Descreve-se como uma rapariga humilde. Cresceu na Malveira e vem de um meio familiar sem grandes luxos. Chegou a admitir que, se fosse preciso, trabalhava nas barracas para poder meter comida na mesa. Na quarta-feira, o mundo da televisão foi apanhado de surpresa: Cristina Ferreira, uma das principais caras da TVI, vai sair da estação de Queluz de Baixo. Tudo o que conquistou até hoje ao seu esforço e dedicação se deve: é esta a opinião de muitos daqueles que trabalharam e conviveram com ela profissionalmente ao longo destes 16 anos de carreira na TVI.
A imprensa fala numa “transferência milionária” para a SIC. A estação de Carnaxide não fez ainda qualquer comentário sobre o assunto, mas a TVI já confirmou a saída da apresentadora: “Após 16 anos, ambas as partes entendem estar na altura de dar início a um novo rumo e a novos projetos empresariais e profissionais, pondo um ponto final neste caminho comum”, lê-se no comunicado.
O “Correio da Manhã” diz que Cristina Ferreira vai ganhar 80 mil euros por mês, mais 30 mil do que recebia na TVI. Esta será a maior transferência de sempre da televisão portuguesa – apenas se pode comparar à de Herman José em 2000, quando trocou a RTP pela SIC.
“A certa altura da minha vida, também tive necessidade de mudar, porque uma pessoa também precisa de se desafiar. Ora, a mudança da Cristina Ferreira pode correr muito bem ou muito mal, mas se não for agora, não pode ser depois – a Cristina está no limite da idade para se entregar a novos desafios. É uma mulher muito madura, mas o mercado é muito cruel, sobretudo para as mulheres “, explica ao i Herman José.
Carlos Coelho, uma das grandes referências portuguesas no domínio da construção e gestão de marcas, fala numa “transferência de futebol”. “Isto vai colocá-la num palco ainda maior que aquele em que tem estado até hoje. Trata-se quase como que de uma contratação no mundo do futebol. O Cristiano Ronaldo tem o seu próprio campeonato, assim como a Cristina, em todos os sentidos: em termos de comunicação, dos seguidores que tem nas redes sociais e do patamar que atingiu, que é, sem dúvida, respeitável”, diz ao i o publicitário.
Cristina Ferreira pode, segundo o mesmo, ser comparada à norte-americana Oprah Winfrey: a apresentadora é uma pessoa “consensual e equilibrada” e “soube sempre agir conforme o timing certo da sua vida profissional e pessoal”, explica o publicitário.
Pouco se sabe sobre os novos projetos de Cristina Ferreira. A imprensa avança que, além do programa da manhã, a apresentadora deverá ter ainda a seu cargo um formato semelhante ao que tem agora na TVI, onde conduz o “Apanha Se Puderes”, com o ator Pedro Teixeira, durante as tardes de segunda a sexta-feira.
Ontem à noite, a apresentadora fez uma publicação enigmática no Instagram: usando uma parte do seu livro “Sentir”, Cristina Ferreira explicou que não gosta” de demorar muito tempo a tomar decisões (…) Há pouco tempo, um primo dizia–me que aos 40 não se muda. Porque nos habituamos a uma vida que não é nossa quando podemos escrever a nossa própria história e emprestar-lhe vários capítulos?” No final, nem uma palavra sobre a alegada ida para a SIC.
Da Malveira para o pequeno ecrã Cristina Ferreira nunca escondeu as suas origens. “Tenho a certeza absoluta que foi a minha infância e o início da minha adolescência que ditaram a mulher que sou. Cresci no campo, em liberdade”, escreveu num texto para a revista “Sábado”. Mas a “menina da Malveira” quis crescer e aventurar-se na cidade, e rumou à universidade, em Lisboa. E os dotes para a televisão cedo se revelaram. Tinha apenas 25 anos quando se estreou na TVI como repórter no programa “Olá Portugal”. Além disso, apresentou programas como o “Big Brother”. A partir daí foi sempre a somar: desde 2004 que faz dupla com Manuel Luís Goucha, apresenta o programa da tarde da TVI há praticamente um ano e, nas noites de domingo, chegou a casa dos portugueses com programas como “Dança com as Estrelas” e “A Tua Cara Não me é Estranha”.
Alexandra Lencastre, que fez parte do júri do programa de música, elogia tanto a carreira profissional como o papel enquanto mãe solteira: “A Cristina marcou a diferença: pelo esforço, empenho, dedicação. Sempre foi ambiciosa e sempre quis fazer o melhor. Sempre foi muito, muito trabalhadora, e as vezes que trabalhei com ela foram para mim lições de que é possível conseguir o que se quer quando as pessoas têm a vontade e a disponibilidade toda”, disse a atriz ao i. “É disciplinada e muito rigorosa, e chegou a um patamar a que talvez ninguém esperasse que ela chegasse. Ultrapassou todas as expetativas. E além da brilhante carreira que tem, identifico-me muito com ela, pois somos duas mães-coragem, como imensas que há por este país fora. A mensagem que ela passa para o público é muito positiva”, termina.
Recorde-se que a apresentadora é mãe de Tiago, fruto da sua relação com António Casinhas. O relacionamento de ambos tornou-se algo polémico, mas Cristina sempre admitiu que este se trata do amor da sua vida. Separaram-se quando o filho era ainda bebé, mas nem isso a deitou abaixo. Assume que é quem é hoje em dia por tudo o que passou na sua infância e na sua adolescência. “Tenho a certeza absoluta que foi a minha infância e o início da minha adolescência que ditaram a mulher que sou. Cresci no campo, em liberdade. Passava os dias inteiros com os meus primos fora de casa, brincávamos, conversávamos, e acho que isso, e ter olhado para uma mãe e um pai que se respeitaram mutuamente, que trabalharam muito, cujo valor do trabalho me passaram, fez com que eu seja a mulher que sou. Era a miúda mais tímida que podem conhecer, filha única, isolada. Tinha a TV como companhia, via desde que acordava até que me deitava. Acho até que sei do que o público gosta por isso mesmo”, escreveu no texto de opinião para a “Sábado”.
Depois de uma vida humilde e sem luxos, Cristina Ferreira passará agora a ser a apresentadora mais bem paga do país, indo arrecadar um milhão de euros por ano, escreve o “Correio da Manhã”. Mas a apresentadora não vive só da televisão: com todos os negócios que criou à sua volta, ganhou a alcunha de “máquina de fazer dinheiro”.