo da impulsividade.

Nas escolas não se fala deste problema. Logo, se não se fala, é porque ainda não é considerado um problema. Em 2015, procedeu-se à alteração da lei para fixar a idade mínima para consumo de álcool nos 18 anos, o que também não veio modificar nada neste cenário que se agrava de ano para ano. As famílias não têm a informação suficiente para compreender as consequências graves que os seus filhos podem vir a ter, somente por beberem um copo quando vão sair à noite, não tendo ainda 18 anos. Eu começaria por enfatizar que há uma diferença primordial entre um jovem com mais de 18 anos que consome bebidas alcoólicas e entre os mais novos que sofrem de uma forma mais permanente os estragos que o álcool provoca no seu desenvolvimento.

Dizem que beber um copo não faz mal, mas os nossos jovens não bebem só um e, infelizmente, os números são preocupantes. Afinal, são os nossos filhos, os amigos dos nossos filhos, aqueles jovens que com a voracidade própria de desfrutarem os dias e as noites, muitas vezes se esquecem do que é melhor para eles.

 

Escreve quinzenalmente