Na passada semana o “Observador” publicou um artigo de opinião de Pedro Barros Ferreira sobre a situação do rugby nacional onde vocifera toda uma filosofia retrógrada e elitista sobre a modalidade, em particular sobre os malefícios das consequências dos incidentes de um jogo da meia final do campeonato principal sénior que opôs a Agronomia ao Direito.
Diz o “antigo internacional”, é assim que se apresenta ao público – embora o tenha omitido do currículo que apresentou aos eleitores da freguesia a que se candidatou nas últimas eleições autárquicas não sem se esquecer de divulgar que era adepto do Sporting Clube de Portugal e da Seleção Nacional (presumo que de futebol) – que a “saloiice portuguesa” na construção de complexos desportivos levou a que provincianos, sem massa crítica e conhecimento da modalidade, criassem variados clubes de rugby e, imagine-se, reclamassem assento nas Assembleias Gerais da Federação Portuguesa de Rugby.
Tal despeito, sugere o omitido antigo internacional, não promove a separação entre “o trigo e o joio” inquinando a tradição portuguesa de uma modalidade que crescia à base de relações familiares. Para justificar o “trigo” dá, erradamente, o exemplo de Inglaterra e das 90 mil pessoas que assistem aos “Reds and Whites” (alcunha da seleção inglesa) em Twickenham porque “jogaram o jogo”.
Nada mais falso. E é aqui que reside o erro de todo o pensamento do amanuense elitista correndo o risco de já lhe ter dado uma importância que ele manifestamente não tem. Em Inglaterra a cultura desportiva faz parte dos curricula escolares, tal como fazem as artes cénicas, as artes musicais, as tecnologias e a ciência. Aos jovens britânicos é incutida desde cedo a importância do desporto e são as próprias escolas que promovem isso mesmo. Aliás, os campeonatos universitários de rugby em Inglaterra são acompanhados por milhares de pessoas, têm cobertura televisiva nacional e até internacional, como é caso da Varsity Cup.
Em Inglaterra o rugby, como muitos outros desportos, é um desporto de massas. Não de elites. É praticado por ricos, pobres e membros da classe-média. Tal como qualquer desporto deve ser. Mas não é apenas em Inglaterra. É assim em França, onde jogam tantos lusodescendentes de famílias humildes e que se viram forçadas a emigrar à procura de uma vida melhor, na Austrália, na África do Sul e em tantas outras neo-potências do rugby como são caso a Geórgia, a Roménia, a Itália ou a Argentina, estas últimas com créditos já firmados.
O sucesso do desporto, de qualquer desporto, não se pode confinar a um núcleo fechado de filhos, primos e sobrinhos de ex-jogadores. Se o rugby pretende ser reconhecido, contar com mais patrocinadores, com mais apoios do Estado e com melhores condições tem de se massificar. Tem de chegar a todos. “Saloios” e “Urbanos”. Eu sei, por que sou pai de dois jogadores, que para um ex-atleta, mesmo que internacional por omissão, custa muito ver miúdos sem tradição familiar na modalidade jogarem melhor, empenharem-se mais e amarem uma modalidade que, até há uns bons anos, lhes estava “vedada”. Sei bem o que se sente uma determinada elite quando pais, variadíssimos pais de norte a sul do país, dedicam o seu tempo e os seus recursos nos convívios juvenis, na organização das equipas, nas suas deslocações ao estrangeiro para ganharem mundo e conhecerem outras realidades, na integração de centenas de miúdos e, em tantos casos, no seu acompanhamento fora do campo e dos clubes.
Olhar com elitismo para uma modalidade desportiva é reservá-la ao insucesso. O rugby, se quer ser grande em Portugal, e tem condições para isso, não é exceção. Ver a felicidade dos miúdos da Galiza, quase todos eles pobres, ganharem um jogo ao Belenenses, à Agronomia ou ao CDUL é a melhor expressão do sucesso e do rumo que uma modalidade pode ter. Ver o Guimarães, o GDA, os Tubarões da Costa, o Elvas e tantos outros a marcar presença em todos os torneios provavelmente sem apoios para tal é sinónimo de que nos devemos unir, todos, sem complexos elitistas em prol do crescimento da modalidade. Já para não referir o projeto “Rugby com partilha” junto de reclusos e o rugby adaptado para jovens com necessidades especiais.
O rugby está a democratizar-se. Há muito por fazer, há muito que já devia ter sido feito. O país não é Lisboa e ainda bem que assim o é. Pensar o contrário e querer o contrário recorrendo a argumentos falsos não é um bom contributo à modalidade nem tão pouco uma demonstração de respeito para com centenas de jovens atletas, pais, treinadores e dirigentes deste país. O rugby precisa muito dos “saloios”, porque se depender apenas dos “urbanos” já percebemos onde vai parar.
Deputado do PSD. Docente universitário
Escreve à segunda-feira