PSD. Rui Rio põe em tribunal candidatos do partido às autárquicas

PSD. Rui Rio põe em tribunal candidatos do partido às autárquicas


Ações visam quem tenha excedido custos sem autorização. Primeiro processo deu entrada anteontem   


A direção nacional do PSD decidiu pôr em tribunal os candidatos do partido às últimas autárquicas que tenham ultrapassado os orçamentos previstos para as respetivas campanhas. O objetivo, adiantou ao i a secretaria-geral do PSD, é obrigá-los a responsabilizarem-se por despesas cujos montantes não tenham sido previamente autorizados pela direção nacional. 

Para já, ainda só deu entrada na Justiça uma ação, apresentada anteontem no Tribunal de Castelo Branco e que visa imputar ao candidato do PSD à Câmara da Covilhã, Marco Baptista, despesas de 87.066 euros. Mas o partido admite que “outras situações estão a ser analisadas”, podendo vir a seguir o mesmo caminho. “O PSD responsabilizará apenas e só aqueles [candidatos] que, tendo provocado prejuízos significativos ao partido, não tenham salvaguardado o pagamento de despesas da campanha autárquica nem queiram assumir as suas responsabilidades”, explica a secretaria-geral, acrescentando que o PSD só irá assumir a despesa autárquica que tenha autorizado, “não a restante”.

É o que está em causa no processo contra Marco Baptista. Ao que o i apurou junto de fontes políticas locais, os cerca de 87 mil euros coincidem com “a diferença entre o que foi gasto e o que estava previsto ser gasto”. De acordo com as mesmas fontes, o objetivo de Rui Rio será, por um lado, “responsabilizar os candidatos que não tenham cumprido as regras de orçamentação das campanhas, que eram bastante claras”. Por outro lado, a direção social-democrata quer que o recurso a tribunal sirva como “medida pedagógica e exemplar” para que futuramente haja maior rigor nas contas. 

Na resposta enviada ontem ao i, e sobre o caso de Marco Baptista, o partido explica que o PSD quer ser “ressarcido de danos patrimoniais e não patrimoniais” causados pelo candidato nas últimas autárquicas. É que a despesa foi contraída com o contribuinte do PSD e não tinha sido autorizada. “Em consequência, o PSD já foi alvo de injunções”, garante a secretaria-geral, acrescentando que o partido “viu o seu bom nome posto em causa, por responsabilidade que não é sua, mas de outros  – o visado, que tendo contraído despesas (…) originou atrasos ou o não cumprimento perante os fornecedores e a perceção desta realidade pela comunidade”. O PSD acrescenta ainda que o caso de Marco Baptista foi também já apresentado ao Conselho de Jurisdição Nacional, que o irá apreciar “em termos disciplinares”. 

Mais mal-estar O processo em tribunal, apurou o i junto de fonte do PSD de Castelo Branco e da Covilhã, apanhou desprevenidos os militantes e os dirigentes da região e até mesmo quem esteve na campanha de Marco Baptista (que entretanto é acusado de desviar 115 mil euros da Rede Judiarias, esteve desaparecido durante meses e internado na psiquiatria – ver texto secundário). “Soube-se pela comunicação social. Não houve, sequer, a atenção de dar uma palavra às pessoas envolvidas e trata-se de uma situação que vai criar conflito e que tornará a relação mais tensa com a direção do partido”, acredita uma das fontes. E nem o próprio visado no processo sabia que foi processado. “Não faço a mínima ideia, tenho estado completamente fora”, disse ao i Marco Baptista.

A preocupação de Rui Rio com as contas do PSD tem vindo a ganhar forma. No início de agosto, as distritais e as concelhias receberam um documento assinado pelo secretário-geral José Silvano em que lhes era anunciado que a sede nacional iria passar a reter parte das verbas das quotas dos militantes. Por norma, esses valores são distribuídos em 60% pelas concelhias, 30% para as distritais e 10% para a sede nacional. Mas Rui Rio quer cortar 50% nas transferências das distritais que tenham concelhias mais gastadoras. 

As regras têm sido mal acolhidas nas distritais. E o assunto deverá ser discutido, de forma acesa, no próximo Conselho Nacional do PSD, a 12 de setembro. Luís Rodrigues, conselheiro que foi candidato do partido à Câmara de Arraiolos, garante que vai puxar o assunto e queixa-se de não saber se haverá, ou não, penalizações à distrital de Évora, apesar de ter cumprido os limites orçamentais no seu concelho.

Se estas regras já estavam a causar mal-estar no partido, o recurso aos tribunais para imputar despesas das campanhas autárquicas aos candidatos mais gastadores prometem agudizar ainda mais o descontentamento com a direção de Rui Rio. Ainda assim, e ao que o i apurou, nem todos candidatos serão alvo de processos. “Nos casos em que se ultrapassou o orçamento em mil ou dois mil euros haverá compreensão”, garante fonte do PSD.