A Europa agora é inimiga de Trump


Um bronco é um bronco, mas este bronco é o líder da maior potência mundial e não está a fazer de palhaço no circo


Os ingleses usam uma expressão interessante para descrever a ligação que mantêm com os Estados Unidos, a sua antiga colónia – a “special relationship”. A partir do momento em que foi firmada (e o momento mais significativo terá sido durante a II Guerra, com Franklin D. Roosevelt e Winston Churchill como protagonistas) nunca mais ninguém, de um lado ou de outro, a questionou.

Trump está a conseguir rebentar o que foi até hoje a relação entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha: insulta Theresa May e o seu plano para o Brexit, elogia o seu adversário interno Boris Johnson, chega atrasado a um encontro com a Rainha, ignora-a e não lhe dá passagem, senta-se na cadeira de Churchill em Chartwell. Um bronco é um bronco, mas este bronco é o líder da maior potência mundial e não está a fazer de palhaço no circo.

Tem uma estratégia e não é só a “special relationship” com o Reino Unido que ele quer afundar. É a “special relationship” que os Estados Unidos sempre tiveram com a União Europeia e com a NATO. Às declarações bombásticas sobre a possibilidade de saída da NATO em vésperas da cimeira, Trump veio ontem declarar a União Europeia como sua “inimiga” em véspera de cimeira com Vladimir Putin.

As relações estão tão esquisitas que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, veio ontem escrever no Twitter que EUA e União Europeia são “os melhores amigos” e que “quem diz que são inimigos está a espalhar ‘fake news’”. Mas a mudança é real. Provavelmente, mais depressa Trump arranja uma forma de ter uma boa relação com Putin do que com a União Europeia.

Se o que restava da ideia de Europa está a começar a ser destruída pela quinta coluna – os governos anti-imigrantes e anti-democráticos emergentes – o que dizer da defesa europeia desde sempre entregue aos Estados Unidos? Há uma revolução geopolítica em curso, Trump já disse que se vai recandidatar e o seu objetivo é, como disse esta semana Carl Bernstein, um dos homens do caso Watergate, implodir 250 anos de história.