Revolta. Almoço de “repúdio” pelo afastamento de Pipa Amorim

Revolta. Almoço de “repúdio” pelo afastamento de Pipa Amorim


Antecessor de Rovisco Duarte está na lista da comissão de honra. Pipa Amorim foi afastado depois de rejeitar “cabalas” contra militares e elogiar Vítor Ribeiro, ligado a Jaime Neves


O coronel Pipa Amorim foi afastado do Regimento de Comandos em Julho, uma decisão do Chefe de Estado-Maior do Exército (CEME), Rovisco Duarte, que provocou ondas de choque entre os militares, sobretudo entre os comandos e no próximo dia 8 de setembro terá o seu epílogo num almoço de homenagem. O homenageado terá sido afastado, primeiro, por ter dito que não aceitava “cabalas contra os militares”, em pleno processo judicial sobre o caso das mortes dos comandos. Depois, por ter feito também  um elogio, a título póstumo, a Vítor Ribeiro, o primeiro presidente da associação de comandos e um dos rostos envolvidos no 25 de Novembro ao lado de Jaime Neves, facto que irritou o general Rovisco Duarte, segundo o “Diário de Notícias”.

Segundo apurou o i junto de fontes militares, muitos comandos vão fazer um esforço para participar no almoço, que está a ser organizado pelo coronel Pedro Tinoco de Faria.

 Na comissão de honra da homenagem está o antecessor do atual CEME, Carlos Jerónimo, que se demitiu depois da polémica sobre as declarações do subdiretor do Colégio Militar, António Grilo, sobre os alunos homossexuais.

Mas as presenças confirmadas no almoço, em Lisboa, cruzam-se com o dossiê mais difícil para o exército: o assalto ao paiol de Tancos. Por exemplo,  o general Antunes Calçada também marcará presença, o mesmo que pediu para passar à reserva quando Rovisco Duarte anunciou a demissão de cinco chefias militares após a revelação do furto de material bélico em Tancos, em junho de 2017. Antunes Calçada entrou em rota de colisão com Rovisco Duarte.

“Um conjunto de camaradas, não ligados a qualquer associação militar, vai realizar um almoço de homenagem à frontalidade e coragem moral do Comandante do Regimento de Comandos, coronel comando Pipa Amorim, em repúdio pelo seu afastamento precipitado e sem justificação do Comando da Unidade que tem defendido com todas as suas forças”, defendeu o tenente-coronel na reserva, Pedro Tinoco de Faria na nota de anúncio do repasto.

Ao i, o responsável pela organização do almoço recusa que se trate de um movimento contra o CEME. “ Isto não é um almoço contra o general CEME”, tal como “não há aqui nenhuma revanche”, assegurou o coronel.

Pedro Tinoco Faria disse ao i que “é um almoço de amigos e de pessoas que respeitam o comando que o coronel Pipa Amorim fez no regimento de comandos”. E garante que é “um almoço apartidário, apolítico, entre camaradas; não são só militares”. Serão  também civis “que se identificam com a sua coragem moral”, declarou Pedro Tinoco de Faria, recusando que se trata de um encontro de revolta dos militares e comandos contra Rovisco Duarte. “Não é um almoço de associação de oficiais, nem de comandos, mas é um almoço de amizade a um comandante. Ponto”.

Em todo o caso, a homenagem resulta da decisão de afastamento de Pipa Amorim.

Um dos momentos mais crispados com o CEME terá sido quando fez um discurso  no regresso das tropas destacadas na República Centro-Africana e acabou a elogiar Vítor Ribeiro. “Permitam-me homenagear e prestar o meu público reconhecimento a este grande português, um dos últimos guerreiros do império, que como militar, adicionalmente à sua promoção por distinção, foi condecorado com as medalhas de Valor Militar e da Cruz de Guerra e como civil foi agraciado, na véspera do seu falecimento, ainda consciente, no leito onde agonizava, com a Ordem do Infante D. Henrique, pelo Presidente da República”, declarou. O “Diário de Notícias” noticiou que Pipa Amorim mostrou o discurso ao CEME e Rovisco Duarte lhe terá pedido  para retirar as referências a Vítor Ribeiro, mas o primeiro não acedeu.

  Oficialmente, o exército tem dito que a saída de Pipa Amorim não foi uma exoneração, mas uma medida de gestão de recursos. Independentemente dos motivos, Tinoco de Faria conclui: “Vamos homenagear a exigência de comando, que é a defesa dos seus homens, pondo em risco, eventualmente, o seu lugar”. E  Pipa Amorim representa “uma essência de comando”, como “há poucos hoje em dia em Portugal”, disse.